O Executivo angolano, com o Programa de Revitalização daquela cultura (PRCA) pretende retomar a produção do grão de café arábico em grande escala, com a inclusão de milhares de famílias camponesas.
A província de Malanje entrou sexta-feira, 27, no "Roteiro da Produção do Café Arábia" com a implantação na aldeia Mussende, a 25 quilómetros da sede do município de Cangandala, de um viveiro que vai produzir 500 mil mudas para serem entregues de forma gratuita às famílias camponesas das aldeias Bango, Camana e Sango, durante a primeira fase.
O director técnico do Instituto Nacional de Café (INCA), engenheiro Magalhães Lourenço, garantiu que "o município de Cangandala tem condições propícias para a cultura do café arábica, à semelhança dos outros municípios, sobretudo do Mussende (Cuanza Sul) para expandir a actividade na região".
O INCA intervém nos municípios de Calandula, comuna do Kinje, onde, na safra agrícola que agora acabou (2022/2023), os cafeicultores familiares comercializam 17 toneladas de café mabuba, e de Massango, com uma cooperativa que vai beneficiar de um viveiro para atender os demais produtores da região.
O administrador municipal de Cangandala, Dilangue Baião, afirmou que o projecto é um desafio do Ministério da Agricultura para a Administração Municipal e os camponeses que pela primeira vez se tornam cafeicultores, e cuja principal cultura é a mandioca.
"Queremos abraçar este desafio de Cangandala ser pioneira na produção do café, e mobilizámos as comunidades das comunas do Bembo, Cula Magia, Caribo e Cangandala (sede), entre crianças, jovens e adultos (homens e mulheres)" para aprenderem as técnicas de cultivo deste grão.
A preparação de terras para a cafeicultura contará com recursos financeiros do Plano Integrado Municipal de Combate à Pobreza, garantiu Dilangue Baião, que considerou este "diamante negro", que deve contar com a participação dos aldeãos, que vão igualmente beneficiar da assistência técnica dos quadros da Estação de Desenvolvimento Agrário (EDA), financiamentos bancários e outros incentivos do Governo angolano.
Maria Domingos Papusseco, camponesa de 52 anos, que participou pela primeira da plantação de um viveiro do género, considera que a vida dos habitantes do município vai melhorar com o dinheiro da venda do produto.
Maria Lucas Mussamba, camponesa, 42 anos, residente na aldeia Kissamba, disse ao Novo Jornal que acredita que no futuro a fome vai diminuir, haverá dinheiro, "estamos fracos não temos nada em Cangandala, nos outros municípios a população recebe comida, por isso viemos aqui".
O adjunto do regedor Beje, Cândido da Costa, em Cangandala, que aplaudiu a iniciativa do Ministério da Agricultura e Florestas, considerou que esta acção "vai garantir, no futuro, o desenvolvimento da localidade, principalmente para a melhoria do bem-estar dos filhos que necessitam de escolas em condições e professores, hospitais com medicamentos, equipamentos, enfermeiros e médicos".
Iniciativa nas quatro províncias
A coordenadora do Programa de Revitalização do Café Arábica (PRCA), engenheira Júlia Ferreira, disse que o projecto está virado essencialmente ao apoio às famílias camponesas das províncias de Malanje, Bié, Huambo e Huíla.
Em Malanje, no Pólo Agro-industrial de Capanda, município de Cacuso foi instalado um viveiro com capacidade de produção de dois milhões de mudas, outros viveiros para o cultivo de 500 mil exemplares do café arábica estão implantados no Huambo (Mungo), no Bié (Instituto Médio Agrário do Andulo) e na Huíla (Caluquembe e Caconda).
O município de Cangandala despertou o interesse na produção do café e foi instalado um campo modelo "para que os camponeses possam observar e criar campos dos géneros nas lavras".
Júlia Ferreira anunciou a criação de um campo modelo para atender produtores familiares, com a introdução de culturas intercalares [mandioca, milho, feijão, outras] para garantir a subsistência alimentar e económica, e outro modelo para o sector empresarial que se propõem a produzir "mudas sem culturas intercalares".
A coordenadora do PRCA disse que o lema do executivo do Presidente João Lourenço é "produzir, produzir" para responder aos desafios da diminuição das importações e aumento das exportações, em que o café consta da cadeia de valores para a arrecadação de divisas.
O montante disponível do Fundo de Desenvolvimento do Café Arábica (FDCA) não foi tornado público durante a cerimónia de Cangandala, mas a PCA do mesmo, Sará Bravo, garantiu que é intenção do Governo Angolano revitalizar a produção da cultura em novos campos.
O Fundo do Café está alinhado com o INCA e com o PRCA para apoiar os cafeicultores com dinheiro e instrumentos de trabalho, referiu, justificando que "o café é um produto que pode ajudar o nosso país a sair das dificuldades que Angola tem passado".
Muitas cidades angolanas foram construídas com o dinheiro do café, lembrou Sara Bravo, que convidou os presentes a investirem na produção do "ouro negro", que depois de três ou quatro anos os frutos serão visíveis.
Uma aula magna no campo modelo em Mussende (Cangandala) sobre a planificação, produção, colheita e comercialização do café foi ministrada pelo técnico do INCA, José Marimba dirigida aos camponeses, técnicos do Instituto de Desenvolvimento Agrário (IDA), produtores e membros da Administração Municipal da localidade.