A Venezuela tem há anos uma parceria estratégica com a China assente fortemente nas exportações de crude e outros recursos naturais como diversos minerais, incluindo, segundo alguns media, terras raras, ouro ou ainda madeira e pesca que Pequim considera vitais para a sua economia e pelos quais está, como se vê, disponível para afunilar ainda mais as suas já periclitantes relações com os EUA.
E essa ligação, que Pequim considera forte e duradoura, garantia ao Governo de Caracas que, mais cedo ou mais tarde, o gigante asiático lhe faria publicamente uma declaração de apoio inequívoca, o que acabou agora por suceder, dando alento para uma resposta mais musculada de Nicolas Maduro às ameaças norte-americanas.
O regime venezuelano respondeu ao bloqueio anunciado pelos EUA ao petróleo que exporta com escoltas militares aos petroleiros que zarpam dos seus portos, o que aproxima ainda mais os dois países separados pelo Mar das Caraíbas de um conflito aberto.
Este gesto de desafio à maior potência militar do mundo, que enviou (ver links em baixo) uma "armada invencível" para o Mar das Caraíbas, liderada pelo maior porta-aviões do mundo, o USS Gerald R. Ford, está claramente respaldado na aguardada resposta de Pequim a um pedido de apoio sustentado na parceria estratégica que une os dois países e que inclui a vertente militar.
Essa declaração foi produzida por Wang Yi, o ministro dos Negócios Estrangeiros da China, onde não só é garantido o apoio a Caracas como é afirmado de forma clara que Pequim não aceita "intimidações unilaterais" norte-americanas ao seu aliado sul-americano.
"A Venezuela tem o direito de desenvolver de forma independente uma cooperação mutuamente benéfica com outros países", declarou o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês num resumo de uma conversa telefónica entre os chefes da diplomacia de Pequim e de Caracas citada pela Lusa.
Nessa conversa, o chefe da diplomacia venezuelana, Yvan Gil, informou Wang Yi sobre a situação actual na Venezuela, "enfatizando que o Governo e o povo venezuelanos defenderão firmemente a soberania e a independência do país".
Pelo lado chinês, Wang Yi disse a Yvan Gil que a China e a Venezuela "são parceiros estratégicos" e que "a confiança e o apoio mútuos são tradições nas relações" entre Pequim e Caracas.
"A China opõe-se a todos os actos de intimidação unilateral e apoia todos os países na salvaguarda da soberania e dignidade nacional", afirmou Wang Yi citado pela nota resumo do seu ministério.
Recorde-se que os EUA mantém um bloqueio a Cuba há décadas, que é um elemento maior para as dificuldades económicas de Havana, sendo que a esmagadora maioria dos países crítica fortemente essa medida unilateral dos EUA como o demonstram as sucessivas votações na ONU nesse sentido.
E o que está a acontecer na Venezuela, onde os EUA se aproximam rapidamente de um ataque a Caracas por terra, como Donald Trump já disse estar para breve, depois de dois meses e meio de ataques a embarcações que zarpam da costa venezuelana alegando tratar-se, mas nunca provado, de traficantes de drogas para os Estados Unidos também começa a ser criticado internacionalmente.
Em Moscovo, com quem a Venezuela tem também uma parceria estratégica consolidada, mas sem que até agora tenha sido feita uma declaração inequívoca de apoio face aos ataques dos EUA, ainda não foi anunciado um apoio firme a Caracas embora o Kremlin já tenha criticado a opção militar de Washington.
Já o Irão, outro aliado de Caracas, considerou num comunicado que o bloqueio norte-americano à Venezuela é "um exemplo manifesto de pirataria de Estado e de banditismo armado no mar".
"As ameaças, os bloqueios económicos e o recurso à força contra um Estado independente, membro das Nações Unidas, constituem uma violação evidente dos princípios fundamentais da Carta das Nações Unidas", afirmou Teerão num documento citado pela Lusa.
Com as costas cada vez mais quentes, embora conscientes de que o poderio naval dos EUA, cerca de uma dezena de navios de guerra, incluindo submarinos, além das bases de Porto Rico e Trinidad e Tobago, onde estão milhares de soldados e dezenas de aviões de guerra, dificilmente poderia ser anulado em caso de confronto aberto, o regime de Maduro procura mostrar músculo contra as "ameaças arrogantes" de Donald Trump.
Em Caracas, o ministro da Defesa, Vladimir Padrino, disse que o Exército venezuelano não se deixa intimidar pelas "ameaças arrogantes" dos "gringos", acrescentando que o Governo norte-americano e o seu Presidente devem saber que "as suas ameaças grosseiras e arrogantes não intimidam" este país porque "a dignidade da Pátria não se negoceia, nem se verga perante ninguém".
Apesar de Donald Trump já ter anunciado há mais de 24 horas o bloqueio naval á entrada e saída de petroleiros da Venezuela, depois de ter assinado um decreto onde considera o país um "Estado terrorista" no âmbito da preparação do ataque terrestre que diz estar para breve, a empresa estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA) garante que as exportações de petróleo bruto e derivados "decorrem normalmente".
Num comunicado, a PDVSA indicou que os petroleiros ligados às suas operações "continuam a navegar com total segurança, apoio técnico e garantias operacionais, no legítimo exercício dos direitos à livre navegação e ao livre comércio, amplamente reconhecidos e protegidos pelo Direito Internacional".
Segundo a empresa pública, a indústria petrolífera da Venezuela tem sido alvo de sanções, "sabotagens", "ataques cibernéticos" e, mais recentemente, "actos de pirataria internacional" para o "roubo do petróleo", numa referência ao apresamento pelos Estados Unidos, a 10 de dezembro, de um navio que transportava crude venezuelano.
"Nenhuma destas agressões conseguiu minar a capacidade operacional ou a determinação da força laboral da PDVSA, que conta com o apoio unido e total do povo venezuelano", sublinhou a empresa no comunicado citado pela Lusa.











