Porém, mais do que a revisão das perspectivas macroeconómicas - está tudo muito incerto e qualquer perspectiva agora tem uma forte probabilidade de ser subestimada -, são as medidas que foram avançadas que serão determinantes, não só para garantir que os efeitos externos da COVID-19 sejam os mínimos possíveis, mas que a economia continue funcional depois do levantamento do Estado de Emergência. E isso passa, necessariamente, pela disponibilização de estímulos à economia de modo a dar suporte às famílias e às empresas enquanto o período de Estado de Emergência perdurar e os efeitos da deterioração das contas externas ainda não se traduziram no sector não petrolífero da economia de forma significativa.
E aqui, os estímulos não devem ser vistos apenas na perspectiva da queda do preço do petróleo e a consequência da deterioração das exportações e receitas fiscais do Estado. Mas também da expectativa na queda da produção e do consumo interno, impostas pela redução da mobilidade das pessoas. Aqueles factos fazem da actual conjuntura particularmente interessante e desafiante a todos os níveis. Não só porque está a causar uma grande incerteza sobre a evolução da economia, mas também porque limitou a mobilidade das pessoas - que ainda são o centro de toda a economia -, e limitar a mobilidade das pessoas é penalizar todo o ciclo real produtivo de uma economia moderna.
E isto é assim para as economias do mundo como um todo e a economia angolana não foge à regra. Tudo porque, por um lado, confinar as pessoas é sinónimo de menos produtividade e menor capacidade produtiva das empresas, o que se poderá traduz em menos produção para as empresas e consequentemente menos rendimento para as famílias - através de um potencial ajustamento do número de trabalhadores e na folha salarial das empresas -, sendo este dado mais evidente em empresas ligadas ao sector da construção e dos serviços que são intensivos em mão-de-obra, e os que serão mais prejudicados, pelo confinamento das pessoas.
Por outro lado, confinar as pessoas é sinónimo de menos consumo - segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), mais de 50% do consumo das famílias é nos serviços -, o que se traduz em menos mercados para empresas e reduzido incentivo para novo investimento nos próximos tempos.
Ora, reduzir o mercado das empresas e o nível de produtividade das mesmas é sinónimo de redução da capacidade produtiva de um país. Logo, estamos a dizer que a economia poderá ajustar-se em baixa e prolongar a contracção do PIB para lá de 2020. Ou seja, com a declaração do Estado de Emergência, a capacidade produtiva do país deverá reduzir em 2020, e porque os efeitos com as perdas produtivas podem ter efeitos permanentes sobre o rendimento e empregos, os efeitos poderão ser permanentes ao longo dos próximos anos, dependendo da profundidade que a crise se materializar - encerramentos de empresas, cortes nos gastos públicos, depreciação cambial, aumento do nível de desemprego, ajustes nas despesas das famílias, etc. - e os estímulos que o Governo colocar à disposição das famílias para consumir e das empresas para manter o emprego e o ciclo produtivo funcional.

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