Quando o barril de Brent, a referência principal para as ramas exportadas por Angola, voltou a estar acima dos 90 USD, a 15 de Abril, o mundo estava em polvorosa, devido à guerra em Gaza e ao agravamento do conflito com Israel a ameaçar os campos petrolíferos do Irão.

Hoje, o mundo não está mais seguro, como o demonstra o avanço israelita sobre Rafah, uma das "red lines" que vários países árabes e islâmicos da região colocaram, incluindo o Irão, ou o reacendimento do frenesi da guerra na Ucrânia...

Mas a percepção nos mercados e nos seus analistas é distinta, fazendo crer que estes acreditam que se o mundo não explodiu numa espiral de violência no Médio Oriente naquela altura, dificilmente tal poderá suceder agora...

O Médio Oriente, mesmo não tendo a mesma importância no fornecimento de petróleo ao mundo como tinha nos idos de 1970 a 1990, ainda é responsável por perto de 35% do crude queimado no Planeta.

E uma ameaça de disrupção gera sempre pânico, mais ou menos disfarçado pelos durões dos analistas dos mercados, que resistem a mostrar medo mas quando um deixa cair uma moeda ao chão, todo o sector tilinta...

Mas o motivo imediato para esta queda acentuada verificada hoje, na continuidade do que chega dos últimos dias, ou mesmo semanas, é que a Agência Internacional de Energia (AIE) revelou agora dados que apontam para uma redução da procura global e a persistência da inflação nas grandes potências consumidoras de energia.

A AIE afunilou as suas previsões de crescimento da procura, como nota a Reuters, devido ao esfumar da necessidade da matéria-prima nos países desenvolvidos, que são uma importante "chama" para queimar crude, dos quais está excluída a China e a Índia... muito por causa de fenómenos como a inflação em alta e as taxas de juro inflamadas.

Ou seja, o crescimento esperado para 2024 foi encolhido em 140 mil bpd, para 1,1 mbpd, embora este efeito borboleta tenha ficado sem asas porque em voo contrário, os EUA, a maior economia global e o maior consumidor de energia do mundo, está a dar sinais de maior consumo verificando-se uma contracção nos seus stocks.

E a isso não é alheio o desfolhar do calendário da Primavera para o Verão no Hemisfério Norte, onde, especialmente nos EUA, as famílias fazem longas viagens nos seus carros de grande cilindrado e enorme sede por gasolina, levando as refinarias a aumentar a pressão nos tubos.

E isto é substantivamente importante para Angola porque...

... apesar de ter abandonado a OPEP recentemente, Angola é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica.

E ter o Brent nos 81 USD, embora sendo ainda bastante acima do valor médio usado para elaborar o OGE 2024, 65 USD, o que permite diluir alguns dos efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, até porque o país enfrenta também o problema da persistente redução da produção diária, a verdade é que mostra uma redução desse superavit.

Com OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes valores actuais permitem um relativo optimismo, mas aumentar a produção é o factor-chave, o que ficou mais fácil depois de Angola ter, em Dezembro passado, anunciado a saída de membro da OPEP, o que deixa um eventual acréscimo da produção fora dos limites impostos pelo cartel aos seus membros como forma de manter os mercados equilibrados entre oferta e procura.

O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Presidente da República, João Lourenço, deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.