Milhares de jovens, na sua esmagadora maioria, saíram às ruas da capital de Madagáscar, Antananarivo, naquilo que os analistas citados pelos media internacionais consideram ser um movimento que replica os protestos semelhantes no Quénia e no Nepal.
Estes protestos, a que a polícia respondeu com extrema violência, fazendo pelo menos 22 mortos e centenas de feridos, além de um número indefinido de detidos, mostram um crescente descontentamento das camadas mais jovens com a má governação do país.
Há muitos anos que o poder não era desafiado desta forma em Madagáscar, num movimento pendular que os analistas admitem poder começar a ser igualmente replicado noutras geografias, sendo marcado pelo desespero popular que surge quando já não se tem nada a perder.
E ao 3º dia de protestos, o Presidente Rajoelina viu-se obrigado, como, de resto, já acontecera no Nepal e no Quénia, a produzir alterações profundas nos Governos, que nos três casos citados, são regimes presidencialistas.
As agências da ONU nesta ilha do Índico referem criticamente a violência policial usada para reprimir as manifestações, mas também em tom de lamento as pilhagens e a violência dos manifestantes.
Se no Quénia, os protestos (ver links em baixo) foram alimentados pelo desemprego crescente, inflação e anos a fio de ausência de soluções, no Nepal o gatilho foi a censura tentada nas redes sociais, enquanto em Madagáscar são os prolongados cortes na energia e água...
Mas o que é comum a estes três exemplos, sendo que há outros casos espalhados pelo mundo, incluindo no continente africano, é que são as camadas mais jovens que lideram os protestos e exigem, por vezes com violência severa, transformações sociais e políticas.
E em Madagáscar, para já, com sucesso, porque o Governo foi dissolvido e o Presidente Rajoelina prometeu mudanças estruturais e novas políticas para ir de encontro aos anseios das populações, tal, como, de resto, aconteceu no Nepal e no Quénia... embora sem resultados ainda evidentes.
"Eu percebo a fúria popular, a insatisfação e os desafios que temos pela frente e aos quais vamos dar resposta", disse o Presidente malgaxe numa declaração ao país pelos media oficias, acrescentando que ouviu o sofrimento das pessoas que não pode ficar sem resposta rápida, pedindo desculpa pelos erros que "não se repetirão".
Por detrás destes movimentos está a denominada "Gen Z", ou geração Z, que, sem uma ligação directa entre os distintos países, é marcada pelos que nasceram já depois da década de 1990, e que, como notam alguns especialistas, bebem das redes sociais a informação e é também ali que cresce a sua vontade de mudança que depois transvasa para as ruas.