A queda muito significativa das exportações do País, particularmente de commodities, sobretudo de crude, é uma das razões para que a confiança da economia fosse afectada e, com ela, a forte diminuição das reservas cambiais, mas isso está longe de esgotar a explicação para este indicador.

Seja como for, na mesma altura, uma agência de rating reviu em baixa a avaliação da dívida de Angola e outra concluiu que esta permanecerá acima dos 120% do PIB em 2022, mesmo considerando as moratórias que serão outorgadas, brevemente, pelo Estado com os credores da dívida do País.

O facto de, dentro de dois anos, a dívida de Angola poder continuar acima dos 120% do PIB não significa que a situação não possa - e mais do que isso, não deva - inverter-se, mas dificilmente ocorrerá antes de se ultrapassar o período das moratórias.

Nos países que tiveram de responder à Covid-19, a dívida agravou-se pelo inevitável aumento da despesa pública e contracção das receitas orçamentais.

Por essa razão, perspectiva-se que o PIB mundial seja menor que o alcançado em 2019, afectando, assim, a economia global.

Tal como "Roma e Pavia não se fizeram num dia", também a inversão da situação económica de Angola não ocorrerá por um estalar de dedos a curto-prazo.

Isso não significa que o relançamento com a inversão da situação existente seja possível, caso se mantenha o quadro de ausência de um mínimo de transparência, de rigor, com a permanência da promiscuidade entre o que é o interesse público e o privado na gestão da economia, de que os exemplos que todos os dias nos são dados evidenciam de forma abundante terem sido uma prática até há pouco.

O papel do Estado e as funções soberanas por este prosseguidas, com uma regulação que seja respeitada e se respeite, são cada vez mais importantes e decisivas, para que a situação se inverta, com vista à recriação da esperança.

A pedra de toque para a credibilização da política, com estes objectivos, estará, por isso, na forma e no destino que for dado às verbas que ficarão disponíveis no período das moratórias acordadas com os credores.

A afectação dessas verbas a projectos credíveis de auto-sustentação do País, sobretudo no sector primário e a atenção à questão social e neste ao desemprego, serão fundamentais.

Da mesma forma que não há nas relações humanas uma segunda oportunidade para haver uma primeira impressão, o mesmo ocorrerá se não se aproveitar a primeira oportunidade que se vai deparar para o relançamento da economia com atenção à questão social.

Olhando com olhos de ver o indefinido quadro mundial com que nos deparamos nos dias de hoje, parece que esta conclusão é óbvia.

(Secretário-geral da UCCLA)