Como é sabido, o principal partido na oposição, a UNITA, e ainda a CASA-CE, ao não se conformarem com os resultados eleitorais, reclamaram e recorreram deles sem êxito.

Independentemente da avaliação que se possa fazer das reclamações e dos recursos, há agora que olhar para o futuro com sentido das responsabilidades dos partidos políticos e das instituições públicas.

Isso não significa que não se devam aperfeiçoar os procedimentos que suportarão futuras eleições como sugerido por vários observadores qualificados, de forma que se minorem eventuais práticas passiveis de por em causa a transparência.

O certo é que, em democracia, por um voto se ganha e por um voto se perde.

Como é das regras de respeito da democracia, saúdo o Presidente João Lourenço e com ele a senhora Vice-Presidente da República, Esperança da Costa, segunda da lista mais votada e ainda todos os senhores deputados eleitos para a Assembleia Nacional.

A estes eleitos pelo voto popular, desejo-lhes os maiores sucessos por Angola e pelos angolanos.

Uma análise atenta dos resultados eleitorais faz evidenciar de forma clara que os eleitores votaram no sentido da necessidade da reavaliação das políticas que vêm sendo seguidas.

Não é de estranhar, porque o mundo mudou muito depois das anteriores quatro eleições realizadas em Angola e a própria realidade do País alterou-se profundamente.

O facto de a UNITA ter sido o partido mais votado nas províncias de Luanda, Cabinda e Zaire e apresentar um crescimento eleitoral muitíssimo significativo na generalidade das demais províncias deve merecer muita atenção de todos, sobretudo por parte do MPLA.

Não duvido de que essa atenção do partido que é suporte do Governo vai existir porque o que tem de ser tem muita força.

E que a vitória que a UNITA alcançou na província de Luanda e com ela nos nove municípios que a integram compara com a que o MPLA obteve nessa província, com um número de votantes inferior aos militantes inscritos nela.

Esta não é uma questão menor, tanto mais que a capital do País é Luanda.

A vitória da UNITA em Luanda revela que o partido no poder teve um grande desgaste e é impossível não se concluir isso mesmo pela evidência dos factos.

A esta vitória do principal partido na oposição acrescem as que teve nas províncias do Zaire e de Cabinda, províncias tradicionais de exploração petrolífera, que são a base das principais receitas orçamentais do Estado a evidenciarem também a necessidade de séria ponderação na distribuição dessas receitas no próximo Orçamento de Estado, numa perspectiva que atenda às reais necessidades do povo angolano.

Estas óbvias consequências parece deverem implicar, necessariamente, o reforço do diálogo entre os dois principais partidos, o MPLA e a UNITA, e no caso do MPLA, a forma mais adequada de partilhar o poder sem que isso possa sequer envolver qualquer coligação de governo, inclusive do tipo GURN.

É que, em democracia, o poder não é nem deve ser encarado como exclusivo do Governo, porque é da essência dela ter-se em atenção que nenhum partido representa a totalidade da nação e há muitos outros poderes para além do Poder Executivo.

Os resultados das eleições são também claros na mensagem dos eleitores para a despartidarização do Estado.

Os desígnios nacionais que decorrem das funções do Estado, estando para além dos interesses partidários, colocam-se agora em cima da mesa e são prioritários como escrevi antes das eleições.

Sei bem que estes objectivos são de grande monta, nada fáceis de alcançar, mas não há outra opção para Angola e para os angolanos, assim como também não há outra opção no domínio da economia que não seja privilegiar tudo o que tenha a ver com a auto-sustentabilidade do país.

Os partidos devem ceder à tendência para o enquistamento sobre si próprios.

Não deve haver ilusões, tanto mais que o crescimento económico previsível de Angola nos próximos anos será anémico perante as exigências do país que tem que saber combater a pobreza.

Não há dois caminhos, só há um - o caminho a prosseguir com coragem, muita coragem, com os olhos postos na melhoria das condições de vida dos angolanos, contra ventos e marés.

Porque acredito no povo angolano, não posso deixar de acreditar em quem elegeu para assegurar os destinos do País, sabendo que estes saberão interpretar os resultados eleitorais.

É que a vitória final, a que verdadeiramente conta, só poderá ser dos e para os angolanos. n

*Secretário-geral da UCCLA