Se considerarmos que o tempo é o nosso recurso mais precioso, pois é absolutamente não renovável, e o que temos à nossa disposição esvai-se na clepsidra da vida de forma inexorável aproximando-nos a cada instante do fim, percebemos quão importante é não o desperdiçarmos gratuitamente. As estradas são essenciais para que a nossa linha de horizonte se torne mais próxima, estendendo a nossa experiência bem para lá do limitado pedaço de terra que habitamos todos os dias. Mas a sua adequada conservação é um factor essencial para que não se tornem uma armadilha.
Em Angola, as estradas são um instrumento claro para avaliarmos em que medida vamos perdendo o País. Em determinado momento da nossa história, elas quase só existiam para fins militares. Estávamos acantonados nas urbes, sendo cada movimento um perigo. Agora, troços degradam-se ao ponto de transformar o seu percurso numa aventura. Um país sem estradas é um mar de ilhas distantes e inatingíveis. Uma constelação de sofrimento. Uma impossibilidade social e económica.
Os milhões que foram vertidos, "generosamente", na sua reconversão - muitos dos quais alimentaram contas bancárias indevidas de nacionais e estrangeiros que na euforia, e enganadora abundância, deles se aproveitaram - devolveram-nos um país depois da paz. Mas proporcionaram-nos também, com o correr do tempo, muitas frustrações. A constatação da desonestidade reinante que impediu, e impede, que as soluções encontradas sejam perenes. E que as opções escolhidas sejam as que têm um melhor custo-benefício.
Ademais, a falta de manutenção das infra-estruturas é a demonstração da nossa mediocridade. Sempre que temos que refazer, quase integralmente, qualquer activo no qual investimos, estamos a mostrar a nossa incompetência. Sempre que agendamos uma reinauguração, estamos a demonstrar a nossa inconsciência e falta de vergonha. Sempre que não sancionamos os desonestos, estamos a ser pusilânimes. Sempre que deixamos que a degradação afecte o funcionamento de uma estrutura construída para melhorar o funcionamento do País, estamos a comprometer o futuro.
(E isso acontece com as escolas, os hospitais, os sistemas de abastecimento de água e energia, as instalações da administração pública, e quase tudo o resto onde aplicamos os parcos recursos de que não dispomos. Enquanto houver mais disponibilidade para alocar recursos para a construção de algo novo, do que para conservar o existente, estamos a mostrar a perversão do nosso circuito de decisão.)
As estradas são um exemplo claro dessa incapacidade de apostar na manutenção das infra-estruturas, com acções que permitam não só a sua conservação com um custo razoável, mas o seu adequado grau de disponibilidade. Não só para transportar sorrisos, mas para eliminar obstáculos, alavancando todos os outros sectores.
São o exemplo claro de quão longe estamos de conseguir resolver os problemas do povo.