Muitos dos jovens que João Lourenço encontrou e falou na abertura do CANFEU não sabem quem foram os fundadores do MPLA, a sua história, os estatutos e os valores. E a culpa está nos dois lados: Porque não lhes ensinaram e porque eles não procuram aprender. Os jovens hoje não estão no MPLA pela sua história, pelo seu legado, pelas suas referências ou ideologias. Não! Vão pelo status, pela afirmação política, social e financeira.

Urge abordar a dimensão humana, política e histórica deste processo num partido que precisa deste tipo de confrontos históricos para estar perante si próprio. O MPLA não pode estar alheio a estes exercícios de reflexão e de resgaste da sua própria história. "Honramos o passado e a nossa história..." é uma das estrofes do nosso Hino Nacional e algo que não só devemos interiorizar e materializar. Há um sentimento de pertença, de memória histórica e afectiva que é preciso resgatar: a reinvenção do lugar do homem e a procura por um passado interno que ajudará estas novas gerações a respeitar o presente e a projectar o futuro. É isso que faz falta e não se vê nas abordagens, nas discussões, nos discursos políticos e mesmo nas narrativas jornalísticas. O MPLA, que em tempo de campanha não fala do seu passado, não exalta quanto baste as suas lideranças e as suas figuras históricas.

Os fundadores do MPLA, a sua história, obra e trajectória não são divulgados ou partilhados nestes espaços privilegiados, quer seja nos discursos, nos actos de massa, propaganda e tempo de antena. Mário Pinto de Andrade, Viriato da Cruz, Lúcio Lara, Hugo Azancoth de Menezes, Matias Miguéis e Eduardo Macedo dos Santos, os fundadores do MPLA são literalmente "ignorados com sucesso" em períodos importantes como estes, são praticamente desconhecidos por esta nova geração de militantes e nem mesmo neste CANFEU se vai falar deles e da sua obra.

Grande parte destes fundadores do MPLA deixou descendentes, que estão bem identificados e localizados, mas que raramente são chamados e abordados. Paulo, Wanda e Bruno (Lúcio Lara), Henda e Annouchka (Mário Pinto de Andrade), Awa, Aires e Aida (Hugo Azancoth de Menezes) e Marília (Viriato da Cruz) são os chamados Filhos da Luta. Eles nasceram, cresceram e viveram num contexto muito adverso da luta de libertação nacional, e que devia existir um processo de maior aproximação da estrutura e os seus dirigentes para com eles. As senhoras Maria Eugénia (viúva de Viriato da Cruz) e Maria de La Salette (viúva de Hugo Azancoth de Menezes) ainda estão vivas e acompanham todos estes processos e já estão praticamente conformadas com uma certa "amnésia selectiva" que há muito vai tomando conta de muitos dos seus camaradas e da própria sociedade.

É preciso um olhar para dentro, é preciso honrar a história e viajar por uma trajectória interna, onde existe muito conhecimento e experiência por partilhar. É também uma luta que estes e outros Filhos da Luta vêm enfrentando há anos. Um esquecimento a que tem sido vetado, um sentimento de pertença que vão perdendo e de um MPLA que vai tendo novos filhos e enfrentando outras lutas. Não devia ser assim. E estes momentos deviam servir para retomar e estabelecer diálogos, bem como confrontar a história e ir ao encontro da memória.