Hoje e quarta-feira, dois magistrados do Tribunal Superior [High Court] vão rever a decisão anterior, contrária ao recurso e tomada por um único juiz a 06 de Junho de 2023, e deliberar sobre se Julian Assange pode recorrer. Na altura, a wikileaks reagiu, em comunicado, dizendo que este era "um dia negro para a liberdade de imprensa e para a democracia britânica".

O jornalista australiano de 53 anos é acusado pelas autoridades norte-americanas de ter publicado mais de 700 mil documentos confidenciais sobre as actividades militares e diplomáticas dos EUA, nomeadamente no Iraque e no Afeganistão, a partir de 2010. Um dos casos mais conhecidos foi um vídeo onde se pode ver um grupo de jornalistas iraquianos, incluindo da Reuters, indefesos, a ser impiedosamente abatidos por um helicóptero, mas que as autoridades norte-americanas tinham anteriormente justificado com o "facto" de o grupo estar armado.

Sem capacidade para deter Julian Assange pela divulgação dos ficheiros de Manning, a Justiça norte-americana e o Governo norte-americano criou, com a Suécia, uma frente contra o programador e divulgador na internet de material comprometedor, baseada na alegada violação de uma jovem sueca, que o próprio sempre negou e sobre cujo crime sempre houve sérias dúvidas quanto à sua veracidade, mas que lhe valeu um mandato de captura internacional. Detido pela polícia britânica em 2019, depois de sete anos refugiado na embaixada do Equador em Londres para evitar a extradição para a Suécia, está encarcerado há cinco anos na prisão de alta segurança de Belmarsh, no leste de Londres.

O Governo britânico aprovou a extradição em Junho de 2022, mas Julian Assange recorreu.

Além de uma sentença longa, organizações como a Repórteres Sem Fronteiras (RSF), a Amnistia Internacional e a ONU manifestaram preocupações com as condições em que Assange poderá ficar detido nos EUA devido ao seu estado de saúde, classificado como frágil.

Na semana passada, o parlamento australiano aprovou uma moção que apela ao fim do processo para que Assange possa regressar ao seu país de origem.

O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, tem feito diligências junto das autoridades norte-americanas para que o caso seja encerrado, levando Stella Assange, advogada e mulher do activista, a defender uma "solução política" para o caso.

Assange sempre afirmou que a verdadeira intenção das autoridades suecas era proceder à sua extradição para os EUA, onde desde 2018 se sabe que está secretamente acusado de ter divulgado ilegalmente material secreto e comprometedor da segurança nacional, embora, formalmente, não exista nenhum processo a correr. E na Suécia, as acusações formais já foram retiradas.