Ao apresentar, numa Cimeira em Malabo, o relatório de progresso sobre o tema da UA para 2025, "Justiça para os africanos e afrodescendentes através de reparações", Mahama, "Campeão da União Africana para as Reparações", acrescentou que a "acção colectiva por meio da UA e de outros organismos regionais, fortalecerá as negociações, garantindo exigências unificadas.""
Consequentemente, em busca de uma posição comum sobre a reparação, sob o tema "Parceria Transcontinental em Busca de Justiça Reparatória para Africanos e Afrodescendentes por Meio de Reparações", a II Cimeira África-CARICOM (Comunidade do Caribe), realizada no domingo passado, lançou as bases para um novo e exemplar modelo de cooperação política, económica e social Sul-Sul.
Em Addis-Abeba, nomeadamente na sala Nelson Mandela da pujante sede da União Africana, líderes do continente e do Caribe reconhecerem que a integração económica e política é o caminho para o progresso das duas regiões, assim como para unir África à sua Diáspora histórica.
A Reunião dos dois blocos, que representam 1/5 da população mundial, deu seguimento às decisões tomadas, em Setembro de 2021, na primeira Cimeira dos grupos, realizada online por causa da pandemia da covid-19.
A Cimeira de domingo, lê-se no editorial do Tribune Echos, do Tchad, "não é apenas uma reunião diplomática: Simboliza uma busca colectiva por justiça, um apelo à memória e uma promessa de construirmos juntos um futuro, onde feridas do passado não passarão de lições para as gerações futuras."
Uma Cimeira concretizada para lutar em conjunto contra as injustiças históricas criadas pela escravatura, "grande cicatriz da história da Humanidade", de acordo com filósofo moçambicano José Castiano.
E igualmente para reforçar a parceria entre os dois grupos, num momento em que se reconfiguram novos eixos de poder e uma nova ordem mundial, com o mundo unipolar a dar os últimos suspiros.
Realizada dois meses depois do Encontro de Malabo e um da 5ª edição da Conferência da Diáspora África (DACON), de Nairobi (Quénia), a histórica Cimeira de Addis-Abeba foi convocada para reforçar as parcerias políticas, facilitar as trocas entre os blocos e concretizar as ambições partilhadas por um desenvolvimento sustentado e inclusivo entre os países africanos e os diaspóricos do Caribe.
Neste contexto, abandonando, e bem, o "nunca exigiremos reparações", dito em Julho de 2024, João Lourenço, Chefe de Estado angolano, nas vestes de presidente da UA, defendeu que a Cimeira abre perspectivas para "reforçar a nossa luta pela justiça reparadora a nível global". E adoptar uma estratégia capaz de transformar "a dor e o sofrimento do passado colonial" numa força geradora de progresso e desenvolvimento.
O Encontro serviu também para assinalar o 7 de Setembro, Dia da Unidade África-CARICOM, e criar as condições para a efectivação do Memorando de Entendimento (MoU) União Africana-CARICOM (2021) sobre o reforço e promoção dos laços entre as duas regiões.
Os dois blocos defenderam ligações aéreas entre África e o Caribe, comércio, parcerias culturais e científicas, bem como mobilidade juvenil e cooperação no domínio da saúde.
Na declaração final, os Chefes de Estado e de Governo de África e da Comunidade do Caribe manifestaram-se também pela promoção do património cultural dos afrodescendentes e questões ligadas à dignidade dos povos africanos e do Caribe, para além de temas como a segurança mundial, transição energética e desenvolvimento sustentável.
A Cimeira, na opinião da secretária-geral da CARICOM, a belizenha Carla Barnett, "registou a injustiça do domínio colonial e do tráfico transatlântico de escravos e reconheceu que devemos nos unir na exigência de uma compensação adequada pelas práticas de exploração que traumatizaram e desfavoreceram milhões de pessoas em ambos os lados dos oceanos".
A unidade África-Caribe mostra-se, assim, como um sério aviso aos antigos colonizadores, sobretudo àqueles que fogem das suas responsabilidades em matéria de reparação ao continente africano e sua Diáspora.
