Há semanas que se esperavam os primeiros ataques sobre as posições dos rebeldes Houthis, no Iémen, como resposta aos misseis e drones lançados por estes "proxys" do Irão contra os navios que entram no Mar Vermelho e que obrigaram já algumas das maiores companhias navais do mundo, incluindo os operadores dos superpetroleiros que fazem chegar o crude do Médio Oriente ao ocidente, a contornar o Cabo da Boa Esperança, no sul do continente africano, impondo cerca de mais 20 dias de viagem para as embarcações que rumam do Oriente para a Europa e EUA.

Esta é uma das situações que os analistas mantinham em aberto como possibilidade de escalda do conflito de Gaza para o resto da região do Médio Oriente e, como se previa, o seu efeito está já a fazer-se sentir nos mercados petrolíferos, que estão hoje a reagir em alta, por exemplo, no Brent, de Londres, e que serve de referência principal para as ramas exportadas por Angola, e que estava, perto das 10:00 desta sexta-feira a valer 79,31 USD, mais 2,34 por cento que no fecho de quinta-feira.

O impacto deste ataque ainda estava, a meio da manha, no patamar das reacções verbais, com os Houthis, que dominam mais de 50% do Iémen ocidental, na geografia que abrange o Estreito de Bab el-Mandabm entre o Mar Vermelho e o Golfo de Aden (Mar Arábico- Oceano Índico) a jurarem vingança, que será sempre mais e mais intensos ataques às embarcações ao alcance dos seus drones e misseis.

Mas também o resto do mundo parece ter dúvidas sobre a validade e utilidade destes ataques, que acontecem quando Israel está a ser julgado pelo Tribunal Internacional de Justiça por genocídio em Gaza, porque a Arábia Saudita, um dos países mais interessados na estabilidade regional devido à importância desta para o seu sector exportador de crude, onde surge como o maior player mundial, já veio a público criticar esta iniciativa dos "aliados", dominada por EUA e Reino Unido, e em Washington surgiu igualmente um discurso de contenção ao sublinhar a sua adequação e proporcionalidade.

Icónico Tomahawk volta a atacar no Médio Oriente

No conjunto dos mais de 50 alvos atacados pelos navios, submarinos e aviões de guerra norte-americanos e britânicos, com recurso, essencialmente, a misseis de cruzeiro Tomahawk, que ficaram célebres na invasão norte-americana do Iraque e nos ataques da NATO à Servia, na d+ecada de 1990, estiverem aquartelamentos das milícias Houthis, e locais e sistemas de lançamento de misseis e drones situados nas proximidades das costa do Mar Vermelho e do Estreito de Bab el-Mandab (ver foto e links em baixo nesta página).

Recorde-se que a justificação Houthi para os diversos ataques a embarcações nesta região marítima, que separa a Península Arábica da costa africana na Eritreia, Djibuti, Sudão e Somália, é a solidariedade para com a Palestina e contra Israel, assumindo estes que só têm na mira navios com ligação comercial ou de propriedade israelita, acusando Washington e Londres de estarem claramente a defender a continuação do genocídio perpetrado e em curso por Israel na Faixa de Gaza.

Entretanto, a Rússia pediu uma reunião de urgência do Conselho de Segurança das Nações Unidas para debater estes ataques sem validação internacional - vários países da região, incluindo os estratégicos Egipto, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, ficaram de fora da coligação - e Moscovo condenou igualmente a iniciativa de forma directa, alegando que estes bombardeamentos no Iémen podem levar a uma perigosa escalada no conflito.

A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, reagiu a estes ataques considerando que não foram tidas em conta as possibilidades de conduzirem a uma escalada das tensões no Médio Oriente e os seus autores "ignoraram totalmente a lei internacional", destacando a questão da violação da soberania do Iémen.

Moscovo destaca ainda que os EUA, com este passo, estão a obstaculizar, de forma declarada, os esforços internacionais em curso para reduzir e delimitar a intensidade do conflito em Gaza e evitar o seu alastramento para o grande Médio Oriente.

Por sua vez, em Washington, o Presidente Joe Biden afirmou que estas acções sobre os Houthis foram previamente negociadas e analisadas e visaram deixar claro que os EUA e os seus aliados "não vão tolerar a continuidade dos ataques aos navios que cruzam o Mar Vermelho".

Irão ataca do outro lado da Península Arábica

Entretanto, o Irão que é declarada e assumidamente apoiante do Hezbollah e do Hamas na Palestina, e não desmente que apoia igualmente os Houthis, do Iémen, veio agora assumir um ataque a um navio petroleiro no Golfo de Oman, que separa o Golfo Pérsico do Oceano Índico.

O petroleiro de propriedade grega e pavilhão das Ilhas Marshall, o St NIkolas, foi, na quinta-feira, tomado de assalto por forças militares iranianas porque, justificou Teerão, como retaliação, e sob decisão judicial, por os Estados Unidos terem, há um ano, tomado pela mesma via um carregamento de crude iraniano neste mesmo navio mas com outro nome, então o Suez Rajan.

Apesar de o Irão ter oficialmente assumido esta tomada pela força do ST Nikolas, não é a primeira vez que embarcações a navegar nesta região do Índico sofrem ataques, até porque também ali os Houthis têm reivindicado algumas acções sobre navios de propriedade israelita ou com destino ou origem em Israel.