Pensar que as causas não são internas mas sim motivadas por factores externos é tapar o sol com a peneira. O efeito borboleta, um conceito da Teoria do Caos, nos lembra que tudo está interligado. Que as nossas acções, por menores que sejam, podem ter repercussões imensas. As acções tomadas não foram nada pequenas e as repercussões foram enormes.
Discursos recheados de exageros e com um toque de xenofobia, muito próprios da era das "notícias falsas" são do tipo de razão que se encontra num copo de aguardente às 3 da manhã, entre dois desabafos e uma teoria da conspiração. Não são esses discursos que resultam em táxis paralisados, pilhagens populares e reacções desproporcionais. É um conjunto de acções tomadas, ou se preferirem, um conjunto de outras acções por tomar que podem resultar em descontentamento, reclamações, direito à manifestação pacífica e ordeira.
É certo que a fome não espera, desespera. Uma súbita obsessão pelo saque é um exemplo bem evidente do desespero, da ausência de valores éticos e morais e de uma interpretação atrapalhada de que salvação é individual. Não é desculpa para o vandalismo.
Juntar num período curto a subida do preço do combustível, da água (cuja cobertura é ainda bastante deficitária), dos transportes colectivos (também em si exíguos principalmente numa Luanda a abarrotar pelas costuras), das propinas no sector da educação (que também merece uma reflexão mais profunda) e que por sua vez fazem subir os preços da cesta básica é mais do que motivo para o efeito borboleta. Obviamente que o rastilho segue onde há pólvora. Melhor que estarmos a procurar pelos culpados é identificar as soluções para que não haja pólvora, para que haja justiça social, para que se mantenha a paz, para que haja dignidade para todos os Angolanos. De Cabinda ao Cunene, do mar ao leste.
É importante reconhecer que o furacão poderá apenas ter sido uma ventania, mas uma ventania forte. E já diz o ditado: quem semeia vento colhe tempestade.