A democracia tem sido abalada em muitos países do primeiro mundo pela abstenção e nos menos desenvolvidos e mais permeáveis para além da abstenção, pela fraude eleitoral. Ambas são mecanismos de enfraquecimento dos sistemas e permitem que os menos capazes sejam eleitos. Fruto deste crescente e negativo fenómeno, o descrédito na política e na participação cidadã tem aumentado de forma exponencial, conduzindo a um beco sem saída, que pode ser porta aberta para extremismos de má memória.

A Geração da Paz é a única que poderá salvar a democracia, enfrentando os "velhos do Restelo", sempre adversos a qualquer mudança e agarrados ao poder tipo lapa, que no limite da cegueira pelo poder se perdem na irracionalidade e no egoísmo, querendo manter-se durante longos anos sem renovação, nem inovação. Por isso, é imperativa a defesa de que a promessa eleitoral seja protegida e tratada formalmente como um contrato entre o eleitor e o candidato. Hoje, o vencedor de qualquer eleição não está obrigado a cumprir nenhuma das suas promessas depois de eleito. E não existe em democracia um modo pacífico, urbano, com respaldo legal, para que os eleitores consigam exigir o cumprimento das promessas ou a saída do eleito incumpridor.

É esta situação que tem que ser alterada o mais urgentemente possível para impedir que a democracia desapareça pela inacção provocada pelo cansaço dos eleitores defraudados que promovem a abstenção por deixarem de acreditar no poder do voto. Depois de ser eleito, o candidato passa a tratar o eleitor como alguém a quem não deve qualquer esclarecimento, nem é obrigado a incluir, não como o soberano que na realidade é, trancando a sua participação cidadã no intervalo do voto e reprimindo ou desvalorizando quer a sua opinião, quer a sua indignação. E nos países em que a lei é conivente com a fraude, a batalha é ainda mais desigual e a democracia ainda mais comprometida.

O mundo está a mudar a uma velocidade que exige que o Governo perceba que já não estamos num tempo em que se podia improvisar para tapar o sol com a peneira. A Geração da Paz vai sempre ganhar, seja pelos números, que mostram que 80% da população angolana tem menos de 35 anos, seja pela estratégia de inovação, seja pela consciência de que é imperativo denunciar os privilégios minoritários e as injustiças maioritárias. Há em Angola uma fome de mudança, que vai para além do acesso ao poder, que é imparável, uma certeza de que democracia não é o poder dos fortes contra os fracos, nem das famílias mais influentes a quem a lei nunca atinge por serem elas a própria lei.

A Geração da Paz que se fortalece todos os dias sabe o que não quer. E a sua maior conquista é que ela sabe que nenhum ser humano precisa de mais direitos do que o outro. A desigualdade social é a sua maior crítica. É uma geração isenta de medo, que constrói os seus códigos e os defende, que é criativa, objectiva, inteligente, observadora, solidária, que dialoga entre si novas ideias, novas formas de comunicar, novos desafios e que dispõe de informação suficiente que permite que o infinito seja o seu limite.

É uma geração humilde, que lê, mesmo aqueles que lêem mal (por serem vítimas de uma escola desconseguida ou inexistente) se esforçam para entender, para participar. Uma geração que partilha, que extrapola a sua rua e o seu País e cria alianças com outras correntes de pensamento que estão a ser construídas em toda África e no resto do mundo, que deixa de aceitar o que não é normal, o que fere, o que não agrega, tudo o que não traz felicidade colectiva, o que põe em perigo a Humanidade. Uma geração que, literalmente, nasceu isenta de medo, arrojada, coerente, capaz de fomentar inovadoras e competentes formas de luta que atinge milhões de outros jovens em segundos, que confere esperança, fortalece o sentimento de pertença e acredita que está em condições de tornar este mundo num lugar melhor.

A Geração da Paz é uma esperança que se está a concretizar na tecnologia, na literatura, na música, na pintura, na dança, na construção do ideal político de que ninguém pode ficar para trás, que não foi contaminada pelos fracassos dos ideais nacionalistas e que sente o dever de intervir para salvar o futuro dos seus filhos. Uma geração que se hoje parasse, o País parava. São professores, enfermeiros, médicos, roboteiros, taxistas, zungueiras, advogados, economistas, mecânicos, camponeses, juízes, académicos, estudantes, jornalistas, desportistas, funcionários públicos, camionistas, mestres de obras, entre tantos outros, que se levantam todos os dias preocupados com a emergência de um novo caminho, que pensam País, têm uma opinião lúcida e são úteis.

A Geração da Paz é espontânea, não tem liderança, não se deixou contaminar pelo "prato de peixe frito" e não pensa com o estômago. É uma inevitabilidade que é perceptível pelo seu peso, tamanho e importância na sociedade. A consciência política em Angola começa ainda na escola primária. As crianças falam entre si e conseguem perceber onde estão os erros. Fazem piadas sobre os políticos e queixas sobre o bairro, escola ou água ausente. A consciência nem sempre advém do que lemos ou ouvimos. Mas também do que sentimos na pele. Com uma taxa de fecundidade épica, o aumento da população, que em momento algum foi motivo de ponderação institucional, será, sem dúvida, o maior aliado deste movimento corajoso, esclarecido e farto, que cresce todos os dias e que hoje são milhões. E como se diz em Angola "contra milhões ninguém combate".