Com menos de dois anos de existência, o hospital municipal de Cacuaco já apresenta "graves fissuras nas paredes", situação que de acordo com funcionários desta unidade hospitalar, tem inclusive criado muitos transtornos no abastecimento de água potável a vários departamentos clínicos.

O director do estabelecimento hospitalar, João Chicoa, confrontado com esta acusação relativa aos alegados problemas de água, nega qualquer falha no abastecimento.

"É certo que o hospital está com algumas fissuras, mas quando dizem que tem faltado água isso já não é verdade", afirmou ao Novo Jornal, acrescentando: "As fissuras devem- -se ao assentamento da infra-estrutura no terreno, mas já falámos com a direcção da empresa que construiu o hospital, pelo que neste momento só estamos a aguardar os técnicos para se iniciar as devidas reparações".

Já nas declarações, proferidas sob anonimato ao NJ, funcionários do hospital dão conta de que "os cortes acontecem quando a água começa a jorrar pelas paredes devido a problemas no sistema de canalização, danificado pelas fendas". Segundo estes funcionários, "a confusão instala-se" no período destinado aos tratamentos, quando a utilização de água torna-se indispensável.

"Isso acontece em vários momentos ao longo do dia. Designadamente quando temos de limpar o material hospitalar ou quando necessitamos de nos lavar depois de ter estado a realizar tratamentos" disse uma das fontes ouvidas pelo NJ.

Já no local é possivel observar o estado debilitado da infra-estrutura do hospital, designadamente as paredes, laterais, logo à entrada do edifício, do corredor do internamento e do departamento de urgências.

Como alternativa, contou outra fonte, várias vezes os funcionários têm de utilizar soro fisiológico para substituir a água para cumprir exigências profissionais. Por vezes, vêem-se forçados a comprar água.

"Quando a água não passa somos obrigados a utilizar soro ou comprar água mineral para cumprir com as regras clínicas", frisou.

Outro dos problemas que a falta de água está a causar é a impossibilidade de os funcionários hospitalares poderem realizar a higiene pessoal antes do regresso a casa.

"Passamos o dia em contacto com portadores das mais diversas doenças e depois vamos para casa sem um duche. Sabemos que corremos riscos de poder infectar alguém", disseram algumas das fontes ouvidas pelo NJ.

Os alegados problemas com o abastecimento de água, reflectem-se também nos pacientes internados.

Com a filha de dois anos nos braços, Marlene Baptista, de 27 anos, disse ao NJ que a falta de água é "um problema real" no hospital.

"Ainda na semana antepassada ajudei uma amiga a dar banho ao filho com água que teve de comprar na rua, porque aqui no hospital não estava a sair", declarou.

Enquanto esperava pela hora da visita ao irmão, Adelina Machado, de 47 anos, assegurou já ter visto água a escorrer pelas fissuras nas paredes do hospital municipal.

"Apenas vi uma vez. Mas a água saía pela parede da ala dos internamentos. Outras pessoas que é uma coisa que acontece muito", garantiu.

CARÊNCIA DE TÉCNICOS

A escassez de técnicos da saúde é outro problema que o hospital municipal de Cacuaco enfrenta.

Desde a inauguração, em 2012, que o estabelecimento hospitalar funciona com os mesmos técnicos, numa altura em que "a população municipal tem aumentado assustadoramente", disse uma das funcionárias ouvidas pelo Novo Jornal.

E precisou: "Há momentos em que alguns colegas das consultas externas atendem 200 pessoas ou mais. Isto não aconteceria se tivéssemos mais pessoal capacitado".

Em cada turno, no banco de urgências e internamento, ficam escalados seis e três enfermeiros, respectivamente, pelo que trabalhadores do hospital consideram insuficiente o efectivo à disposição.

Já o director da unidade, João Chicoa, confirma o lamento.

"Essa reclamação é justa. Os especialistas disponíveis são poucos o que dificulta o atendimento, ainda mais com o número de pessoas que diariamente aparecem aqui. Estamos à espera que se realize o concurso público do Ministério da Saúde, pois só desta forma é possível enquadrar outros técnicos", disse.

João Chicoa esclareceu ainda que desde 2012 que não há concurso público ao nível do sector, mostrando- -se confiante em como "este ano, com certeza, acontecerá".

Para atender a cerca de 1 milhão de habitantes do município, o hospital tem 47 enfermeiros e apenas 25 médicos, dos quais 8 são angolanos e 17 cubanos. Diariamente, em média, são atendidos 400 pacientes, divididos entre banco de urgência, laboratório, maternidade, hemoterapia e consultas externas.