Reinar é, afinal, uma arte de difícil manejo. Pode-se ser rei a prazo, risonho e bem-disposto, fazendo o que os reis de hoje em dia costumam fazer, na melhor das hipóteses: dispor bem os seus súbditos. Pode-se ser a figura recatada e discreta, que engole os sapos que lhe vão sendo servidos sem mudar a expressão do rosto, num exercício de representação, que se pretende fazer passar por dignidade, alimentando uma imagem imperial já desajustada da realidade. O esplendor, tantas vezes bafiento, do passado, que oculta, a custo, as tragédias que se varrem para debaixo do tapete. A tradição servida como soporífero num exercício de catarse colectiva que pretende fazer equívocas ligações ao passado, alimentando, no fim, os sentimentos mais egoístas. Chauvinistas. Perigosos. Os mundos velhos patinham nesse pântano. Chegando ao contrassenso de se nomearem uma plêiade de reis. De circo. Estranhos compromissos.

Talvez se possa ter um rei do consenso. Que une. Mesmo quando transmite a imagem da desigualdade. Um pequeno deus de carne e osso a quem se desculpam as fragilidades. Para inglês ver.

Mas há reis que pretendem reinar, e aí o caso muda de figura. Pois já não basta representar, é preciso agir. E, se possível, bem, pois senão todo o país sofre com isso, e pode-se acabar por ficar com um rei, inadequado, bem para lá do prazo de validade, com todas as consequências que isso pode originar.

Por isso a República!

Mas também nós precisamos do consenso. Hobbes faz uma interessante distinção entre contrato e pacto. Para o contrato, é preciso o polícia. O garante. O Leviatã. Já o pacto é estabelecido com base na confiança. Tem que ser uma vontade sincera das partes. Honesta. Um compromisso pelo qual estarão dispostas a fazer os sacrifícios necessários para que se atinjam os objectivos visados. Que devem ser muito maiores que as partes que o estabelecem.

Nós não temos rei. Nem consenso. Precisamos de um pacto. Um pacto que a sociedade tem vindo a exigir, e que a todos junte para que, no início de mais esta caminhada, haja alvos comuns que permitam atingir a paz social, o desenvolvimento harmonioso e a estabilidade.

Temos que deixar de ser pequenos e olhar para o bem maior, a Nação Angolana, e construir um edifício comum, onde todos se revejam.

Há todo um futuro por construir. Comecemos agora!