Para quem vive nesta comunidade, levantar pela manhã e chegar à noite é uma aventura arriscada, sobreviver neste bairro não é para fracos. E não ter energia eléctrica e água nas torneiras, a certeza diária das milhares de famílias que ali habitam, não ajuda em nada. E nem a polícia pode fazer muito mais, porque, como contam os seus responsáveis, não é possível patrulhar de forma eficaz à noite sem iluminação pública.

A pequena esquadra da Polícia Nacional, com a dimensão de um anexo, quarto e sala, com apenas três agentes em serviço, serve na perfeição para exemplificar a insegurança que o bairro Papa Simão transpira.

Até porque a falta de polícia permite situações como aquela que o Novo Jornal Online constatou neste bairro do município de Viana: crianças e adolescentes, dos 13 aos 16 anos, a deambular pelos becos a comercializar e a consumir estupefacientes.

O intendente Mateus Rodrigues, do Gabinete de Comunicação Institucional e Imprensa da Delegação do Ministério do Interior na província de Luanda, admitiu ao Novo Jornal Online as deficiências no policiamento, mas sublinhou que isso acontece essencialmente no período nocturno devido à inexistência de iluminação pública.

O oficial nota que tanto a Polícia Nacional como o Serviço de Investigação Criminal (SIC) estão presentes no bairro logo desde as primeiras horas do dia, mas no período nocturno dificilmente se pode fazer mais.

Nos primeiros contactos com os moradores deste bairro sente-se uma preocupação em relação ao crescente índice de criminalidade, principalmente no período nocturno por falta de energia na zona.

Conceição Cassua Gonga (na fotografia) reside na zona do Papa Simão há mais de 12 anos, é mãe de Luísa José Gonga João, a última vítima que foi encontrada morta no interior de uma fossa.

Ao Novo Jornal Online contou que a polícia até hoje não deu resposta sobre o assassinato da sua filha e que o bairro continua "um mar de assaltos e homicídios".

"Na sexta-feira, acordámos e encontrámos dois jovens mortos na rua com sinais de balas no peito e na cabeça, mesmo à luz do dia os assaltos são frequentes, até roupa no fio os gatunos levam", disse,Conceição Gonga.

"Estamos quase todos os dias a recorrer à esquadra onde foi aberto o processo, mas infelizmente os esforços efectuados não estão a surtir qualquer efeito, porque pobre neste país não têm interesse", lamenta, salientando que a vida lhe tem sido dura porque o esposo não trabalha e a sua falecida filha deixou-lhe dois netos, um de quatro e outro de 18 meses.

"Vivo do negócio da água fresca que faço, a minha filha era cabeleireira, ela ajudava nas despesas de casa, hoje as coisas tornaram-se ainda mais complicadas porque, para além do esposo e os meus três filhos que não trabalham, tenho dois netos para sustentar", afirmou.

Sobre os crescentes números de homicídios, o intendente Mateus Rodrigues disse ao Novo Jornal Online que o trabalho está a ser feito e que, neste momento, "há dois detidos" relacionados com a vaga de assassinatos.

O jovem designer gráfico Ernesto Barroso disse ao Novo Jornal Online que a existência da delinquência no bairro Papa Simão se deve ao facto de o bairro ser muito pobre em todos os aspectos.

"Existem muitas pessoas pobres neste bairro, não temos hospitais nem escolas públicas, a maioria dos jovens aqui não estudam porque os pais não têm condições para enviar os filhos para os colégios em função dos valores que as escolas privadas cobram", descreve, acrescentando que, devido ao número de jovens fora do sistema do ensino, "é impossível não haver delinquência".

A venda de droga nas ruas e nos becos do bairro acontece onde todos podem ver, ocupando maioritariamente adolescentes.

Por sua vez, outro morador, o ancião Nsakala Tando, diz que a vida das pessoas é cada vez mais dificultada pela existência de gangues.

"Aqui ninguém dorme e quando está a anoitecer ficamos preocupados porque tememos que as nossas residências sejam invadidas pelos meliantes", asseverou.

"A filha do meu amigo e vizinho, de 14 anos de idade, foi abusada sexualmente. Por sorte não a mataram porque houve intervenção de alguns moradores corajosos que ocorreram até ao local onde os marginais estavam a praticar o acto", conta.

O Novo Jornal Online contactou o Director de Comunicação do Ministério do Interior, intendente Mateus Rodrigues, que garantiu dar uma resposta ao Novo Jornal Online logo que possível.

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