Aviso lançado por Mahmoud Ali Youssouf, presidente da Comissão da União Africana (CUA), que apelou africanos e caribenhos a "exigir das potências coloniais o reconhecimento dos crimes históricos, pagamento das reparações e desmantelamento da injustiça estrutural e sistémica", resultante desses crimes contra a Humanidade.
Se na Cimeira de Addis-Abeba, os políticos tomaram decisões históricas, na conferência de Nairobi, de 7 a 9 de Agosto, sob o tema "Além das Fronteiras: Unindo a Diáspora para o Investimento em África", os diaspóricos tomaram contacto com as oportunidades de negócios africanos em sectores como imobiliário, tecnologia financeira, agro-negócio e saúde. Áreas importantes para o crescimento económico e desenvolvimento do continente.
Dessa reunião da Diáspora, longe de discursos politicamente correctos, há relatos de críticas à letargia da UA no cumprimento do seu lema de 2025, "Justiça para os africanos e os afrodescendentes através de reparações".
A este propósito, como orador principal do encontro que congregou sobretudo membros da sociedade civil, com destaque para o empresariado e a academia, o intelectual africano do Quénia P.L.O. Lumumba revelou que escreveu a João Lourenço, cobrando-lhe celeridade no cumprimento do lema da UA.
"Há uma semana, escrevi ao presidente da União Africana e disse-lhe na minha carta que este é o ano das reparações, o ano de 2025, e estamos no mês de Agosto, e o que está acontecendo?" revelou Lumumba, perguntando.
Adiantou que disse ao presidente da UA "de forma um tanto rude que, quando foi eleito, pensávamos que o senhor faria melhor, mas o senhor voltou à situação de fábrica".
Na opinião do exigente Lumumba, no âmbito do lema de 2025, foram feitas apenas "subtilezas diplomáticas, declarações e discursos estéreis e confusões, com a consequência de que a África é uma floresta de protocolos e declarações que não produzem nada".
Antes do presidente, na Cimeira Africa-CARICOM e Lumumba, na Conferência de Nairobi, defendera a criação de plataformas de media africanos para "escrevermos a nossa História e deixarmos de ser definidos por outros".
Criticou também os governos africanos que, apesar de criarem departamentos governamentais para os assuntos da Diáspora, "não olham para os africanos diaspóricos como recurso humano", diferente de capital humano.
Eles, disse dirigindo-se aos conferencistas da Diáspora, "veem-vos como veem minas de ouro".
Muito crítico, Lumumba concluiu que "o problema de África é, pura e simplesmente, de qualidade da liderança política que temos. Os países africanos não têm democracias. Têm caquistocracias e cleptocracias. Governos com os piores e de ladrões".
Estes acontecimentos demonstram, por um lado, a necessidade de redefinição e regulamentação do estatuto da Sexta Região da UA, a Diáspora Africana, envolvendo a sociedade civil como elemento estruturante.
E por outro, que a transformação da unidade África-Diáspora em alavanca para o desenvolvimento económico, político e social de África, robustece o continente e contribui para a sua respeitabilidade e enquadramento nas novas dinâmicas das mudanças mundiais.
Se em 1955, o Movimento dos Não-Alinhados nasceu para garantir a independência, soberania e integridade territorial dos seus membros, a unidade África-Diáspora, tendo por base a exigência de "justiça reparadora fundamentada na verdade histórica e no compromisso inabalável com a dignidade", de acordo com John Mahama, faz parte do caminho para o reconhecimento de África como parceiro indispensável no estabelecimento da Nova Ordem Mundial.
O lema "Justiça para os africanos e os afrodescendentes através de reparações", ainda segundo Mahama, permite "reafirmar a determinação partilhada de corrigir erros e injustiças históricas por meio da restituição, da reparação e da transformação sistémica holística".
Desta forma, unidos pela História, África e a sua Diáspora histórica ou recente, parafraseando a secretária-geral do CARICOM, passam a "partilhar uma visão de futuro". n