Entre os que acreditaram tratar-se de um reposicionamento de Donald Trump face ao conflito na Ucrânia, assumindo a "guerra de Biden" como sua, estiveram o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e, entre outros, os líderes da Alemanha, França e Reino Unido, como se viu com o aumento da retórica agressiva face a Moscovo.

Esta publicação de Trump na sua rede social, Truth Social, que apelidou de "Truth", "verdade em português, colocava como única condição para a vitória ucraniana um pouco mais de apoio europeu a Kiev, porque a economia da Federação não aguenta muito mais sem se desfazer em cacos.

Mas outros líderes europeus mostraram menos entusiasmo, como o polaco Donald Tusk, porque, pouco depois, entre outros, o antigo analista da CIA Larry Johnson, vinha a público defender que, face à incredibilidade da possibilidade de Kiev não apenas recuperar os territórios perdidos para a Rússia, como ainda poder conquistar regiões da Federação Russa, só podia significar "sarcasmo" e um adeus definitivo dos EUA ao conflito ucraniano.

Isto, porque não é segredo, ou não era, pelo menos, que Donald Trump tem vindo a desligar os EUA da frente de apoio incondicional à Ucrânia que criou durante a anterior Administração Biden, deixando que oferecer material militar, embora o esteja a "vender aos europeus" para que estes o ofereçam a Kiev, e perante o inexequível cenário de uma vitória esmagadora da Ucrânia, tremendamente humilhante para a Rússia, esta publicação só podia ser ironia rugosa.

É claro que, ao mesmo tempo, houve que tivesse defendido que Trump estava apenas a procurar convencer a União Europeia e os países da Europa Ocidental que integram a NATO a comprar mais armas norte-americanas para ajudar Kiev a dar a último estocada no Kremlin, sem uma intervenção directa dos EUA como pede a União Europeia e o Reino Unido.

Ora, as dúvidas geradas pela publicação de Trump do dia 23 (ver links em baixo) mantiveram-se até esta segunda-feira, 29, quando o vice-Presidente JD Vance decidiu vir a terreiro acabar com elas, garantindo que o Presidente Donald Trump queria mesmo dizer o que disse sem ironia nem sarcasmo.

E essa versão é confirmada quando Vance, numa entrevista ao canal norte-americano Fox News, reafirma que "a Rússia deve acordar e aceitar a realidade" acabando com uma guerra onde "tem muito pouco para mostrar" quando à sua capacidade militar, dando assim azo à versão "tigre de papel" de Donald Trump, naquilo que agora se percebe ter sido uma mudança radical da sua posição sobre a guerra.

Isto, porque ao longo destes quase nove meses de regresso à Casa Branca, Trump manifestou em diversas ocasiões a opinião de que Kiev teria de aceitar algumas das condições russas para acabar com o conflito, nomeadamente a perda da Crimeia e parte do Donbass.

Agora, numa estrondosa mudança de "chip", os EUA apostam na vitória ucraniana sem rodeias, aparentemente, pelo menos, porque se o vice-Presidente vem secundar o que Trup disse num "post" polémico e difuso, é porque a posição oficial é aquela que agora é retomada por JD Vance.

A não ser, como também já começou a ser defendido por alguns analistas, que Vance esteja na mesma toada de Trump a procurar empurrar os aliados europeus para uma encomenda substantiva de armas americanas para entregar à Ucrânia.

Entretanto, quase em simultâneo, em Moscovo, o Presidente Vladimir Putin fez saber que tem nova proposta para acabar de forma negociada com a guerra, embora ainda não se conheça o conteúdo, e voltou a insistir, de forma empenhada, no convite a Trump para se deslocar a Moscovo, depois de o ter feito em Anchorage, no Alasca, onde, em Agosto esteve reunido com o norte-americano para o histórico encontro que marcou a retoma das relações entre Moscovo e Washington.