O overland é um termo utilizado para viagens de aventura auto-suficientes, geralmente, para destinos remotos, pouco visitados, sendo que a jornada é o principal objectivo. No overland, o propósito é incluir, pelo menos, dois ou mais dos seguintes itens: locais remotos, culturas diferentes da do viajante, regiões pouco exploradas e/ou pouco documentadas e auto-suficiência em territórios desconhecidos por vários dias, semanas ou meses.
Uma conversa com alguns overlanders demonstra o prazer que têm por Angola. Um casal de suíços que viaja há 7 meses por África com os seus cães, tendo entrado em África por Marrocos e que em Angola ficará os 30 dias permitidos pelo visto. Um casal de jovens franceses que quer explorar Calandula, as Pedras Negras de Pungo Andongo, o Morro do Moco e que traz consigo à boleia um Parisiense que foi convidado a deixar a sua cidade durante os jogos olímpicos para diminuir a pressão urbana. Um casal de espanhóis conhecedor de África e que por fim decidiu usar a brecha da isenção de vistos para, por fim, visitar Angola e as suas paragens turísticas obrigatórias e mais qualquer coisinha. Todos fascinados.
Eles falam com carinho das crianças que acenam à passagem, dos mercados coloridos onde se pode encontrar de tudo, desde frutas até peças de arte, da alegria contagiante dos angolanos, da paz e tranquilidade e do preço do combustível. Também se deliciam com a comida local, mesmo que às vezes não saibam exactamente o que estão a comer. No final do dia, quando acampam sob um céu estrelado, trocam experiências e histórias entre si. Partilham com o mundo.
Se para os pontos positivos há muitas opções, nos pontos negativos o denominador comum é o estado das nossas estradas, sejam elas principais ou secundárias. Apesar de terem as suas viaturas robustas e bem preparadas, os overlanders estão prontos para qualquer desafio... Excepto, talvez, as estradas. Sim, porque se há algo que pode testar a paciência de um santo, são as estradas angolanas.
Imagine-se a dirigir numa estrada onde os buracos são tão grandes que poderiam ser confundidos com portais para outra dimensão. Não são apenas simples buracos; são crateras que parecem ter sido criadas por meteoritos zangados com o asfalto. Em outros locais, um pouco mais remotos, a vegetação abraça as estradas com um sufoco paulatino ou irrompe no meio do asfalto aproveitando uma brecha, um rasgão, uma ravina em crescendo. Cada buraco desviado é uma pequena vitória, cada cratera superada é um motivo para comemorar.
À volta da fogueira, as boas recordações são inevitavelmente interrompidas por histórias de buracos tão profundos que os primeiros exploradores ainda devem estar a tentar encontrar o caminho de volta. Eles falam de suspensões que desistiram de suspender, de pneus que olham para os buracos e quase desistem. Claro que há sempre aquela história do companheiro de viagem que foi visto pela última vez descendo um buraco, prometendo enviar um postal quando chegasse ao fundo. Nunca mais foi visto!