A honra deste jogo inaugural de basquetebol em Angola está historicamente reservada à Associação dos Estudantes do Liceu Salvador Correia e ao Sporting de Luanda, com a vitória do confronto a sorrir para o verde e branco da capital por, hoje risíveis, 8-5, como nos relata o Silva Candembo. Após isso, e com o passar dos anos, gerou-se uma afinidade especial entre este jogo maravilhoso e as pessoas nascidas neste território. Tanto é verdade o que digo que, por exemplo, tivemos um Benfica do Lubango em femininos, em que pontificava a famosíssima Regina Peyroteu, a conquistar um tri-campeonato português e a ser vice-campeão europeu em 1963, numa final épica diante do grande Real Madrid em praga, na antiga Tchecoslováquia.

Depois chegou a Independência e com ela, diante da debandada generalizada dos técnicos, atletas e demais pessoas ligadas ao nosso jogo, para a então metrópole por força dos circustancialismos do processo de descolonização, a continuidade da prática da própria modalidade foi posta em causa num primeiro momento, segundo reza a história. Mas, qual fénix renascendo das cinzas, o nosso amado jogo resistiu, sobretudo, pela teimosia, coragem e capacidade mobilizadora de um punhado de valorosos entusiastas e amantes do basquetebol que por aqui permaneceram e colocaram mãos à obra e, imaginem, apenas quatro meses após a Dipanda, estavam a ser criadas as primeiras selecções nacionais de qualquer modalidade colectiva da Angola independente, para participarmos nas jornadas desportivas de solidariedade anti-imperialistas realizadas em Fevereiro de 1976.

Dois anos depois, em 1978, estava o capitão Paulo Múrias no podium dos jogos africanos universitários de Nairobi, em representação de todos nós, a receber uma medalha de bronze, a primeira de uma modalidade colectiva da então República Popular de Angola. Segundo revelou-me ainda há poucos dias o Dr. Paulo Múrias, esta competição de Nairobi foi precisamente o momento que fez toda a diferença para aquilo que o basquetebol veio a conquistar logo de seguida, pois logo a seguir a esta prova foi tomada uma das decisões estratégicas mais impactantes, por impulso do professor Victorino Cunha: passar de três treinos semanais para três treinos diários.

Pelo historial da modalidade, desde o momento em que o Pina Cabral, o introdutor do basquetebol em Angola no tal ano de 1930, desde o impulso dado após a independência, desde as decisões técnicas que foram sendo tomadas para que nos tornássemos mais competitivos, constatamos que houve sempre alguém com capacidade e lucidez para fazer aquilo que era necessário, para fazer a coisa certa.

E hoje, numa altura em que estamos a celebrar os 93 anos de prática do basquetebol, dez anos após a conquista do nosso primeiro e único título africanos em juvenis em afrobasket e também dos nossos derradeiros em seniores masculinos e femininos, quem tem estado a reflectir sobre o nosso jogo? Que tipo de decisões estratégicas técnicas e administrativas estão a ser tomadas? De quem é esta responsabilidade?

Feliz dia nacional, querido Basquetebol.n *Presidente do Clube Escola Desportiva Formigas do Cazenga