A informação é avançada pela Lusa, que cita um familiar de André e Paulo Candala, que contou que o catequista foi espancado e se queixa de "dores na mão e num ombro".

A agência de notícias cita ainda uma fonte policial que afirmou que André Candala foi detido para prestar declarações e libertado mais tarde, acrescentando que não há mais detidos, mas outro morador de Cafunfo assegurou que as pessoas que falaram à comunicação social estão a ser ameaçadas.

"Disseram que nós não podíamos dar essas informações e que os que falaram estão a dizer mentiras. Mas nós temos de contar a verdade, temos de contar o que vimos, não vou esconder", disse Alfredo Moisés, coordenador das comunidades da Paróquia de São José, sublinhando que os factos "devem ser apurados".

Um activista cívico, que está escondido e pediu para não ser identificado, disse também à Lusa que foram detidas esta madrugada seis pessoas.

No dia 30, de acordo com o relato da polícia, através do seu departamento de comunicação da Lunda Norte, na madrugada de sábado, cerca de 300 elementos ligados ao Movimento Protectorado Lunda Tchokwe, armados com espingardas automáticas AKM, de caça e armas cortantes e engenhos explosivos artesanais, procuraram invadir a esquadra da vila do Cafunfo-Cuango.

Ali, ainda segundo a polícia, procuraram colocar uma bandeira do seu movimento, tendo, nesta acção, ferido dois oficiais, um da PN e outro das Forças Armadas Angolanas, tendo igualmente resultado na morte de quatro destes elementos e ferimentos em cinco, dois destes acabaram por sucumbir posteriormente já em tratamento hospitalar.

Fontes citadas a partir da Lunda Norte por vários media nacionais e internacionais apontam para a morte de pelo menos 14 pessoas e cerca de duas dezenas de feridos graves, embora estas informações careçam de informação mais detalhada.

A polícia denomina esta acção do Movimento Tchokwe como um "acto de rebelião", sendo mais uma das muitas que nos últimos anos é organizada por este movimento autonomista que reivindica a autonomização das Lundas face ao poder central de Luanda, ao qual as autoridades nacionais dedicam especial atenção em matéria de segurança e "intelligentsia", sendo comuns as detenções dos seus lideres ou simples elementos de base.

Recorde-se que a versão dos dirigentes do Movimento aponta para uma outra realidade no terreno, nomeadamente a ausência de armas entre os elementos que se manifestavam na madrugada/manhã de Sábado

Citado pela imprensa, José Mateus Zecamutchima, presidente do Movimento do Protectorado da Lunda Tchokwe, as forças de segurança avançaram contra os manifestantes quando estes se dirigiam para o local marcado para a concentração, tendo negado qualquer tentativa de ocupação da esquadra da PN no Cafunfo, tendo a manifestação sido precedida de uma informação ao governo provincial como a lei determina.

Organizações Não-Governamentais, bispos católicos e a oposição angolana condenaram o que dizem ter sido "um massacre" e pediram um inquérito independente sobre os acontecimentos.

O Movimento Protectorado da Lunda Tchokwe luta pela autonomia da região das Lundas, no Leste-Norte de Angola.

Uma delegação da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA foi impedida de entrar em Cafunfo. Os deputados Alberto Ngalanela, Joaquim Nafoia, Domingos Oliveira, Sindiagani Bimbi e Rebeca Muaca, bem como a activista Laura Macedo, continuam retidos no posto da empresa mineira do Cuango, no Casela, a 5 km de Cafunfo.

Entretanto, Adalberto da Costa Júnior, afirmou na sexta-feira que a retenção dos cinco deputados à entrada do Cafunfo é "a confissão clara do massacre praticado" na vila mineira, rica em diamantes, da Lunda Norte e da ocorrência de "operações de limpeza" na zona.

No mesmo dia, o Bureau Político do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) criticou as vozes que "se levantaram precipitadamente", entre elas a UNITA, maior partido da oposição, para acusar as autoridades de terem cometido "um massacre contra supostos meros manifestantes".

Numa declaração sobre os acontecimentos ocorridos em Cafunfo, município do Cuango, província da Lunda Norte, o partido sustenta que o Governo de Angola tem constatado que a maior liberdade de imprensa, de expressão, de reunião e de manifestação, promovida pelo Presidente João Lourenço "está a servir para promover o desrespeito à Constituição e à lei, aos símbolos nacionais, o desrespeito à autoridade instituída, ao património público e à propriedade privada".

O que é "perigoso para a estabilidade político-social e contrária ao bom ambiente de negócios atrativo do investimento privado, que se vem criando ultimamente", referiu-se na nota.

Já o Presidente da Assembleia Nacional (AN), Fernando da Piedade Dias dos Santos, declinou, numa nota sobre o impedimento dos deputados em acederem à vila de Cafunfo, qualquer responsabilidade sobre eventuais constrangimentos e disse que a deslocação não foi feita no quadro de uma comissão parlamentar multipartidária, como seria recomendável.