Com esta decisão, e tendo em conta que a Turquia não esconde as suas críticas a países como o Egipto e os Emirados Árabes Unidos por apoiarem abertamente o general Khalifa Aftar, que desafia há meses, vindo do sul, o Governo oficial e reconhecido pela Comunidade Internacional de Fayez al-Sarraj, Ancara dá um passo claro rumo a uma situação nova em África, o que levou ao surgimento imediato de reacções negativas dos países europeus vizinhos, como o Chipre, Malta, a Grécia, entre outros.

Para piorar a situação, o general Khalifa tem ainda o apoio, denunciado por vários organismos internacionais mas não reconhecido oficialmente, de países como o Reino Unido, os EUA ou ainda a Rússia, através do envio de mercenários para a linha da frente, o que faz com que este possível envio de forças turcas, em apoio a Fayez al-Sarraj, para o palco das hostilidades neste país do norte de África seja mais uma achega pesada para o já de si perigoso e complexo contexto.

Para já, como temem os analistas, com esta decisão, mesmo que ainda não tenha sido enviado qualquer soldado turco para o terreno, pelo menos oficialmente, está criado o cenário propício à intensificação das hostilidades porque vai obrigar Khalifa a apressar a sua ofensiva antes da chegada dos turcos.

Isto é importante porque a Turquia tem um dos maiores e mais bem equipados exércitos em todo o mundo, sendo o mais numeroso dentro dos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO-OTAN).

A Líbia está em situação de caos político e militar deste que o histórico líder Muammar Khaddafi foi deposto e abatido num contexto de revolta popular com o apoio directo de forças ocidentais, como a França, os EUA e o Reino Unido, há cerca de uma década, em 2011.

Com este posicionamento, a Turquia envia um simbólico recado ao Egipto e aos EAU, e que passa pela concretização de uma situação de possível confronto aberto entre forças militares destes três países, havendo ainda a possibilidade de militares turcos, da NATO, serem abatidos com armas fornecidas por países igualmente da NATO, como são os EUA e a França ou o Reino Unido.

A Líbia é um estratégico país do norte de África, que fica próxima da Europa, por onde milhares de migrantes ilegais alcançam as costas de Itália e Grécia, sendo ainda um importante produtor de petróleo no seio da OPEP, onde também está Angola, e geograficamente um "tampão" estratégico entre a África subsaariana e o norte do continente, o Mediterrâneo e o Médio Oriente.

O Egipto já apelou à ONU para analisar esta situação que pode, avança o Cairo, colocar toda a região do Mediterrâneo em polvorosa.

Por detrás deste movimento turco está um recente acordo entre Ancara e Tripoli que permite à Turquia explorar uma zona marítima onde existem reservas importantes de gás natural, o que conflitua com uma pretensão semelhante da Grécia pela mesma extensão do Mediterrâneo, o que fornece ao mundo outro ponto de eventual conflitualidade.

E com esta decisão, Recep Erdogan, o poderoso Presidente da Turquia, tal como fez há meses com a invasão de uma parte da Síria, mostra ao mundo a sua disponibilidade para o risco de aumentar através da força a sua influência na vasta região do Mediterrâneo, Mar Vermelho e Médio Oriente.