Esta é a segunda frente na guerra que os EUA "declararam" ao regime de Caracas depois da destruição de dezenas de embarcações ligeiras que se fazem ao Mar das Caraíbas a partir da costa sob a alegação de se tratar de traficantes de droga.
O objectivo é já claro, depois de dois meses de presença de uma formidável força naval dos EUA no Mar das Caraíbas liderada pelo porta-aviões de propulsão nuclear USS Gerald R. Ford, o maior do mundo: forçar a queda do regime "chavista" de Nicolás Maduro.
E se tal acontecer, o que dificilmente deixará de suceder, tal é a desproporção de capacidade militar, Washington prepara-se para instalar no poder em Caracas Maria Corina Machado, a líder da oposição a quem foi entregue o Prémio Nobel da Paz.
Apesar de se ter tratado da mais polémica decisão do comité Nobel norueguês de sempre, Corina Machado recebeu o galardão, mesmo depois de ter defendido publicamente a invasão dos EUA ao seu país.
E aproveitou a cerimónia para se mostrar disponível para tomar o poder em Caracas com a ajuda de Donald Trump, a quem dedicou o prestigiado prémio, sabendo que ou Nicolás Maduro sai pelo seu pé ou através da força colocada pelos EUA ao seu serviço.
O tráfico de drogas da Venezuela para os EUA é a justificação de Washington para o assalto ao poder em Caracas, mas as organizações internacionais que se dedicam à análise desta actividade criminosa globalmente, a Venezuela não consta da lista.
A existir, trata-se de uma actividade sem relevância de maior, porque as drogas que invadem os EUA chegam ali, devido à gigantesca procura, a partir dos carteis do México, onde é fabricado o Fentanil, e a cocaína, maioritariamente na Colômbia, Peru e Bolívia.
Os analistas mais atentos a este novo foco de guerra global notam que o tráfico de droga está a ser usado por Donald Trump da mesma forma que George W. Bush usou a questão das armas de destruição em massa, comprovadamente inexistentes, para invadir o Iraque em 2002/3.
Perante os dados oficiais de organizações globais, inclusive da ONU, sobre o tráfico não ter na Venezuela um protagonista relevante, embora essa realidade esteja presente de forma inexpressiva, Trump juntou ao argumentário belicista a questão do terrorismo.
Antes de anunciar o bloqueio ao negócio do petróleo na Venezuela, o que, se for efectivamente implementado, terá um brutal impacto na economia já depauperada pelas sanções de longos anos, Trump decretou este país como "terrorista".
E agora diz que Caracas e o regime de Maduro usam o negócio do crude para financiar a passagem de drogas para os EUA e o terrorismo internacional.
Desta forma cria internamente as condições legais para assentar o passo seguinte, que foi também anunciado pelo Presidente dos EUA quando, numa conversa este segunda-feira, 15, com jornalistas na Casa Branca, disse que depois dos ataques no mar, a força naval vai atacar em terra.
Recorde-se que o porta-aviões USS Gerald R. Ford lidera uma força de uma dezena de navios de guerra, incluindo pelo menos três contratorpedeiros, cruzadores (portadores de misseis), navios de abastecimento e logística, pelo menos dois de assalto, com milhares de marinheiros a bordo, de comando e dois submarinos nucleares.
Além desta imponente força, os EUA contam ainda com largas dezenas de aviões de guerra, F-35, e de recolha de informações estratégicas, e milhares de soldados em bases na região como em Trinidad e Tobago e Porto Rico.
Esta capacidade militar naval deslocada pelos EUA para o Mar das Caraíbas, segundo vários analistas, como Henry Zimmer, especialista para as Américas no Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos (CSIS, na sigla em inglês), citado pela BBC, pressupõe uma possibilidade real de uma intervenção militar na Venezuela.
Este especialista lembra que normalmente existe actividade dos aviões de recolha de informações estratégicas P-8A, como é o caso, "sempre que a Marinha americana tenha interesse em reforçar sua consciência do domínio marítimo".
"O nível das forças, e o facto de não estarem claramente voltadas para a simples interdição de drogas, levantou suspeitas de que os EUA podem estar prontos para a guerra com a Venezuela", afirma Ziemer, do CSIS, ainda citado pela BBC.
Perante este cenário, o que pode travar esta força naval raramente vista junta e nunca tal sucedeu sem que se tenha efectivamente verificado uma intervenção militar norte-americana relevante?
A resposta, que tende a coincidir independentemente dos analistas que abordam este assunto, como o norte-americano John Mearsheimer, especialista em política internacional e geopolítica da Universidade de Chicago, é "quase nada".
Mas o "quase" pode ter nuances que permitem uma possibilidade e essa passaria por um empenho da China, que tem interesses económicos e políticos substantivos na Venezuela, com o envio de equipamento militar de defesa aérea e anti-navios para Maduro se poder defender.
Ou então a Rússia, que a acontecer, poderia justificar o apoio a Maduro com o facto de os EUA estarem há quase quatro anos a enviar, sem rodeios e às claras, biliões de dólares em material de guerra para a Ucrânia que serve para atacar a Rússia no contexto do conflito entre estes dois países no leste europeu. (ver links em baixo)
E em Caracas, onde Nicolas Maduro tem repetido as acusações a Trump que pretende apenas deitar a mão às gigantescas reservas de petróleo venezuelanas, estimadas pela Agência Internacional de Energia (AIE) em mais de 300 mil milhões de barris, os preparativos para o iminente ataque dos EUA estão a decorrer a grande velocidade.
Maduro, que acusa Trump de ser "fascista e imperialista", ordenou a dispersão de centenas de milhares de voluntários pela costa do país, armados, segundo os analistas, pobremente, apenas com armas ligeiras ou artilharia de costa antiquada, e as forças regulares estão em alerta máximo há semanas.
Embora ninguém saiba o que transportavam, alguns sites da especialidade, como o FlightRadar 24, detectaram vários aviões de carga chineses e russos no aeroporto de Caracas, sendo esta possivelmente material de defesa anti-aérea.
Há ainda informações não confirmadas oficialmente de que Moscovo fez chegar à Venezuela um contingente de algumas centenas de elementos do antigo Grupo Wagner para apoiar as forças de Maduro no manuseio de sistemas modernos de misseis antinavio e antiaéreos.
Porém, mesmo sendo real esta presença e o apoio chinês e russo, tal só poderá obstaculizar temporariamente o sucesso total dos EUA na decapitação do regime venezuelano.
E isso fica claro nas palavras do próprio Presidente dos Estados Unidos da América: "A Venezuela está totalmente cercada pela maior Armada alguma vez reunida na América do Sul", acrescentando que "ainda vai crescer mais, muito mais...".
E fechou esta quase declaração de guerra, feita na rede social Truth Social, com um aviso à navegação: "O choque que vão sentir nunca sentiram nem viram nada igual".
Perante este cenário, os próximos dias poderão "oferecer" ao mundo uma nova guerra, onde os EUA estão no seu epicentro, mesmo que Donald Trump tenha sido eleito sob um conjunto de promessas de parar as guerras sucessivas dos Estados Unidos.
E se o oráculo dos mercados petrolíferos for eficaz como costuma ao antecipar nos gráficos em que se movimenta tudo o que impacta neste negócio global, então a subida expressiva do valor do barril nesta terça-feira, 17, significa que a guerra está ao virar da esquina.
É que o bloqueio do petróleo venezuelano significa que os mercados vão ter menos matéria-prima disponível e isso resulta sem excepção na subida dos preços.














