Aos 63 anos, e depois de um longo percurso político sempre na linha da frente da estrutura de poder do Irão, Ibrahim Raisi, eleito em 2021 para Presidente do país, era o sucessor natural do detentor efectivo do poder no país, o Líder Supremo, aiatola Ali Khamenei.

E agora volta tudo à casa de partida, porque, aos 85 anos, e com problemas de saúde conhecidos, o aiatola Khamenei terá de ser substituído em breve, tendo este acidente trágico vindo exigir uma aceleração inesperada do processo de sucessão.

Estando no distante Médio Oriente, com fronteira já na Ásia Oriental, o Irão é, ainda assim, um dos países que, pela sua influência crescente no Médio Oriente, exponenciada com o actual conflito em Gaza e a recente troca de ataques com Israel, mais mexe com factores relevantes para a economia mundial e a estabilidade global.

E é por isso que o despenhamento do Bell 412, um helicóptero de fabrico norte-americano, com mais de quatro décadas, numa região montanhosa do nordeste do país, está a preencher, há horas a fio, os principais espaços noticiosos dos grandes media internacionais.

No presente, como o aiatola Khamenei tinha anunciado ainda na tarde de Domingo, quando ainda estava por encontrar o local do acidente mas já se sabia que tinha acontecido, e que a probabilidade de haver sobreviventes era escassa, "não haverá disrupções no Governo" iraniano.

O poder que é do Presidente, importante no capítulo executivo mas secundário na orientação estratégica da política iraniana, passa agora para o vice-Presidente Mohammad Mokhber, de 69 anos, estando obrigado a realizar eleições em 50 dias, não havendo nada, excepto a vomntade do Líder Supremo, que o impeça de procurar legitimar o cargo através das eleições obrigatórias.

E estas eleições são importante, não apenas para observar se o novo Presidente é da linha dura, como Raisi, ou moderado, como o seu antecessor, Hassan Rouhani, sendo que, ao contrário do que é comummente veiculado pelos media ocidentais, especialmente os norte-americanos, o Irão é uma vibrante democracia até ao cargo de Presidente, embora seja uma teocracia com laivos autoritária na cúpula do poder.

Isto, porque se o vencedor for um moderado, estar-lhe-á "vedado" o acesso à sucessão de Ali Khamenei, que está no poder Supremo desde 1989 e antes, desde 1981, enquanto Presidente do país, o que poderá gerar uma tensão interna que alguns analistas admitem que possa resvalar para a já de si tensa situação geoestratégica no Médio Oriente.

E se tal vier a suceder, até porque isso mesmo já está a acontecer, embora não existam quaisquer dados que permitam outra razão que não o mau clima no local do acidente, suceder-se-á uma convulsão nos mercados petrolíferos, porque o Irão não tema apenas um conflito patente há décadas com Israel, é o controlo remoto de forças importantes na região, como o Hezbollah, no sul do Líbano, os Houthis, no Iémen, e as dezenas de grupos xiitas no Iraque e na Síria.

Para já não há quaisquer dados que permitam perceber problemas na região em resultado deste acidente, embora isso tenha sido ponderado durante horas antes da descoberta do helicóptero acidentado e se foram prolongando as hipóteses para justificar a queda.

No entanto, estando já descartada a questão de uma atentado, possibilidade alimentada pelo histórico, onde emergem, entre outros, assassinatos múltiplos, o últimos dos quais o comandante da Guarda Revolucionária, general Qassem Soleimani, em 2020, pelos EUA, ou dezenas de generais e cientistas iranianos por Israel, há uma questão que pode ser o elefante na sala.

O helicóptero em que viajavam Raisi e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Hossein Amirabdollahian, ou o governador da iraniana província do Azerbaijão Oriental, entre os nove ocupantes mortos, era um Bell 412, Made in USA, com décadas de uso.

E se um aparelho desta natureza, ao serviço da Presidência de uma potência militar como o Irão, com mais de 45 anos, não é normal, mais melindrosa é a situação por se saber que a sua manutenção estava limitada pelas sanções de Washington ao Irão, que incluem a importação de peças para o sector da aeronáutica e aviação, embora alguns analistas sublinhem que o fornecimento por vias terciárias estaria garantido.

Mas a questão é que se o futuro poder executivo surgir da linha dura do poder teocrático de Teerão, este tema pode servir de rastilho para alimentar o atrito com os Estados Unidos e, principalmente, com o seu grande aliado na região, Israel.

As equipas de socorro levaram mais de 10 horas para encontrar o helicóptero, um Bell 412, de fabrico norte-americano, onde Raisi seguia a bordo com o seu chefe da diplomacia, Hossein Amirabdollahian, e entre outros, o governador da província do Azebaijão oriental.

Ibrahim Raisi estava a dirigir-se à cidade nordestina de Tabriz depois de um encontro com o Presidente do Azerbaijão, Presidente Ilham Aliyev, no Sábado, na região fronteiriça daquele país.

Face a esta tragédia, que, segundo fontes oficiais citadas pela Al Jazeera, foi resultado do mau tempo na região montanhosa fronteiriça entre o Irão e o Azerbaijão, é o vice-Presidente Mohammad Mokhber que assume o poder.

E segundo a Constituição iraniana, haverá eleições dentro de 50 dias, nas quais será escolhido o novo Presidente e o novo vice-Presidente.

A maior parte dos países da região, incluindo o antigo "inimigo", com quem as relações diplomáticas foram reatadas por intermediação da Rússia e da China, a Arábia Saudita, os EAU, entre outros ofereceram, além das condolências, toda a ajuda que fosse considerada necessária.

Nos EUA, segundo a Reuters, na Casa Branca, o Presidente Joe Biden esteve reunido com a sua equipa principal para acompanhar a situação no Irão.

Em Israel, a Al Jazeera, a partir da Jordânia, porque esta TV foi expulsa pelo Estado israelita, avançou que o gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyhau esteve igualmente reunido de urgência.