Esta operação de reconhecimento das IDF foi divulgada pelos serviços de comunicação israelitas para deixar claro que as palavras do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e do seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, os dois maiores falcões de guerra em Telavive em voo picado sobre o Hamas, não estão a ser proferidas para semear o vento de expectativas infundadas tanto no seio das suas forças militares como no povo em Israel.
Depois dos ataques inauditos e mortíferos do braço-armado do Hamas, as Brigadas Al Qassam, a 07 de Outubro, no sul de Israel, o Governo israelita prometeu efusivamente que esta organização que Governa o território de Gaza desde 2007 seria destruída sem apelo nem agravo, iniciando a preparação da mais robusta máquina de guerra em décadas para o efeito, mobilizando mais de 300 mil reservistas e juntando no mesmo local milhares de blindados.
Agora, quase três semanas passadas, pela primeira vez, como se pode ver nos vídeos divulgados nas redes sociais pelas IDF, o Tsahal, Exército israelita, entra em força em Gaza com a missão de reconhecer posições do Hamas e efectuar estudos, segundo algumas fontes, com radares de penetração do solo (GPR, na sigla em inglês), para localizar os temidos tuneis que enxameiam o subsolo de Gaza e é a principal arma dos combatentes palestinos para "receber" as forças israelitas.
Nesses vídeos podem ser identificados blindados, de combate, com equipamento de remoção de obstáculos e, aparentemente, de transporte de pessoal, onde estariam montados os GPR para mapear as "tocas" do Hamas, onde mantém perto de 200 reféns israelitas raptados na incursão de 07 de Outubro e que servem de escudo para os esperados ataques das IDF, especialmente a possibilidade de uso de gás para obrigar os combatentes a sair dos tuneis.
Isto, porque, ao que tem sido admitido por cada vez mais analistas militares, as quase duas décadas que o Hamas teve para aprimorar a sua rede de tuneis, permitiu usar profundidades cada vez mais acentuadas, o que torna os bombardeamentos aéreos e o uso de morteiros pesados quase inúteis para os atingir, embora estejam a provocar uma mortandade e destruição na superfície.
Mortandade essa que já passou os 6.500 mortos, perto de 2.500 crianças, e mais de 14 mil feridos, que fazem transbordar os hospitais, que, por sua vez, estão a deixar de ter energia para funcionar devido ao bloqueio de energia e combustíveis israelita a Gaza, onde começa a faltar tudo, especialmente água potável por falta de energia para as máquinas de dessalinização, medicamentos e alimentos.
Este cenário tem feito crescer o grupo de países das comunidade internacional que se junta ao universo árabe para exigir um cessar-fogo humanitário, apoiado fortemente pela ONU, que anunciou estar à beira de ter de fechar as suas agências em Gaza por falta de condições de funcionamento, problema que se agravou com a fúria israelita às palavras de António Guterres na terça-feira, que chamou a atenção do Conselho de Segurança das Nações Unidas que os ataques bárbaros do Hamas não surgiram do nada mas sim de décadas de ocupação de terras da Palestina por Israel e uma violência continuada sobre o povo palestino.
Isto enfureceu o ministro dos Negócios Estrangeiros, Eli Cohen (ver links em baixo nesta página), que atacou como nunca tinha sido visto na diplomacia internacional, o Secretário-Geral da ONU com acusações de partidário do Hamas, de inimigo de Israel, anunciando o fim dos vistos do pessoal das Nações Unidas para entrarem em Israel, enquanto o seu embaixador permanente na sede da organização global pedia a demissão imediata de António Guterres.
Recusando qualquer cessar-fogo, o que está a ser severamente criticado por quase toda a comunidade internacional, embora apoiado pelos EUA, a única cedência feita por Israel nestes dias foi aceitar a entrada de algumas dezenas de camiões com ajuda humanitária para o sul de Gaza, através das fronteira de Raffah, com o Egipto, embora isso seja, como aludiu Guterres, "uma gota de ajuda num vasto oceano de carências".
Telavive exigiu ainda que nenhuma ajuda chegue ao Hamas, ameaçando com o fecho das potas de Raffah - embora sendo uma fronteira apenas entre o Egipto e Gaza, esta fronteira está também sob comando israelita desde 1973, no âmbito do acorde de paz entre Telavive e o Cairo -, e ainda que nenhuma passe para o norte do Rio Wadi, onde, segundo exigem as IDF, não deve ficar nenhum dos 1,1 milhões de pessoas que ali habitavam antes deste conflito ser reatado com mais intensidade a 07 de Outubro.
Isto, porque Israel tem em curso uma operação de bombardeamento ininterrupta sobre Gaza, com enfoque no norte, que está a transformar em escombros milhares de edifícios habitacionais, como o demonstram novas imagens divulgadas pelas cadeias de televisão internacionais, onde são colocadas lado a lado fotografias aéreas do antes e do depois do tapete de bombas israelitas.
Esta limpeza do terreno tem servido claramente para abrir corredores para as colunas de carros de combate das IDF, que, em breve, embora não se saiba quando terá lugar na sua versão definitiva, deverão entrar no território, estando, todavia, em cima da mesa um esforço internacional para impedir esse movimento maciço de forças que vai, garantidamente, fazer milhares de mortos entre as partes em combate directo e entre a população civil e inocente.
Não são conhecidos combates entre o Hamas e as IDF nesta recente incursão, mas é improvável, segundo analistas, que as unidades de combate do movimento palestiniano não tenham supervisionado os movimentos da coluna israelita e optado por não entrar em combate, até porque o que vai contar, de um e do outro lado, é a batalha decisiva que deverá começar nos próximos se não for travado pelos EUA - mas ninguém sabe nem quando nem como vai acabar.
Uma das possibilidades é que este conflito não só perdure no tempo como alastre para o Líbano, Síria e Jordânia, até porque o Irão, país que é a outra grande potência militar do Médio Oriente, já anunciou que se Israel invadir Gaza, o seu braço armado no Líbano e na Síria, o Hezbollah, o mais poderoso dos corpos militares sem a bandeira de um Estado por detrás, abre uma segunda frente de combate no norte de Israel.
E se isso acontecer, abeira-se ainda mais o abismo para toda a vasta região do Médio Oriente, até porque os governos de países tradicionalmente, pelo menos nas últimas décas, mais contidos, como os sauditas, os egípcios, iraquianos ou até sírios e iemenitas, entre outros, não terão a vida facilitada com milhões de pessoas entre os seus povos nas ruas a exigir que os "irmãos" palestinianos sejam ajudados de forma ilimitada.