"Já não é tão moderna, mas é potente e representa uma ameaça (...). Os Tomahawks podem causar-nos danos? Podem. Mas vamos desenvolver os nossos sistemas de defesa aérea. Será que vai prejudicar as nossas relações [com os Estados Unidos], onde há uma luz ao fundo do túnel? Claro que sim", disse Vladimir Putin, durante um discurso no grupo de debate Valdai, em Sochi.
O líder do Kremlin referiu que "é impossível utilizar os Tomahawks sem a participação directa dos militares norte-americanos" e que o seu fornecimento a Kiev "marcará uma nova etapa qualitativamente nova na escalada" relacionada com a guerra na Ucrânia, "incluindo nas relações entre a Rússia e os Estados Unidos".
De acordo com o vice-presidente norte-americano, JD Vance, Washington está a considerar, pela primeira vez desde o início da invasão russa da Ucrânia, em Fevereiro de 2022, a autorização do envio de mísseis de precisão Tomahawk para a Ucrânia.
Estes mísseis têm um alcance de 2.500 quilómetros e deixariam vulneráveis vários alvos importantes em território russo.
Apesar dos avisos a Washington, o Presidente russo agradeceu ao homólogo norte-americano, Donald Trump, pela sua postura "franca e directa" durante a cimeira realizada em meados de Agosto no Alasca.
"Ele ouve, ele reage. É um interlocutor à vontade, diria eu", descreveu no seu discurso, em que também respondeu à descrição de "tigre de papel" que Trump usou para se referir à Rússia, comentando que o homólogo da Casa Branca gosta de dizer "coisas duras".
Ao mesmo tempo, elogiou a postura "franca e directa" de Trump, uma vez que o objeticvo não é "dizer coisas boas", mas trocar opiniões e abordar questões complexas.
"O facto de ambos estarmos a tentar procurar e encontrar possíveis soluções para a crise ucraniana é algo positivo", sustentou.
Putin agradeceu ainda a Trump por ter organizado a cimeira no Alasca e observou que o próprio facto de a reunião ter ocorrido é um sinal de progresso no restabelecimento das relações entre os dois países.
"E isso é bom para todos, para nós a nível bilateral e para toda a comunidade internacional", frisou.
Em Sochi, o líder do Kremlin classificou, por outro lado, como absurdas, as acusações de que as forças russas estão a bombardear a central nuclear de Zaporijia, que está sob o seu próprio controlo desde Março de 2022.
"Estamos a bombardear-nos uns aos outros? Obviamente, isso é um absurdo", comentou, devolvendo a acusação para o lado de Kiev, que afirma estar a alimentar um "jogo perigoso" com ataques às infraestruturas da central nuclear situada no sul da Ucrânia.
Segundo Putin, as forças ucranianas "estão a tentar atacar a área em redor da central" e atingiram um centro de formação da instalação.
"É um jogo perigoso, e as pessoas do outro lado também deviam compreender isso. Se estão a jogar de forma tão arriscada e ainda têm centrais nucleares em funcionamento do seu lado, o que nos impede de responder da mesma forma?", questionou.
Neste momento, a situação na central está controlada, embora os técnicos russos não possam aceder a todas as áreas atacadas pelas forças ucranianas para realizar reparações, segundo afirmou o chefe de Estado russo.
Vladimir Putin disse ainda que o pessoal da Agência Internacional de Energia Atómica na central eléctrica permanece em silêncio, mas sabe o que está a acontecer.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou hoje que a central nuclear de Zaporijia está encerrada há oito dias devido a bombardeamentos russos perto das instalações, que danificaram as linhas de energia de ligação à rede eléctrica.
Zelensky solicitou à Rússia que conceda acesso a especialistas ucranianos para voltar a ligar a central à rede elétrica e restaurar o seu funcionamento.