Desde que na passada semana o Presidente dos Estados Unidos anunciou o encontro com o Presidente russo, no Alasca, um estado norte-americano que não apenas faz fronteira com a Federação Russa como já foi território russo até ao século XIX, que um optimismo flamejante se espalhou pelas páginas e ecrãs dos media internacionais.

Mas, com o passar dos dias, esse optimismo foi dando lugar a um mais reflectido contexto e, agora, a menos de 72 horas do encontro Putin/Trump, é já evidente que não existem as condições mínimas para que desse encontro resulte a fim imediato das hostilidades.

E isso é assim porque, como notou recentemente o norte-americano Lawrence Wilkerson, antigo chefe de gabinete do secretário de Estado Colin Powell, entre 2002-2005, o Presidente Trump não tem nada para oferecer a Kiev que não seja uma segurança alargada para o que restar da Ucrânia.

Isto, porque a retórica persistente de que Moscovo e Kiev possam definir os termos para uma troca de territórios é simplesmente errada porque "as cinco regiões anexadas pela Rússia (Lugansk, Donetsk, Kherson, Zaporizhia e Crimeia) já são uma realidade russa constitucional que não depende de Putin", no imediato pelo menos.

Além de que o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, já veio dizer, com total firmeza, que não aceita ceder quaisquer territórios aos russos, o que deixa de fora das possibilidades para este encontro um imediato acordo para acabar com a guerra, mas deixa em aberto a possibilidade de isso vir a acontecer através de um mais vasto acordo para a segurança na Europa Ocidental.

Isso, porque ao encaminhar a discussão para essa vertente da segurança global, Trump envolve, enquanto líder sem oposição desta, a NATO, e com ela os seus aliados europeus, sendo que nesse âmbito estará em cima da mesa, além da presença de armas nucleares na Europa, o alargamento a leste da organização militar atlântica, que deixará o conflito russo-ucraniano sem "combustível" para ser mantido numa perpectiva geoestratégica.

Para já, todas as possibilidades, mesmo que apenas em tese, estão em aberto, até porque o Presidente norte-americano, que, ao contrário do russo Vladimir Putin, que tem mantido um quase silêncio sepulcral sobre este "meeting", não se detém em sucessivos comentários, acaba de afirmar que lhe vão "bastar dois minutos de conversa para perceber" se vai conseguir convencer a Rússia a assinar um acordo ou não.

Ora, esta frase é uma "bomba atómica" atirada para cima dos discursos mais optimistas, que assentavam, até aqui, na ideia de que os líderes das duas maiores potências militares do mundo só se sentariam à mesa com um pré-acordo bem delineado previamente pelas equipas técnicas da Casa Branca e do Kremlin.

Porque se Trump vai precisar, no tête-à-tête no Alasca, de "dois minutos de conversa" para perceber se Putin está disposto a ceder o suficiente para um acordo, é porque ainda, pelo menos nesta terça-feira, 12, cerca das 11:00, hora de Luanda, ainda não fazia ideia se o seu homólogo russo levaria na mala uma proposta com essa prorrogativa, da cedência em alguns pontos-chave.

O que é altamente improvável, como tem sublinhado Jeffrey Sachs, renomado analista e economista da Universidade de Columbia, que defende que não é realista que os EUA ainda assentem a sua estratégia para alcançar a paz na Ucrânia na ideia irreal de que Moscovo vai ceder nos seus pilares principais.

Isso, porque Sachs, no que é acompanhado por John Mearsheimer, outro dos mais renomados especialistas em política internacional e geoestratégia, professor da Universidade de Chicago, entende que aos EUA não resta outra saída para conseguir a paz que não seja levar Kiev a ceder à generalidade das exigências russas, porque, caso contrário, apenas acrescentará lenha na fogueira do leste europeu.

Putin já definiu, desde Julho de 2024, as condições precisas para aceitar sentar-se à mesa com os ucranianos e assinar um acordo de paz, que, em síntese, passa por Kiev aceitar a soberania russa sobre o conjunto integral das cinco regiões anexadas, garantir formalmente a neutralidade da Ucrânia fora da NATO, e o respeito pela cultura e línguas russas no que restar da Ucrânia do pós-guerra.

Para já, outra questão que pode ser dramática está a emergir dos contactos entre Zelensky e os seus aliados europeus, que além de insistirem que têm forçosamente de estar sentados à mesa das negociações, exigem que Trump não admita quaisquer acordos que não assentem na soberania integral de Kiev no total dos territórios que resultaram da independência do país da então URSS em 1991, incluindo, naturalmente, os ocupados actualmente pelos russos.

Não é por acaso que Donald Trump já começou mesmo a preparar o mundo para a possibilidade de nada correr como se esperaria normalmente de um encontro desta natureza, que deveria estar alicerçado em negociações técnicas sólidas e prévias, ao dizer, na mesma conferência de imprensa que espera que "tudo corra bem" mas admitindo que "tudo pode correr muito mal".

Na melhor das hipóteses, partindo das palavras do Presidente norte-americano, o que se pode admitir como resultado deste encontro é um cessar-fogo limitado, provavelmente nos ataques aéreos, porque um acordo de paz é já carta fora do baralho, excepto se Vladimir Putin, que se mantém e silêncio, encontrar um "cisne negro" que volte a baralhar as cartas para serem de novo dadas aos "players".

Trump e a sua equipa parece estar mesmo já a preparar os próximos passos que lhe permitam dizer que este encontro no Alasca foi um sucesso ao avançar que tem ainda na agenda um próximo, desta vez com Zelebsky a bordo, onde serão então limadas as arestas finais...

Só resta saber se haverá tempo para isso, porque as últimas informações chegadas da frente, através, por exemplo, do canal do YouTube "Millitary Channel", um "mapper" com inclinações pró-russas mas com informações sólidas sobre os avanços e recuos na linha da frente, é notória a superioridade russa, com avanços substantivos nas regiões mais importantes como Pokrovsk, em Donetsk, onde as posições ucranianas estão em iminente colapso.

Com este cenário de iminente colapso das posições ucranianas, o que significaria que os russos podem estar à beira de tomar o que resta das regiões anexadas ainda em posse das unidades leais a Kiev, os temas elegíveis para as conversas entre Trump e Putin teriam de ser alterados e as questões territoriais sairiam da agenda.