Os programas de governo apresentados têm como objectivos económicos e, diga-se, tradicionais crescimentos sustentados; pleno emprego dos recursos; inflação baixa, balança de pagamento e moeda forte. Por agora, diante da manutenção do poder, e num contexto em que problemas ditos económicos tardam a ser solucionados, tais objectivos fazem emergir questionamentos sobre o modelo económico a seguir? O da continuidade? Ou optaremos pela máxima de Heitor, "Aprender e Reaprender" numa lógica de reengenharia metamórfica.

Que sacrifícios as pessoas se permitirão fazer para a sua implementação como "garantia" de rápido crescimento económico e sustentável face aos níveis galopantes de crescimento da população? Como eliminar conflitos de terras latentes de "baixa visibilidade"? Como atingir o pleno emprego da força de trabalho?

Actualmente, definir como alvo de política garantir emprego para os jovens é um dos maiores desafios dos governos. No caso de Angola, é qualquer coisa extraordinária por várias razões. Por exemplo: sistema de formação é "limitado" às especializações tradicionais que, em grande parte, não respondem às expectativas dos mais jovens, bem como aos desafios do avanço tecnológico. O insignificante número de infra-estruturas no sector que permita satisfazer a demanda. A precariedade crescente do emprego global. Agravada com a migração campo-cidade que aumenta a legião de desempregados. Uma autêntica bomba juvenil.

Pôr fim à marginalização da questão agrária, muitas vezes ignorada, deverá merecer atenção que se impõe. Não faz sentido desconsiderar o papel dos pequenos agricultores responsáveis por mais de 50% da produção alimentar em Angola, sendo que ficam limitados ao regime de acesso e posse de terra, discriminatório e precário. A relação rural-urbana melhorará se se reduzir a tendência das desigualdades de rendimentos entre as famílias e regiões.

Espera-se que as reformas iniciadas ganhem novo alento e que permitam a melhoria efectiva do ambiente de negócios que, do ponto de vista real, ainda é pobre. O fim dos monopólios poderá gerar ganhos de eficiência, sobretudo em sectores que condicionam a viabilidade económica das empresas (banca, imposto, administração pública). Por exemplo, na banca há o escandaloso custo de monopólio do Terminal Pagamento Automático. Paradoxalmente, temos a implementação do Programa de Reconversão da Economia Informal (PREI)... um Nado-Morto.

Do ponto de vista institucional continuamos burocráticos. Existe competição institucional, entre sectores em Angola, o que tem dificultado a vida de quem tem iniciativas e que põe em perigo a sobrevivência das empresas. Basta um cálculo elementar no somatório de taxas e impostos a cobrar antes do primeiro Kwanza ganho que até parece à "Crónica de Uma Morte Anunciada", do escritor Gabriel Garcia Marques.

No domínio da política em si, os próximos cinco anos serão de todo interessante por muitas razões, pois alguns assuntos merecerão respostas e ou discussões entre pares, nomeadamente as origens do (de)crescimento das expectativas das pessoas? Que medidas, ético-moral, antropológica-sociológica, socioeconómicas para sanar esse (de)crescimento? Se continuarmos numa dinâmica (de)crescimento, o que poderá acontecer?

Portanto, ficou evidente um acentuado da polarização política em Angola, entre os dois maiores partidos políticos, muito por "culpa" de uma maior consciência política dos eleitores. Como consequência, forçará os partidos a maiores esforços de reengenharia política, por forma a melhor enfrentar as exigências dos novos tempos e novos eleitores.

Face ao quadro acima exposto, espera-se: Continuidade das reformas - do agrário ao financeiro e institucional -, de forma a viabilizar a economia angolana.

Agregar valor às matérias-primas primárias. Vale relembrar que o desemprego diminuirá permanente apenas se os bens angolanos forem competitivos nos mercados mundiais, para tal, necessitam de agregação de valor que a tecnologia proporciona.

É preciso mais educação para Ciência e Inovação, sob pena de desperdiçarmos, mais uma vez, o custo de oportunidade dado.

Por fim, o (de)crescimento da expectativas está no garantir da estabilidade socioeconómica e coesão nacional, num cenário de bipolaridade crescente e um "exército" juvenil de desempregados...

*Edgar Santos