Em conferência de imprensa após intervir na Assembleia Nacional, António Guterres disse que discutiu a situação económica com o Presidente angolano, João Lourenço, com quem se encontrou na manhã de segunda-feira, 24.

"Conheço muitos países africanos e, tal como em muitos deles, Angola suporta um fardo excessivo da dívida e continua demasiadamente exposta a choques externos", afirmou, lembrando que transmitiu a mesma mensagem recentemente na Cimeira do G20.

Guterres apelou a "uma reforma profunda da arquitetura financeira mundial que reflita o mundo de hoje, que ofereça financiamento acessível e previsível, em vez de penalizar as vítimas de crises que não causaram".

O responsável defendeu igualmente que os países africanos devem ter "o lugar que lhes cabe" em todas as organizações internacionais, incluindo as instituições financeiras multilaterais e o Conselho de Segurança das Nações Unidas.

"É um escândalo que ainda não haja membros permanentes do continente africano" na ONU, afirmou, sublinhando que "o `status quo` é insustentável" e que, sem reformas, "gerações inteiras serão condenadas a pagar o preço de decisões tomadas noutros lugares".

O líder da ONU destacou que a visita ocorre num momento especial em que Angola celebra o cinquentenário da independência, assinalando ter uma "dimensão profundamente pessoal".

"Nunca esquecerei que a luta de libertação nacional contribuiu para abrir caminho à democracia no meu próprio país", afirmou, acrescentando que regressar a Angola é "voltar a um país que marcou profundamente" o seu percurso e a sua consciência.

Guterres elogiou ainda o papel de Angola na mediação de conflitos na região dos Grandes Lagos, qualificando o país como "um pilar da União Africana" e "um parceiro importante das Nações Unidas".

Angola, disse, é uma voz que fala em favor da "reconciliação e de soluções africanas para crises africanas".

"Angola sabe quanto custa a guerra e quanto vale a paz", sublinhou.

Por outro lado, abordou também as questões climáticas, destacando que o país enfrenta secas severas, com impactos dramáticos para as comunidades rurais.

"A justiça climática exige um apoio massivo e imediato a países como Angola, para sistemas de alerta precoce, agricultura resiliente, gestão de terras e florestas e uma transição energética justa", afirmou.