Neste momento, a excepção é o andebol, que ainda vai ganhando qualquer coisa a nível de África. Porém, na arena mundial, há muito que vem caindo de forma vertiginosa, saindo do sétimo lugar no "Mundial" de 2007, em França, para a 15.ª posição em 2019, no Japão. Do modo como as coisas têm evoluído e devido ao desinvestimento sério do Governo no desporto, é possível que num futuro não muito distante até em África tenhamos dificuldades de vencer.
Obviamente que Angola não é o que se pode considerar uma potência desportiva continental e muito menos mundial. A colheita de medalhas em Jogos Pan-Africanos e a "seca" em Jogos Olímpicos atestam isso. Mas há uns anos estava num patamar competitivo apreciável em África. Ganhava em basquetebol e no andebol, vez por outra uma medalha no atletismo ou no Karaté ou noutra modalidade individual, mantendo a bandeira do País no mapa do desporto universal. Hoje, porém, o cenário é bem diferente. A ponto de no basquetebol a selecção que ostenta 11 títulos continentais se ter transformado em "saco de pancada" de qualquer Quénia, Cabo Verde, Marrocos ou RD Congo. Confrangedor!
São várias as razões que subjazem ao desempenho tétrico do desporto nacional na arena internacional. Uma das principais é a corrupção que grassa pelo país e que a todos os sectores toca. No saque generalizado e desenfreado dos cofres públicos ocorrido durante quase uma década - mais ou menos de 2004, dois anos após a morte de Jonas Savimbi, a 2014, início da "crise do preço do petróleo" -, o desporto não foi uma ilha. Também houve dirigentes do sector que mamaram fartamente da teta, da qual jorrava dólares às quantidades. Muitos dólares...
Em resultado desse "assalto a mão armada", enquanto dirigentes das principais federações e de alguns clubes sustentados pelo Orçamento Geral do Estado enriqueceram de forma imoral - poucos conseguem justificar os "impérios" que construíram ou os luxos que ostentam -, a capacidade competitiva do país baixou drasticamente. Tudo o que foi construído décadas atrás, com muito sacrifício e pouco dinheiro, mas com uma solidez considerável, perdeu-se para sempre. É, aliás, esse sistema corrupto que afastou competências e promoveu mediocridades, tendo por critério exclusivo o compadrio.
Não é, pois, sem razão que eleições em federações desportivas muitas vezes se transformam em verdadeiras batalhas campais, em guerras sem quartel, onde, usualmente, o assassinato de carácter preside as conversas de bastidores. Tal como chegar a ministro significava, à partida, mudança de vida para melhor (mesmo com um ordenado pouco mais que mediano), ser presidente de federação era igualmente sinónimo de mudança de status fazendário. Afinal, o Estado é o maior patrocinador do desporto nacional e a sua capacidade de fiscalização dos dinheiros alocados ao desporto é, por muitas razões, ainda débil.
Outro motivo ponderável dos sucessivos revezes do desporto angolano nos últimos tempos é o desempenho geralmente macio da comunicação social angolana. Praticamente sem massa crítica, raras vezes os principais problemas do desporto são escalpelizados com ciência e seriedade. E em algumas dessas escassas ocasiões, as cartas do debate ou da opinião estão marcadas para "linchar" A, B ou C no espaço público, bastas vezes sem direito a apresentarem a respectiva versão dos factos.
Um exemplo claro é o que acontece no futebol. Não é entendível o silêncio quase tumular da media doméstica em relação ao desempenho da Selecção Nacional AA. É no mínimo intrigante a forma como dirigentes da Federação Angolana de Futebol (FAF) e o próprio seleccionador nacional são levados ao colo pela comunicação social. Esta mesma que num passado não muito distante e com alguns dos mesmos actores do presente não se cansou, por exemplo, de vergastar Oliveira Gonçalves, o melhor técnico das "Palancas Negras", de acordo com as estatísticas.
O problema não está apenas na tortuosa caminhada da Selecção Nacional AA. Está, também, no facto de a FAF ter regressado à idade da pedra, optando por um treinador de clube, algo em desuso já há séculos. Em nenhum país que leve o desporto a sério isso acontece. Mais: em nenhum país onde a imprensa não está manietada se "ouviria" tanto o seu silêncio. Estranhamente, entre nós, esta situação foi elevada à categoria de normalidade, mesmo vendo os exemplos de outros países, na Europa, onde está o melhor futebol do Mundo, na América do Sul, de onde procedem alguns dos maiores craques do futebol internacional e até em África.
Muitos de nós temos acesso à comunicação social estrangeira e acompanhamos com olhos de ver as distintas reacções quando as coisas não correm bem. Pelo que nos é dado a observar, no Brasil ou em Portugal - só para citarmos exemplos de países lusófonos, cujo idioma todos entendemos - não haveria, seguramente, tanta complacência da comunicação social com a direcção da Federação. A massa crítica agiria de tal forma que, certamente, nos poupariam daquele triste espectáculo da selecção feminina de Sub-20 que há dias foi para um jogo oficial em casa com apenas duas suplentes que eram... guarda-redes e, quando uma jogadora de campo se lesionou, não havia substituta, tendo-se a equipa aguentado com 10. Isto era motivo de sobra para uma abordagem profunda sobre os caminhos por que passa o nosso futebol. Mas, a discussão praticamente não passou de grupos de jornalistas nas redes sociais.

Angola conquistou muitos títulos africanos de basquetebol e andebol na década de 1990, num porfiado trabalho iniciado no decénio de 1980, que também rendeu título continental de atletismo. Além do trabalho denodado de técnicos, dirigentes e atletas, essas proezas foram possíveis em parte graças ao contributo da comunicação social, com o seu sentido crítico. Por outras palavras, as primeiras gerações de jornalistas desportivos colocaram as suas pedras no edifício que se construiu. Do mesmo modo, a geração seguinte ajudou nos feitos da década de 2000. É verdade que, por ausência de formação e de um conhecimento mais profundo do fenómeno desportivo, houve excessos da parte da media. Mas, o escrutínio permanente das acções de federações e técnicos levou a que se trabalhasse seriamente. Ao contrário da actualidade...