Os EUA vivem um tempo histórico nunca visto em 231 anos de eleições democráticas, com o Presidente a ser alvo de um processo de destituição na recta final do seu mandato, que só vai ser votado depois de sair da Casa Branca, com o Capitólio, local da cerimónia de transição de poder, sob fortes medidas de segurança porque a "tribo" radical de apoiantes de Donald Trump, que assaltou o mais importante e simbólico edifício da democracia norte-americana, no passado dia 06, está a lançar ameaças veladas de que pode perturbar o momento em que a dupla democrata Biden/Harris assume a Presidência do país.

Depois das imagens de milhares de radicais apoiantes de Donald Trump, a sua "tribo" de combate, que, por ele incitada, invadiu o Capitólio quando os congressistas votavam a sua derrota eleitoral definitiva, a correrem o mundo, vieram depois as imagens de centenas de militares da Guarda Nacional a dormirem no interior do edifício.

Agora, a 48 horas da cerimónia de transição do poder, onde Donald Trump já disse que não vai estar, juntando mais um elemento de importância histórica à sua passagem pela Casa Branca, sendo igualmente o único Presidente a ser alvo de impeachment por duas vezes num único mandato, milhares de tropas estão posicionados nas imediações do Capitólio para assegurar que a "tribo" radical de Trump se mantém à distância, sendo que o mesmo sucede nos capitólios de todos os 50 estados dos EUA com idênticos propósitos.

Isto, quando já se sabe que a destituição de Trump vai ser votada apenas depois de ter deixado o poder, sendo que essa votação, a ser conseguida com sucesso pelos democratas - depois de aprovada na câmara dos Representantes, falta conseguir dois terços no Senado -, implica que o ainda Presidente fique impedido de se recandidatar em 2024, que é o grande efeito pretendido com este processo.

Com o assumir do controlo do Senado pelos democratas, depois da vitória, na Geórgia, dos candidatos democratas, Raphael Warnock, o primeiro negro ali eleito para o cargo, e Jon Ossoff, o mais novo de sempre a chegar a esta câmara do Congresso, e depois de 10 congressistas republicanos já terem dito que vão votar pela destituição de Trump, faltam apenas sete votos para garantir esse objectivo, o que, parecendo pouco, é muito devido às posições já tornadas públicas por quase todos eles.

Com o Congresso dividido a meio, com 50 senadores para cada lado, o Senado fica a depender da vice-Presidente Kamala Harris, embora isso não chegue para afastar Trump, mas é uma segurança de que Joe Biden não terá obstáculos para o exercício do seu mandato logo após 20 de Janeiro.

Para fundamentar este processo de impeachment, os democratas sublinham que Donald Trump incitou a sua turba de apoiantes radicais a invadirem o Capitólio, num discurso realizado nas imediações da Casa Branca, a escassos quilómetros dali, o que resultou na ocupação do edifício e na morte de cinco pessoas, incluindo um polícia.

Depois, Trump veio dizer publicamente que condenava a violência, mas os analistas leram estas declarações como uma tentativa dele para se livrar das acusações mais graves no âmbito do impeachment, que pode ter ainda efeitos legais sobre si logo que deixe o poder.

Mas está ainda sob atenção a possibilidade de o ainda Presidente aproveitar estes derradeiros momentos para assinar ordens presidenciais onde se desculpa a si mesmo e aos seus colaboradores mais próximos, o que seria mais uma bizarria histórica do seu mandato mas que alguns analistas admitem como sendo constitucionalmente possível.