Em conferência de imprensa, o secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro frisou que esta acção foi "o maior baque" que o Comando Vermelho já teve, desde a sua fundação e que "nunca houve perda (para o grupo) tão grande de drogas, armas e lideranças".

Felipe Curi detalhou que aos 58 mortos contabilizados na terça-feira se somam 61 corpos "achados hoje", referindo que a polícia optou por fazer uma manobra tática que foi tirar os criminosos das edificações e levá-los para a área de mata.

Sobre os números da operação, acrescentou que foram apreendidos 91 fuzis, 26 pistolas e um revólver, além de milhares de munições e toneladas de drogas, que ainda estão a ser contabilizadas.

Já hoje, também em conferência de imprensa, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro frisou que "tirando a vida dos polícias, o resto da operação foi um sucesso".

Em relação aos corpos retirados na área de mata (que a Polícia diz serem 61 enquanto moradores afirmam ter retirado 74 corpos), Cláudio Castro considerou que todos eram criminosos.

"Não acredito que havia alguém passeando em área de mata em um dia de operação", disse, referindo-se à operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro.

Perante as críticas recebidas por parte da esquerda e de alguns ministros do Governo brasileiro, o governador afirmou que não entrará numa "batalha política" nem numa "polarização".

Os dados da Polícia são menores do que os apresentados pela Defensoria Pública do Rio de Janeiro (o equivalente brasileiro ao sistema português de apoio judiciário), que referiu 132 pessoas mortas, depois de moradores dos bairros afectados terem estado à procura de familiares desaparecidos e começado a reunir e expor dezenas de corpos numa praça.

Funcionários deste organismo acompanham desde a madrugada de hoje as buscas no Complexo da Penha, um dos focos da operação, e estão presentes nos institutos de medicina legal responsáveis pela identificação dos cadáveres, segundo um comunicado.

Além disso, a Defensoria Pública afirmou ter recolhido testemunhos de moradores e familiares das vítimas para "contribuir para a necessária resposta institucional perante uma violência estatal nunca antes vista".

Cerca de 2.500 polícias realizam, na terça-feira, esta megaoperação nas comunidades que compõem os complexos de favelas da Penha e do Alemão, com o objetivo de prender os líderes da organização.

Membros da organização criminosa utilizaram várias armas de fogo de alto calibre e até 'drones' com bombas para enfrentar a polícia e bloquearam, na terça-feira, várias e importantes vias no Rio de Janeiro, paralisando parcialmente a cidade.

Organizações não-governamentais, Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) e hoje, o secretário-geral da ONU, António Guterres, mostraram preocupação com o elevado número de vítimas.

O ministro da Justiça do Brasil, Ricardo Lewandowski, afirmou que o chefe de Estado, Lula da Silva, ficou "estarrecido" com o número de mortos da megaoperação e que "se mostrou surpreso que uma operação desta envergadura fosse desencadeada sem conhecimento do Governo federal, sem nenhuma possibilidade de o Governo federal participar de alguma forma".

O Comando Vermelho dedica-se principalmente ao tráfico de drogas e de armas, e o seu centro de operações situa-se no estado do Rio de Janeiro, onde controla algumas comunidades da cidade, embora tenha presença em grande parte do país, especialmente na região da Amazónia.

A organização nasceu na década de 1980, quando a ditadura militar concentrou nas mesmas prisões delinquentes comuns e membros de grupos de guerrilha com formação política e até militar.