Ao longe ficamos encantados pelas pedras; Belas e charmosas. Passamos pela aldeia, paramos a seguir para apreciar a beleza do lugar. Hora da selfie com sorrisos e partilhas. Assim começava a realização de mais um sonho. Cada um com a sua dica e espanto. De repente ouvimos: "pára, pára! Volta, passamos a entrada para as pegadas!" Era o Laureano, wi com sangue malanjino que nem o meu avô. Conhecia a zona. Fomos apreciar o mítico local. Uau! Suspiramos. Bué bala. Granda paisagem. Pedras gigantes que nos abraçavam de um lado e a planície que nos abanava do outro, acariciada pelo enérgico Kwanza.

Das rochas brotava água como se fossem nascentes, nasciam coxitas, aumentavam conforme a distância, até caírem a jingar num som que refrescava-nos a alma e sumiam ruidosas na mata por baixo dos arredondados montes endurecidos por baixo de nós. Vimos duas espécies de casotas que pareciam proteger e ao mesmo tempo chamar a atenção para algo. Era a mítica pegada da rainha Njinga Mbande do Ndongo e de Matamba, saída dos livros e das telas. Grande, curiosa. Deslumbrados com tamanha beleza e variedade, continuamos a nossa caminhada até a sede da comuna de Pungo Andongo, entre grandes rochas, na qual se destacava a Pedra Mulher, assim chamada por se assemelhar ao órgão genital feminino e que era uma espécie de guardiã.

Fomos recebidos por Pedro Dala, que se apresentou como sendo um dos guias. Deu-nos as boas vindas, apresentou o lugar e os encantos que podíamos visitar. Partimos ao miradouro situado por cima da famosa pedra Kanzamba, que significa elefante pequeno, por se parecer com um paquiderme deitado. Nesse lugar, cada rocha tem nome próprio e semelhança com algo, como a Pedra Homem, que se parece com o órgão genital masculino.


Logo a entrada do caminho ao miradouro há um espaço (Kazamba) construído ainda no tempo colonial, com mesas e bancos em pedra para os visitantes que queiram pausar ou pitar algo. Para chegar ao topo é necessário caminhar alguns metros até ao sopé da pedra. Maravilha! Espetáculo! A paisagem mirada de cima sorria pra nós, de tal forma que nos esquecemos das escadas sem corrimão que nos levaram até lá, deixando a nú parte do Kwanza que deslizava bangão para Capanda. Foi possível ver de outro ângulo a vila sede e novamente a Pedra Mulher da mística banda onde Njinga Mbande muitas vezes celebrou, gozou e repousou.

O ar fresco perfumado pelas flores que enfeitavam os macacos, convidava-nos a pausar mais. Lá em cima deu para entender porque o local é chamado de Cantinho do Céu e porque é muito escolhido por peregrinos. Para além do colorido da biodiversidade que pintava a paisagem rochosa, havia ainda alguma água a verter entre as rochas, destapando ainda mais tal beleza. Tal água tem sido utilizada para vários fins medicinais que com certeza o Soba Kitexe saberia bem explicar se tivéssemos mais tempo.

Depois de cada um ter o seu momento mágico, juntamo-nos para as fotos de praxe, as que ficariam para a posteridade, fruto daquela manhã de um sábado novembrino em 2021. Kota Hortêncio, Gito, Onélio, Alexandre, Leandro, Laureano "Mais Alto", Tiago, Jorge e "sueu", CR, escolhemos os pongues e os clics fizeram-se ouvir.

Toca descer, alegres, com a aura recheada de boa energia, ignoramos o cansaço e o risco de nos perdermos pela falta de placas de informação, nem sequer a indicar as míticas pegadas, só destronado pela falta de guias bem formados, identificados e trajados para que possam de forma elegante e agradável atrair e cativar os turistas nacionais e estrangeiros que têm ido apreciar as belezas. A sede sorriu não havia onde comprar algo para beber ou comer, apesar de ter luz da rede, algo raro em Malanje, não havia loja ou lugar algum para driblar a dioba e a sede que teimavam em fazer turismo nos nossos corpos. Tão pouco lugar para aliviar as necessidades interiores.

Na hora de bazar sobrou o "já?". Soube a pouco, nem uma lembrança para levar. Só aquelas que partilhamos nas fotos e nas nossas memórias, as mesmas que teimavam em perguntar se não se ganharia mais, se se apostasse na melhoria do espaço e valorização de quem trabalha lá e recebe um salário de vinte e poucos paus, que cai de tempos em tempos e o obriga a ser mais um nas bichas intermináveis do BPC? Ficou a promessa, vamos voltar, não em salo, mas em passeio com kambas e famílias. Até lá, katé!