A direcção do Hospital Geral do Bengo nega a inexistência dos fármacos no hospital, mas certifica a entrega dos Rios X por fotografias nos telemóveis aos pacientes, por falta de películas.

Os utentes dizem que o novo banco de urgência, inaugurado há dois meses, pela titular da saúde em Angola, Sílvia Lutucuta, em nada acrescentou na melhoria das condições de assistência e acomodação dos pacientes.

A constatação é do Novo Jornal que recentemente visitou aquela unidade hospitalar, a única de referência na província do Bengo, e que existe há mais de 40 anos.

Mário Damião, um dos pacientes que conversou com o Novo Jornal em Caxito, disse que há falta de tudo no Hospital Geral do Bengo porque sempre que a população se desloca para aquela unidade hospitalar, nunca há medicamentos.

"É triste o que se vive aqui no Bengo, o hospital provincial nunca tem medicamentos para atender aos pacientes. Por outra, há muita lentidão no atendimento, às vezes chegamos aqui às 8:00 é só somos atendidos às 15:00", lamentou.

Garcia Alberto Hôncolo, residente na Açucareira, explicou ser mais fácil ir a Luanda fazer uma consulta do que ir ao Hospital Geral do Bengo porque nunca há fármacos para os pacientes.

Segundo Garcia Alberto Hôncolo, um familiar seu foi transferido do Hospital do Bengo para Luanda por inexistência de gesso.

"Nesse dia até fizemos confusão com a equipa médica de serviço, mas a resposta foi que não podiam fazer nada por não haver, de facto, gesso no hospital. Tivemos de ir a Luanda", contou.

Outro cidadão, funcionário da administração do Bengo, que falou sob anonimato, disse ao Novo Jornal que o serviço de saúde do Bengo é praticamente inoperante.

"Aqui não fazem nada ao paciente porque tudo está em falta. Não há absolutamente nada e os doentes graves e leves são internados numa só sala", explicou. Informação confirmada, também sob anonimato, por uma enfermeira do hospital que ainda revelou a existência de dois cadáveres na morgue do Hospital Geral do Bengo há mais de um ano.

A enfermeira contou também que há falta de fármacos no hospital há meses e que os pacientes internados não fazem, por vezes, a medicação por não existirem medicamentos.

"Temos de pedir aos familiares para comprarem os medicamentos porque não há outra alternativa a não ser essa, senão o paciente pode ir a óbito", contou.

De acordo com esta profissional de saúde, um dos assuntos que inquietam os técnicos de saúde do Hospital Geral do Bengo é o acomodamento dos pacientes internados.

"Infelizmente, misturamos todos na medicina, tanto os pacientes com tuberculose como os de malária. Não temos áreas específicas para internarmos os doentes", desabafou. E acrescentou: "Como enfermeiros isso nos traz tristeza".

Direcção nega falta de medicamento e diz que muitas falhas do passado já foram ultrapassadas

Ao Novo jornal, a directora do Hospital Geral do Bengo, Teresa Candeeiro, negou a falta de fármacos do hospital e equiparou a unidade, no que respeita aos medicamentos, ao Hospital Américo Boavida, em Luanda.

"Os fármacos que o hospital tem são apenas para os doentes internados, aqueles que são assistidos no hospital, aos pacientes leves nós passamos apenas a receita e isso é assim em todos os hospitais públicos do País", explica.

Apesar de o hospital ser carente em recursos humanos, prossegue, não deixamos de prestar a devida atenção a todos os pacientes.

Quanto à falta de gesso, a directora geral do hospital disse não ser verdade. "O hospital tem gesso, sim".

Segundo Teresa Candeeiro, o hospital só não realiza operação da fractura do fémur (o maior osso do corpo humano) e por isso é que há pacientes que são transferidos para Luanda.

Em relação às queixas que a população fez ao Novo Jornal sobre os exames de Raio-X, a directora confirmou as informações.

"É verdadeira essa queixa e confirmo. O Raio-X é feito, mas, na verdade, não temos películas para entregar ao paciente. Temos uma impressora que, desde que foi montada no hospital, nunca funcionou, e é muito cara. Por essa razão não conseguimos substituí-la. Por isso entregamos os Raios-X por fotografia nos telemóveis" afirmou.

No que concerne à não separação dos pacientes internados, a directora disse ser difícil de momento, mas assegurou que este problema está já a ser resolvido.

"O hospital só tem duas salas para internamento, uma para os homens e outra para as mulheres. Mas não são patologias transmissíveis que impeçam que os pacientes possam ficar na mesma sala", explicou

Quanto aos dois corpos que se encontram na morgue há mais de um ano, Teresa Candeeiro confirmou e assegurou que o assunto está já a ser tratado com as autoridades judiciais a nível do Bengo.