Depois de prestado socorro às vítimas, na maior parte, segundo os media portuguesas, turistas que, nesta altura do ano, são aos milhares na zona de Lisboa onde esta o mais icónico dos vários ascensores sobre carris da capital portuguesa, a atenção está agora centrada no apuramento das causas e das responsabilidades.
Este acidente, que só tem, em Lisboa, nos tempos modernos, comparação com os grandes incêndios no Chiado na década de 1980 na forma como movimentou meios de socorro e fez estremecer os alicerces da política portuguesa, especialmente quando se aproximam as eleições autárquicas.
Isto, porque o actual presidente da câmara de Lisboa, Carlos Moedas, é o candidato do Partido Social Democrata (PSD), o partido no poder, além de ser a força política de origem do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e está no olho do furacão por causa da já bastamente noticiada provável deficiente manutenção do equipamento estar na origem da tragédia.
Embora as investigações, a cargo da Polícia Judiciária (PJ), equivalente em Angola ao Serviço de Investigação Criminal (SIC), só agora estejam a começar, depois de os últimos corpos terem deixado o sítio ao longo da noite, já se sabe que a carruagem desceu descontroladamente a ladeira após o rebentamento do cabo de aço que a sustem e gere na descida e na subida.
De cada vez, especialmente no Verão, com a afluência gigantesca de turistas de todo o mundo à capital lusa, que sobe e desce, cada uma das duas carruagens transporta 42 pessoas, o que faz com que o eventual excesso de uso e peso possam estar na génese da deterioração acelerada do cabo de sustentação.
A isso acresce a deficiente manutenção que, segundo vários media portugueses, é impossível de escamotear porque, como em muitos outros serviços, em Portugal, está numa frenesim para passar para os privados, e quando tal sucede nem sempre a segurança se sobrepõe ao lucro.
Como relataram várias testemunhas às televisões portuguesas, apesar desta tragédia sem precedentes, alguma "sorte" levou a que uma das carruagens estivesse quase no ponto de saída, o que poupou os seus passageiros a uma situação análoga a outra viatura que estava em fase de descida quando o cabo de aço rebentou.
Para já, quando são em Lisboa, e em Luanda, 09:40, e segundo os últimos dados fornecidos pelas autoridades portuguesas, são já 16 mortos e 23 feridos, pelo menos cinco destes em estado crítico, o que pode elevar ainda mais o balanço trágico deste acidente, havendo entre estes crianças.
E quando, no meio da tumultuosa situação que se gerou com o acidente, ao final da tarde de quarta-feira, se começou a perceber que a deficiente manutenção pode estar na génese da tragédia, como ocorre em tantas ocasiões, foi possível verificar que de um lado e do outro das barricadas políticas se procurou tirar dividendos da situação em bora sem fazer disso, descaradamente, a prioridade, com a oposição a vincar a responsabilidade da autarquia, que tem um papel preponderante na empresa estatal de transportes públicos (Carris) e a oposição, a destacar a questão da alegada manutenção inadequada.
As nacionalidades das vítimas ainda não eram conhecidas na totalidade a esta hora da manhã, mas, até ao momento, não há notícia de que que existam angolanos entre os feridos e os mortos.
Perante este cenário trágico, a câmara de Lisboa decretou três dias de luto municipal e o Governo um dia de luto nacional, esta quinta-feira.'
Os feridos foram levados para os vários hospitais de Lisboa e os mortos para o Instituto de Medicina Legal tendo o Governo despoletado o processo de acionamento da equipa de medicina legal para casos de catástrofes de grandes dimensões, de forma a acelerar as autópsias, que podem ser fundamentais para o apuramento, se não das causas, das consequências deste que é um dos mais graves acidentes na capital portuguesa.
O Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST) acionou um plano de contingência e reforçou as reservas de sangue dos hospitais que deram resposta às vítimas do acidente de quarta-feira no elevador das Glória, em Lisboa.
Numa nota enviada na quarta-feira à noite à Lusa, o IPST diz que tem estado a acompanhar a situação das reservas de sangue dos hospitais que deram resposta às vítimas do acidente, que provocou 15 mortos e 23 feridos, para garantir resposta a todas as necessidades que surjam.
Até ao momento, o IPST refere que as existências em sangue e componentes sanguíneos satisfazem as necessidades.
Entretanto, já tiveram alta alguns dos feridos no acidente com o elevador da Glória, que tinham sido assistidos no Hospital de Santa Maria, adiantou à TSF o gabinete de comunicação do Santa Maria.
No local do descarrilamento, perto das 09:45, era ainda possível ainda ver os destroços e a carruagem completamente deitada. Há muitas pessoas que se juntam para ver aquilo que ficou do acidente com o elevador da Glória.
Para já, não há autoridades no local a fazer trabalhos, só está presente a polícia para impedir a circulação na zona envolvente à carruagem que descarrilou.
Partidos políticos reagem a "acidente muito grave" e pedem avaliação ao que aconteceu
As reações de pesar ao acidente no elevador da Glória chegam dos partidos políticos. Na rádio portuguesa TSF, Alexandra Leitão, candidata do Partido Socialista à câmara de Lisboa, deixava uma mensagem de solidariedade às vítimas e família.
"É um acidente muito, muito grave, que nos deve a todos deixar com uma terrível tristeza e com vontade de manifestar esta solidariedade. Depois, há que perceber o que aconteceu, o que falhou, quem falhou. Iremos acompanhar, obviamente, com enorme detalhe e preocupação", afirmou, esperando que as investigações possam revelar o que aconteceu.
O mesmo sublinha João Ferreira, candidato à câmara de Lisboa apoiado pela CDU, que destaca, segundo a TSF, desde logo, a resposta rápida de socorro às vítimas: "Houve uma mobilização rápida de meios para o local também. É fundamental agora que todo o cuidado seja prestado na assistência às vítimas."
Também o candidato do Chega à câmara de Lisboa, Bruno Mascarenhas, diz ter ficado "chocado" com o que aconteceu: "Acho que ainda não é altura para conseguirmos já ter certezas. Acho que era seria altura de uma certa prudência e de avaliarmos o que aconteceu e o porquê, olhando exatamente aquilo que são as deficiências que este sistema tem."