Depois da ruidosa ameaça do Presidente dos EUA, Donald Trump, de que iria disparar novas sanções contra Moscovo e do chanceler alemão, Friedrich Merz, ter criado pânico em toda a Europa anunciando que a Ucrânia podia usar os misseis de longo alcance alemães, Taurus, para flagelar a Rússia na profundidade do seu território, eis que a retoma das conversações directas entre Moscovo e Kiev volta a desinchar abrir a válvula da panela de pressão.

Isto, porque, como notava recentemente o major-general Agostinho Costa, na CNN Portugal, as ameaças de Trump são "meras palavras sem efeito e apenas para consumo interno", enquanto Merz deu conta do disparate que tinha feito ao ameaçar a Rússia com os Taurus, tendo recuado logo após se ter distraído nos limites do que pode fazer.

Trump chegou mesmo a dizer que o Presidente russo "está louco" e que foi ele que impediu que "coisas muito más" acontecessem à Rússia, ao que, perante o silêncio estratégico de Vladimir Putin, veio o antigo Presidente Dmitri Medvedev avisar Washington de que as coisas "verdadeiramente más" que devem temer "é uma III Guerra Mundial".

Mas a realidade parece monstrar que este é outra vez um momento de refluxo nas tensões inflamadas, em que a "montanha russa" está a conduzir os protagonistas deste conflito, que já leva mais de três anos e centenas de milhares de mortos de um e do outro lado, para um novo momento em que as negociações voltam a ter o protagonismo principal.

Depois de uma semana de intensos ataques e contra-ataques, especialmente com recurso a drones e misseis (ver links em baixo), enquanto nas trincheiras, as forças russas avançam lentamente mas de forma sólida e continuada, tanto russos como ucranianos voltam a apontar baterias para a mesa das negociações em Istambul, na Turquia.

Com efeito, desde a reunião das duas delegações, a 16 de Maio, a primeira presencial desde que os ucranianos abandonaram as negociações, em Abril de 2022, pouco depois do início da invasão russa, em 24 de Fevereiro, que estavam igualmente a decorrer na cidade turca, por pressão do Reino Unido e dos EUA, que Moscovo e Kiev estão a elaborar uma proposta de memorando para planear as próximas etapas negociais para um cessar-fogo ou mesmo um acordo de paz.

Na quarta-feira, 28, segundo avança a russa RT, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, estiveram ao telefone para analisar a proposta russa do memorando, e as suas condições para tornar possíveis futuras conversações com os ucranianos.

Não se conhece o conteúdo do documento russo, mas sabe-se que, mesmo no meio da chuva de drones que Kiev lançou sobre a Rússia, especialmente visando Moscovo, e a resposta russa sobre centenas de alvos na Ucrânia, Kiev veio, pela voz do seu ministro da Defesa, Rustem Umerov, anunciar que tem a sua proposta pronta e que está tudo preparado para a deleção ucraniana se deslocar para Istambul.

Isso, ao mesmo tempo que, em Moscovo, Sergei Lavrov divulgava uma proposta de data para o encontro com os ucranianos na cidade turca de Istambul, 02 de Junho, o que, analisando a aparente boa-vontade de ambos os lados, deixa claro que as vagas de ataques deixam de fazer sentido se Kiev e Moscovo pretendem mesmo dar sinais de que procuram efectivamente a paz.

E os media russos estão a avançar que o chefe da diplomacia russa informou o seu homólogo norte-americano sobre as "propostas concretas" russas para o encontro de Istambul, embora não se conheçam quaisquer detalhes oficialmente.

Mas alguns media ocidentais estão a "adivinhar" que Moscovo não vai deixar de sublinhar que quer ver aceites as suas condições históricas, como a neutralidade da Ucrânia, a aceitação da soberania russa sobre as regiões anexadas desde 2014 e a garantia dos EUA sobre a disponibilidade para desenhar um novo acordo alargado de segurança para a Europa.

Já a posição ucraniana, como tem sido referido publicamente pelo Presidente Zelensky, não mudou em nada a sua posição de querer reaver os territórios ocupados pelos russos, e, entre outras exigências, a garantia de uma força militar ocidental na Ucrânia para servir de tampão e garantia contra futuras agressões russas.

Face a estas posições claramente extremadas, mas coerentes com o que tem sido o histórico deste conflito, alguns analistas já admitem que os passos que têm sido dados no plano das conversações directas servem apenas para um e outro lado ganharem tempo e aliviar a pressão militar circunstancial, o que poderá ser o caso presente com Kiev a sofrer ataques repetidos e sem capacidade antiaérea para deles se defender.

Nos próximos dias ver-se-á se à medida que ganha corpo a possibilidade de retoma das conversas em Istambul, a vertigem da guerra diminui de intensidade, até porque em Kiev Volodymyr Zelensky, num frenesim difícil de acompanhar, ao mesmo tempo que pede mais armas e novas sanções contra Moscovo, diz estar disponível para se encontrar com Vladimir Putin para limpar o caminho da paz de forma acelerada.