Para quem imitasse os outros, nós chamávamos carinhosamente de macaco imitador. Esse nome chegava a refrear os intentos do imitador porque quase ninguém gostava de ser comparado aos símios. Mas nem sempre dava certo, porque havia madies que não se importavam de ser chamados de macacos imitadores, aliás, parecia que até os deixava mais afoitos, com mais gás para imitarem.
Com o passar do tempo crescemos, constituímos família e assumimos responsabilidades profissionais diversas. Começamos a desempenhar algum papel na e em prol da sociedade, da colectividade. Assim, temos sido convidados e desafiados a explorar o intelecto, os dons e habilidades para melhorarmos a nossa forma de viver, criarmos e desfrutarmos de uma boa qualidade de vida. Mas aí descobrimos que nem sempre alguns dos kotas que ontem foram putos têm sabido explorar o que deviam saber fazer bem, preferem imitar o que há noutras bandas e tentam aplicar essas cenas cá sem sequer se preocuparem em adaptá-las à nossa realidade. Estão transformados em autênticos imitadores.
O mais caricato é ver e sentir que durante algum tempo a nossa geração sempre criticou essa geração de imitadores do que vinha da estranja, principalmente na (má) gestão do que devia ser de todos e da banga fukula. Essa nossa geração recheada de críticos que dedilham fel e mel alimentando gostos partilhados pela tal rede baptizada de internet, onde desfilam egos e marcas que mascaram uma realidade totalmente diferente, essa mesma nossa geração que estigava a outra, a antecessora, hoje tem dado mostras de ter herdado dos kotas a tal imitação importada com toques luxuosos, o tal copy&past.
Lembro-me de que apanhávamos muita surra dos nossos pais quando descobrissem que estávamos a imitar comportamentos errados, mambos que eram malaiques ou madies que não eram exemplares, porque diziam não ser correcto imitar o que não era certo, ou que não prestasse, que ser Maria-vai-com-as-outras não era bom. Devíamos, sim, imitar coisas boas, imitar os kambas que estudavam bem, os que ajudavam nas tarefas de casa, os que bumbavam, os que eram bem comportados e que respeitavam os kotas e cenas alheias. Nada de imitar magalas, gatunos, garlas, ngombiris, maus gestores, corruptos e outros madies com conduta imprópria.
Na altura, havia aquelas famílias que serviam como referência, conhecidas por serem exemplares, por terem avilos que tinham condutas que eram estimadas por todos e que serviam de guia, de luz para os jovens que quisessem "ser alguém na vida" ("o filho do fulano sim senhor!"). Mas também havia aquelas outras famílias que eram citadas pelos piores exemplos que ninguém queria que os seus entes imitassem, "não sejas como o vizinho beltrano ou não vale a pena imitares o vinho fulano!"
Ser adulto pressupõe ser maduro, ter maturidade para saber escolher bem, como diz o kamba Leonel Maria, saber o que se quer, fazer bem, sem pisar quem quer que seja, nem caçumbular mambos alheios. Todo adulto devia ter como obrigação a adopção de condutas fixes, que não lesassem, mas pelo contrário que agregassem valor ao colectivo primeiro e ao individual depois ou em consequência, e que mesmo imitando se imitasse fixe, o que há de bom para todos e não para alguns, adaptando a nossa realidade. Que se imitasse um bom sistema de transporte colectivo e de saúde, bom ensino público, bom saneamento básico, justiça funcional e justa, valorização da meritocracia do saber fazer bem, promoção dos bons mambos, respeito pelas liberdades e pelos direitos, sem esquecer o respeito pelos bens de outrem ou de todos, amor ao País!
Querem imitar? Que imitem construir uma banda boa para todos sem discriminação ou exclusão! Uma banda sem grupinhos de preferidos e kambas que abocanham o que devia e deve ser para todos. Já que nos custa assim tanto criar, inovar, que tal se seguirmos o conselho dos nossos pais e imitarmos o que é bom para não levarmos umas palmadas e puxões de orelhas dos nossos filhos e netos? Katé