O ECDC indica, segundo as agências, que, entre 2013 e 2023, foram registados mais de 4000 casos nos países europeus, com "um salto significativo" em 2023, ano em que foram divulgados 1346 casos de infecções por "candidozyma auris", anteriormente conhecido por "candida auris", em 18 países.

Este fungo, que aparece nas listas de alertas de todo o mundo como um super-fungo, devido à sua extraordinária capacidade de resistir aos medicamentos mais modernos, e é visto pelos especialistas como responsável pela candidíase, uma doença infeciosa comummente relacionada com as infecções hospitalares mais vulgares e perigosas.

Normalmente, na sua dimensão mais severa, infecta a corrente sanguínea e o sistema nervoso central, estando presente nos cinco continentes, alertando os especialistas que, nalgumas geografias, com menor capacidade de resposta, como é o caso do continente africano e algumas regiões asiáticas, a atenção deve ser redobrada.

O ECDC sublinha "a importância da deteção precoce e do controlo da transmissão para evitar a disseminação rápida e generalizada" do candidozyma auris.

Em África foram já confirmados surtos na África do Sul, Quénia, Argélia, Nigéria, Egipto e Sudão.

De acordo com o inquérito de 2024 da agência da União Europeia (UE) para identificar as ameaças para a saúde devido a doenças, avança a Lusa, "o número de casos está a aumentar, os surtos estão a crescer em escala e vários países dão conta de uma transmissão local contínua".

Aquele último estudo do centro sobre o fungo assinala também "lacunas na vigilância e na preparação para o controlo de infeções".

Propagando-se geralmente em instalações de saúde, o C. auris é "frequentemente resistente a medicamentos antifúngicos e pode causar infeções graves em doentes críticos", sendo o seu controlo bastante difícil devido à "capacidade de persistir em diferentes superfícies e equipamentos médicos e de se espalhar entre doentes".

Representa assim "uma séria ameaça para os doentes e para os sistemas de saúde", sublinha o ECDC.

"O C. auris espalhou-se em apenas alguns anos - desde casos isolados até se generalizar em alguns países. Isto mostra a rapidez com que se pode estabelecer nos hospitais", disse Diamantis Plachouras, chefe da equipa de Resistência Antimicrobiana e Infeções associadas aos cuidados de saúde do ECDC, citado no comunicado.

"Mas isso não é inevitável", acrescentou, assinalando que "a deteção precoce e o controlo rápido e coordenado da infeção podem ainda prevenir novas transmissões".

Espanha, Grécia, Itália, Roménia e Alemanha foram os países com a maioria dos casos ao longo da década, tendo sido registados "surtos recentes no Chipre, França e Alemanha, enquanto a Grécia, Itália, Roménia e Espanha indicaram que já não conseguem distinguir surtos específicos devido à ampla disseminação regional ou nacional".

"Em vários destes países, a transmissão local sustentada ocorreu apenas alguns anos após o primeiro caso documentado", segundo o ECDC, que considera existir um "período decisivo para intervenções precoces de forma a travar a propagação" do fungo.

O organismo europeu refere que alguns países demonstraram "resultados positivos na limitação de surtos de C. auris", chamando a atenção para a existência de "lacunas importantes" em muitos outros.

"Apesar do aumento do número de casos, apenas 17 dos 36 países participantes possuem atualmente um sistema nacional de vigilância para o C. auris" e "apenas 15 desenvolveram orientações nacionais específicas para a prevenção e controlo de infeções".

Alerta ainda que o facto de não existir "vigilância sistemática e notificação obrigatória" significa que podem existir mais casos não divulgados.

Os sintomas da infeção por Candida auris podem incluir febre, calafrios, fadiga e aumento da frequência cardíaca. No entanto, muitos pacientes em risco, especialmente os hospitalizados, podem não apresentar sintomas notáveis, apenas colonização do fungo.