E a razão é um conjunto de razões, umas de circunstância, como a inesperada constatação de que as reservas nos EUA estão melhor que o esperado, e outras, mais estruturais, como o fundado receio de que a OPEP+ anuncie em breve um novo aceleramento do aumento da produção.
Se os stocks norte-americanos sobem e descem semanalmente, sendo apenas importante essa montanha-russa porque os EUA são não apenas a maior economia global como ainda o maior consumidor de petróleo, já no que toca à produção do "cartel" liderado por sauditas e russos é outra história.
Desde Maio que a OPEP+, num gesto que muitos analistas não perceberam, iniciou uma retoma na produção que tem vindo a ser obliterada desde 2020 para equilibrar os mercados em alta, agora, quando o mundo antecipa uma sobrecarga na produção.
E se essa retoma começou com pouco mais de 100 mil barris por dia em Maio, nos meses seguintes rapidamente evoluiu para os 400 mil e agora já vai nos 500 mil barris por dia, sendo que os analistas estão esta quinta-feira, 04, a antecipar que a organização vai anunciar ainda mais volume de volta aos mercados.
Isto, quando as grandes economias europeias, como a alemã, francesa e britânica atravessam as mais sérias crises em muitos anos, na China já se queimou mais crude e nos EUA cada esquina do tempo é uma tormenta, e quando a Agência Internacional de Energia (AIE) prevê um excesso de oferta para os últimos meses do ano e ainda mais em 2026...
Por explicar ficará, certamente, esta política do cartel russo-saudita, mas a explicação pode ser até bem simples e a mesma de sempre... a OPEP+ abre a torneira para baixar os preços de forma a matar o negócios do fracking nos Estados Unidos, que é a grande ameaça mas que tem como calcanhar de Aquiles ter um breakeven muito elevado...
E este cenário não são apenas palavras alinhadas em frases, são consequências, como se pode ver nos gráficos dos mercados internacionais, com o barril de Brent, que serve de referência maior para as exportações nacionais, a cair 2% na quarta-feira e mais de 1,5% esta quinta-feira.
Sendo assim que, pouco depois das 14:30, hora de Luanda, deste 04 de Setembro, o barril de Brent estava a valer, perto de 66,6 USD, uma quebra de mais de 1,3 % face ao fecho de ontem, que já tinha sido um dia terrível para as contas nacionais e para todas as economias mais dependentes da matéria-prima.
Isto tudo quando, em Moscovo, russos e chineses aumentam robustamente o negócio na área da energia, com novos contratos para levar mais e mais crude e gás russos para o gigante asiático, e quando a Índia já deu, em definitivo, um pontapé no castigo tarifário de Washington para demover Nova Deli a continuar a comprar o petróleo russo.
A relevância disso é que se chineses e indianos comprar aos russos, apesar das sanções gigantescas do ocidente, significa que outros grandes exportadores ficam com o seu crude nos depósitos...
E Angola é uma das partes mais sensíveis a estes humores internacionais, porque a sua dependência da matéria-prima é ainda substantiva.
Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.
Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo, que pode ser obrigado em breve a avançar para uma revisão do OGE.