A resposta, pronta e aparentemente clara, a um pedido para a resolução de um assunto, principalmente os mais complexos, ecoa tão positiva como a certeza de que todos os dias o sol nasce. O que muitos não sabem - e que qualquer angolano com alguma experiência social sabe - é que acabou de ser vítima do mais subtil e complexo sistema de comunicação não-verbal do mundo: o Tríplice Sim de Angola. Um "sim" não é apenas um "sim". É uma sílaba carregada de nuance, de contexto, de entoação e do peso implacável das conveniências.
O primeiro "Sim" é o "Sim-Sim". Raro como um diamante sem imprecisões, é proferido com o peito inflado, o olhar directo que convence. Este "sim" vem normalmente acompanhado de acções imediatas: um aperto de mão firme, o desbloqueio de um número de telefone verdadeiramente útil, aquele contacto que resolve ou a assinatura de um documento. É um evento quase mitológico.
O segundo "Sim" é o "Sim-Talvez". Este é o campeão nacional. A sua entoação é plana, acompanhada de um sorriso ligeiramente contraído e um olhar que vagueia para o horizonte, como se procurasse uma confirmação divina que nunca chegará. É um "sim" de cortesia, um placebo verbal para adiar o "não" e manter a harmonia social. É o pilar da cordialidade angolana. Ninguém quer ser o agente do "não" cru, esse estrangeiro rude e indesejado.
O terceiro "Sim" é o "Sim-Não". O mais perigoso de todos. É dito com uma velocidade suspeita, um aceno de cabeça exagerado e, por vezes, um "deixa comigo" que soa a sentença de morte. "Sim, sim, eu trato disso.". Este "sim" é, na realidade, o "não" mais redondo e irrevogável. É a forma elegante de arquivar um pedido na gaveta mais funda do esquecimento. Quem ouve um "Sim-Não" e ainda tem esperança é o mesmo tipo de pessoa que compra um bilhete para nadar com a Kianda na Ilha de Luanda.
O angolano, perante a pressão de um pedido, é invadido por uma angústia profunda. Dizer "não" é criar um conflito, uma ruga. Dizer "sim" é assumir um compromisso potencialmente oneroso. A solução genial? O "Sim-Talvez". É um exercício de liberdade "através" da ambiguidade. É a forma de adiar, não a decisão, mas as consequências da decisão.
A pergunta filosófica que se impõe é: que grande pensador poderia explicar esta trindade verbal? Descartes, com o seu "Penso, logo existo", pouco faria aqui. No contexto angolano, o lema adaptado seria "Penso, logo adio... ou talvez não". É uma ontologia do talvez. A verdadeira sabedoria em Angola não é apenas saber falar, mas também saber ouvir. É decifrar o código por detrás da palavra. É perceber que, por vezes, o "não" mais sincero vem disfarçado do "sim" mais entusiasta. E que o "sim" verdadeiro é tão raro e precioso que, quando acontece, merece ser celebrado não com um simples obrigado, mas com uma condecoração.
No fundo, o Tríplice Sim não é um defeito de carácter, mas um mecanismo de sobrevivência social sofisticado. É a camada de verniz que permite a uma sociedade de hierarquias complexas e relações intricadas funcionar sem rupturas constantes. É um "talvez" que mantém todas as portas entreabertas, porque nunca se sabe de onde virá a próxima oportunidade - ou o próximo problema.