Se vier a acontecer, o primeiro encontro presencial entre os Presidentes da Rússia, Vladimir Zelesky, e da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que propõe o meeting, em mais de três anos de guerra, vai ter lugar esta quinta-feira, 15, na Turquia, em Istambul, com o Presidente Tayyp Erdogan como anfitrião.

Mas, para que um encontro histórico como este aconteça, é preciso mais que a já disponibilidade demonstrada por ambos, mesmo que com protagonistas diferentes, vai ser necessário que os dois homens se entendam primeiro sobre se o tête-à-tête decorre com um cessar-fogo em vigor, como exige Zelensky, ou sem quaisquer pré-condições, como pede Putin antes de se meter no avião e seguir para Istambul.

Como sempre sucede nas fábulas, também esta começa com "era uma vez" dois países que estavam em guerra há três anos com largas centenas de milhares de mortos e feridos de ambos os lados e que já ninguém quer ver continuar, faltando "apenas" negociar as condições para que a vontade de todos seja cumprida.

Até que, em Moscovo, na semana passada, para garantir algum sossego durante as comemorações do 80º Aniversário do Dia da Vitória soviética/russa sobre a Alemanha nazi, na II Guerra Mundial, em Moscovo, para onde estavam convidados perto de 30 líderes mundiais, incluindo da China, o chefe do Kremlin anunciou uma trégua de três dias unilateral, pedindo que Kiev também a respeitasse.

Kiev não a respeitou e Zelensky avançou com uma contraproposta para um cessar das hostilidades de 30 dias, mantendo vagas de drones a voar em direcção a Moscovo nas horas que antecederam a gigantesca parada militar do Dia da Vitória, o que levou o antigo Presidente russo, Dmitri Medvedev, a ameaçar arrasar a capital ucraniana com a arma "secreta" russa, o míssil balístico hipersónico Oreshnik.

A verdade é que as festividades em Moscovo decorreram sem perturbações e com grande sucesso mediático, incluindo nos media ocidentais, para Vladimir Putin, o que, no dia seguinte, no Sábado, 10, os aliados europeus de Zelensky, o francês, Emmanuel Macron, o alemão, Frederich Merz, o britânico, Keir Starmer e o polaco Donald Tusk, procuraram apagar com uma reunião surpresa na capital ucraniana.

Reunião essa que tinha como objectivo diluir o sucesso de Putin em Moscovo e lançar um ultimato ao chefe do Kremlin, ameaçando a Rússia com uma nova vaga de sanções económicas se Putin não cedesse ao cessar-fogo de 30 dias proposto por Volodymyr Zelensky, encostando assim o Presidente russo à parede.

Nesse mesmo dia, depois de uma longa maratona de encontros com os Chefes de Estado e de Governo que se deslocaram a Moscovo para o Dia da Vitória, já passava largamente da meia-noite quando Vladimir Putin convocou os jornalistas para uma declaração que iria revolucionar o processo de negociações de paz com a Ucrânia e com os seus líderes ocidentais, incluindo os EUA que, nos últimos dias (ver links em baixo) se viraram claramente para o lado de Kiev depois de uma aproximação ruidosa a Moscovo feita após Donald Trump assumir o poder em Janeiro deste ano.

O Presidente russo aproveitou para lembrar que Kiev e Moscovo já estiverem à beira da paz quando em 2022 delegações dos dois países chegram mesmo, também em Istambul, a assinar um draft com as condições para parar as hostiliades e que foi rasgado por Zelensky depois de fortemente pressionado para isso pelo então primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, com apoio do norte-americano Joe Biden, epnhados que estavam em aproveitar o momento para "vergar Moscovo no campo de batalha".

Quando em cima da mesa estava um desafio de Zelensky para que Putin aceitasse um cessar-fogo de 30 dias a partir desta segunda-feira, 12, sem nenhumas pré-condições, para facilitar as negociações de paz, em Moscovo Putin desafiou Zelensky para um tête-à-tête, também sem condições prévias, em Istambul, para erguer as condições mínimas para daí avançar para tréguas sólidas e duradouras, voltando ao ponto em que estavam, em termos de negociações de paz, em 2022, ano em que a guerra começou.

O Kremlin, como nunca tinha sido feito, pela própria voz de Putin, veio dizer nesse encontro, a altas horas, com os jornalistas, veio dizer que a Rússia não irá, sob nenhumas condições, parar a sua "operação militar especial" por 30 dias sem antes resolver as "causas profundas do conflito" porque esse período só serviria para Kiev se reorganizar e rearmar com o apoio dos aliados europeus.

E quando tudo estava mais ou menos claro que o encontro de quinta-feira, 15, aceite, por princípio, por ambos, não teria lugar por falta de um entendimento mínimo para o efeito, mesmo que Zelensky já tenha dito que vai estar em Istambul à espera de Putin, bastará para isso que este pare as hostilidades, eis que em Washington Donald Trump volta a tirar um coelho da cartola.

Depois de ter atacado fortemente o seu "amigo" Putin por não querer verdadeiramente acabar com a guerra, acusando-o de querer apenas ganhar tempo, isto, depois de ter estado do seu lado contra Zelensky de Janeiro a Março, agora Trump vem, através da sua rede social, Social Truth, dizer que o ucraniano deve mesmo aceitar encontrar-se com o russo em Istambul.

Escreveu o Presidente norte-americano na Social Truth: "O Presidente Putin não quer um acordo imediato de cessar-fogo com a Ucrânia, quer antes encontrar-se na quinta-feira (com Zelensky) para negociar um possível fim para o BANHO DE SANGUE. A Ucrânia deve concordar com esse contro IMEDIATAMENTE".

Ao colocar em maiúsculas a palavra "imediatamente", Trump, como tem feito, mostra que não ficará satisfeito se Zelensky recusar ir a Istambul, e é sabido que sem o apoio dos EUA, Kiev não tem como manter a frente de batalha no terreno e nos corredores da diplomacia, tal como o sabem os seus aliados europeus em Paris, Berlim e Londres.

A ameaça de sanções feita por Macron, Starmer e Merz só tinha ainda algum poder de persuasão sobre o Kremlin, depois de dezenas de pacotes de sanções nestes três anos, se contasse com o apoio de Trump, o que pode ter deixado de ser o caso com esta declaração nas redes sociais de apoio à ida de Zelensky a Istambul sem um prévio cessar-fogo.

O norte-americano foi ainda mais longe, acrescentando que começa a ter dúvidas de que Kiev queira mesmo um acordo com Moscovo e que se isso ficar claro com uma recusa em ir a Istambul, "os líderes europeus e os EUA ficarão a saber em que ponto estamos e poderão agor de acordo".

Para já, sabe-se que a Rússia não parou as hostilidades como pedia Zelensky, como o provam as vagas de drones atirados contra alvos militares na Ucrânia nas últimas horas desta segunda-feira, 12, o que seria a condições mínima para o ucraniano se encontrar com o russo no tête-à-tête de Istambul.

Mas com a declaração de Donald Trump a exigir claramente que esse encontro ocorra nas condições anunciadas por Vladimir Putin, fica em aberto que ao Presidente ucraniano não restem outras alternativas, mesmo contra a vontade dos seus aliados europeus que este Sábado, 10, foram ter com ele a Kiev numa demonstração de força contra a Rússia, senão apanhar o avião para a Turquia.

E se esse tête-à-tête vier a ocorrer, será claramente o momento mais importante deste conflito no leste europeu desde a grande ofensiva ucraniana no Verão de 2023.