Embora o conteúdo dessa conversa entre Putin e Trump exposto pelo norte-americano possa ter mais que uma interpretação, ela pode expor a assumpção da fragilidade russa para acabar com o conflito na Ucrânia pelo Kremlin.
Mas pode igualmente ter servido para Putin, ardilosamente, inculcar em Trump a noção de que este conflito já tem mais de 10 anos e não começou apenas em 2022 mas sim em 2014, com o golpe de Estado em Kiev organizado pelos norte-americanos onde foi afastado o Presidente pró-russo Viktor Yanukovich.
Ou seja, Trump, segundo noticiou o site da russa RT, divulgou a parte da conversa onde Vladimir Putin lhe confidenciou que já não tinha capacidade para acabar com o conflito na Ucrânia porque estava a tentar fazê-lo sem sucesso há mais de 10 anos.
E foi no seguimento dessa confissão de impotência que o chefe do Kremlin pediu ao inquilino da Casa Branca para que sejam agora os Estados Unidos a procurar essa solução pacífica para a guerra na Ucrânia.
O norte-americano disse que o russo o pressionou mesmo para tentar convencer os ucranianos a aceitarem uma solução negociada.
"O Presidente Putin e eu conversamos há duas semanas e ele disse-me que tem estado a tentar resolver o conflito ao longo dos últimos dez anos sem sucesso e pediu-me para tentar fazê-lo agora", avançou Trump, citado pela RT, num discurso em Miami, EUA, sobre Negócios na América.
Outra possibilidade é Trump estar a relatar esta parte da conversa como forma de desviar as atenções da catastrófrica noite eleitoral desta terça-feira, 05, nas eleições intercalares, como pode ser revisitado aqui.
Esta parte da conversa entre Putin e Trump surge em público agora quando na linha da frente os russos fazem progressos relevantes em locais como Pokrovsk e Mirnohrad, em Donetsk, e Kupiansk, na região de Kharkiv, com Kiev à beira de sofrer uma nova e pesada derrota parcial nesta guerra.
Isto, porque se, como avançam as chefias militares russas, em alegações sempre refutadas pelo Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, estas duas cidades caírem, os russos ficam com uma passagem aberta para as margens do Rio Dniepre, o que seria o pior pesadelo para Kiev porque Moscovo terá cumprido nesse momento o maior objectivo deste conflito, que era a conquista do Donbass (geografia que abrange as regiões de Donetsk, conquistada já a 75%, e Lugansk, totalmente nas mãos dos russos).
Com os media ocidentais a ceder como raramente acontece na divulgação dos avanços russos nesta frente de combate, nomeadamente no cerco, negado pelos ucranianos, a mais de 10 mil soldados em Pokrovsk e Kupiansk, eis que entra em cena a super-star de Hollywood, Angelina Jolie, para tentar ajudar Zelensky mas fazendo precisamente o contrário.
Isto, porque uma das mais salientes fragilidades ucranianas é a sua crescente falta de recursos humanos para recrutar para a linha da frente, seja porque os homens em idade militar procuram sair do país em grande número, seja porque as deserções parecem ser actualmente aos milhares.
E, para tapar estes buracos, brigadas especiais do Exército ucraniano, percorrem as ruas das cidades e aldeias do país em busca de homens em idade militar para levar à força para a linha da frente, sendo que, é aqui e Angelina Jolie, contra a sua vontade, expõe esta realidade de Kiev há muito procura esconder.
É que o tradutor da também antiga Embaixadora Humanitária da ONU, que a acompanhou à região de Kherson, a escassos quilómetros da área de combates, foi apanhado por uma dessas brigadas de recrutamento forçado e levado para um centro de treino militar.
Segundo os media e os canais das redes sociais mais próximos de Moscovo, o indivíduo foi recrutado num posto de controlo na estrada na região de Nikolaev, na cidade de Yuzhnoukrainsk, e, segundo a russa TASS, que refere imagens divulgadas na rede social Telegram, a própria Jolie foi ao local da detenção para interceder pessoalmente para a sua libertação.
Isso só foi conseguido, segundo os mesmos relatos, depois da própria actriz norte-americana ter telefonado para o gabinete do Presidente Zelensky a expor a situação...~
Entretanto, na rede social X, o comandante da 18ª brigada de assalto, "Os Lobos de Da Vinci", Sergey Filimonov, admite que as deserções massivas de soldados das fileiras ucranianas está a gerar problemas sérios na linha da frente, referindo que em apenas uma brigada recentemente formada foram registadas mais de 3 mil deserções.
E o jornal britânico The Telegraph noticiava esta semana que cerca de 20 mil militares desertam todos os meses das fileiras ucranianas, sublinhando que a justiça ucraniana já abriu 290 mil processos criminais por deserção desde Fevereiro de 2022, citando várias fontes entre as chefias militares de Kiev.
Apesar deste cenário, que tem maior relevância porque o jornal Telegraph está claramente entre os mais empenhados defensores da narrativa de guerra ucraniana, como a que está em curso actualmente, com Zelensky a negar efusivamente que a Ucrânia esteja á beira de uma derrota em Pokrovsk e Kupiansk.
Zelensky, num dos seus últimos vídeos diários, admite dificuldades nestas duas cidades mas garante que os russos estão a ser derrotados e expulsos da região.

