Existem circunstâncias que nos impelem a acção, que nos criam motivos para agir. Mas é claro que não se compreende e nem se aceita o silêncio de governantes de um país quando é anunciado que catorze pessoas morreram devido às chuvas de segunda-feira, 19, na cidade de Luanda (a última actualização elevou o número para 24 pessoas), nestes casos não pode haver "códigos de silêncio".

Não se percebe, até agora, o silêncio da governadora de Luanda, Joana Lina. Não se percebe o silêncio do Presidente João Lourenço durante as primeiras 24 horas, e fica-se com a ideia de o seu pronunciamento não ter sido espontâneo, humano, mas, sim, "forçado", por causa da manifestação de dor e pesar de Marcelo Rebelo de Sousa e de António Costa, Presidente e primeiro-ministro de Portugal, respectivamente.
Estes silêncios demorados, em caso de morte de cidadãos nacionais, são inaceitáveis, inexplicáveis e insustentáveis, revelando até insensibilidade, falta de compaixão e até certo desprezo pela vida humana. Não se percebe a nossa eficiência e rapidez no envio de condolências para o exterior ou nas felicitações aos artistas pelos seus desempenhos em lives televisivas, mas demora-se no envio de uma mensagem de condolências que, nesta situação, até bem podia ser gravada ao vivo. Nestes casos, não pode haver um dever de reserva por parte do PR. É que, muitas vezes, parece que João Lourenço fala quando não deve falar e se cala quando deve falar.
Há aqui uma questão de gestão de timings de comunicação que deve definir quando há necessidade urgente de um pronunciamento actual e eficaz. As lideranças não devem estar alheias aos factos e sinais, elas devem responder aos desafios e às exigências do cargo.
Hoje, os cidadãos estão mais exigentes, quer com a atenção dos políticos, quer com a compreensão dos factos. Têm maior sensibilidade ao sofrimento e dor alheia. Vivem e acompanham os factos e situações em tempo real. Têm mais acesso à informação e exercem maior escrutínio sobre os poderes. Nestas situações de mortes e desalojamentos provocados por chuvas ou outras catástrofes naturais, estão atentos e aguardam por posicionamento das autoridades. Criam expectativas e esperam da parte de quem os lidera uma palavra de conforto, alento e esperança. E quando quem devia falar se cala, para eles soa como desprezo, como incapacidade de lidar e gerir com a situação.
A vida anda dura e difícil. Os cidadãos estão carentes de afectos e atenção, e os governantes, infelizmente, demoram a fazer leitura dos sinais. A mensagem de condolências chegou, mas chegou tarde e depois daquelas que vieram de fora. O "dono do óbito "demorou a agir, e o primeiro conforto da "família enlutada" veio de fora. Que se tirem ilações dessas falhas e que se adoptem novas posturas! É preciso que João Lourenço perceba que, quando ele "espirra", os seus auxiliares "se constipam", e que só deixam a condição de "estátua ninguém se mexe" quando ele lhes dá um toque. Ele é o Alfa e Omega de todo o processo. Que doravante passe a ser diferente, que passe a agir de forma livre e espontânea sem necessidade de pressões internas e externas!
Hoje sentiu o peso do silêncio, amanhã poderá pagar por isso.