Nesta terça-feira, 30, a razão para o desconforto em Luanda, bem como em todas as capitais onde o petróleo é quem mais, ou quase, ordena na economia, vem da OPEP+, a organização que junta os gigantes Arábia Saudita e Rússia a mais cerca de 20 exportadores.

Não apenas porque o "cartel" tem em curso uma política estranha de retoma da produção eliminada nos últimos anos para não deixar os preços encolherem demasiado, quando a oferta já supera a procura, mesmo que ligeiramente, mas porque também os seus membros estão a extrair mais que as quotas que lhes foram destinadas.

Um exemplo disso é o Iraque, que não tem correspondido, nos últimos meses, pelo menos, aos planos oficiais, mantendo uma política "fora da lei" de produzir e exportar além do que lhe seria devido pelas normas vigentes na OPEP e na OPEO+.

E agora ainda com mais vigor, porque Bagdad voltou a meter no "pipeline" global o crude da sua região autónoma do Curdistão, que, em boa verdade, é uma das suas joias da coroa na área da energia.

Claro que em pano de fundo para este cenário avermelhado nos mercados estão, agora e sempre, até ver, pelo menos, os conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente, onde, apesar de um discurso difuso e de difícil interpretação em Washington, parece que ganha a perspectiva de que tanto num como noutro sítio podem estar a emergir soluções que eram até agora inesperadas.

Porque se a impressão nos mercados fosse de agravamento iminente, como, olhando para os media internacionais, parecerá ser o caso - os mercados nem sempre estão alinhados na hermenêutica mediática -, então ao invés dos tons de vermelho, os gráficos estariam clorofilados.

E é assim que esta terça-feira, 30, o Brent, a referência maior para as ramas exportadas por Angola, estava a valer, perto das 10:30, hora de Luanda, 67,30 USD, menos quase 1% que no fecho anterior, o que corresponde a um novo afastamento da linha de água que em Angola são os 70 USD usados como valor médio anual para o OGE 2025.

Esta queda de quase 1% segue-se a uma perda na segunda-feira, 29, de quase 3%, numa descida acentuada como já não se via, recorda a Reuters, desde 01 de Agosto, igualmente pelas mesmas razões, o aumento da produção no Iraque e a expectativa de que a OPEP+ vai acrescentar, em Novembro, barris aos planos mensais de normalização da produção.

Recorde-se este retomar mensal da produção que o "cartel" enxaguou desde o já distante começo da pandemia da Covid, que chegou quase aos 6 mbpd, começou em Maio com pouco mais de 100 mil bpd e já vai, provavelmente, chegar aos 800 mil bpd no próximo mês, podendo mesmo atingir 1 mbpd até ao final do ano.

E na reunião marcada para o início de Outubro, a OPEP+ deverá, pelo menos é isso que os analistas esperam, e os países mais dependentes deste sector, temem, acrescentar pelo menos 137 mil bpd a partir de 01 de Novembro.

Apesar da luz ao fundo do túnel...

O actual cenário internacional tende a manter os preços abaixo do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD, embora sem que seja possível perspectivar o que será o advir breve devido aos por demais conhecidos imponderáveis.

Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.

Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo, que pode ser obrigado em breve a avançar para uma revisão do OGE.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, uma das razões por que abandonou a OPEP em 2023, actualmente abaixo de 1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.