O apoio da Guiné-Conacri de Sekou Trouré e o do Ghana de Kwame Nkrumah para a conquista e consolidação da Independência Nacional certamente serão destacados por João Lourenço durante a sua estada nesses dois países. Estas viagens serão verdadeiros reencontros com a nossa história de libertação nacional e de afirmação como Nação livre e soberana. Essas duas nações acolheram nacionalistas angolanos e as suas famílias, disponibilizaram meios e bens para se desenvolver campanhas de divulgação e promoção destas lutas junto de outros países e instituições. Deram-lhes dignidade, nacionalidade e possibilidade de, a partir dos seus territórios, desenvolverem campanhas e condições para a Luta de Libertação Nacional.
Nestas visitas, João Lourenço terá a possibilidade de reparar certa falta de atenção com que foram brindados alguns aliados históricos ao longo dos anos, afirmar uma maior disponibilidade em cooperar e oferecer maior reciprocidade. Apesar de termos estabelecido relações diplomáticas desde 1976, foi apenas em Outubro de 2005 que Angola abriu a sua missão diplomática em Accra.
A Guiné-Conacri volta a condecorar um Presidente angolano após tê-lo feito há quase 50 anos, revelando que, nos quase 40 anos de governação do Presidente José Eduardo dos Santos, a nossa diplomacia não apostou o suficiente no reforço dos chamados "laços de amizade e solidariedade" com esses dois povos irmãos, ficando sempre nos discursos a promessa de "reforçar as tradicionais relações de amizade " com estes e outros países, cujo contributo na década de 60 foi determinante para a luta de libertação do nosso povo. É também a relação entre os povos que precisam de maior empenho, envolvimento e atenção dos políticos.
As novas gerações pouco ou nada sabem do apoio dos povos da Guiné-Conacri e do Ghana para a conquista da nossa independência. Tratam, muitas vezes, com desrespeito e indiferença cidadãos destes países que residem no nosso território. Da conversa que fui mantendo com membros dessas comunidades residentes em Angola, percebi uma enorme carência afectiva, uma forte necessidade de aceitação e valorização, uma quase exigência de tratamento formal de "povos irmãos". Reaproximar, reencontrar e reviver momentos da história de povos com lutas e ideias comuns, povos com uma história que os condena a caminhar juntos. João Lourenço terá de retribuir as recepções, a condecoração com um novo olhar, com uma nova abordagem e nova estratégia de aproximação entre os países, com uma maior aproximação entre os povos. É importante que se destaque a dimensão humana, histórica, afectiva e cultural destas visitas, pois elas estão muito além de apenas uma dimensão política, económica e comercial.
Estes reencontros com a História levam-me também ao livro de Paul A. Blake, intitulado Angola Colonial Fotografada por Missionários Metodistas, no qual se destaca o papel de missionários metodistas americanos, canadianos e ingleses da Igreja Metodista Unida e o trabalho de educação, evangelização, formação cívica, académica e cultural que providenciaram a angolanos de várias partes. Um trabalho de formação e valorização de cidadãos angolanos. Homens que longe dos seus lares fizeram de Angola a sua Pátria e criaram fortes laços de irmandade com os angolanos.
O desporto também fazia parte deste processo de formação, desenvolvimento e inclusão social. E aqui fica a honra e memória de Burl G. Kreps, um antigo missionário A-3 e antiga estrela do basquetebol universitário dos EUA que criou, no seio da Igreja Metodista, uma equipa de basquetebol. O Reverendo Burls G. Kreps morreu nesta quarta-feira, 28 de Julho, aos 90 anos. Recordo aqui uma fotografia do livro acima citado, feita em 1957, do então treinador Kreps e a sua equipa, em que se destaca o jovem José Eduardo dos Santos, com apenas 15 anos de idade, e uma outra no início da década de 90, com José Eduardo já na qualidade de Presidente da República de Angola. Outro reencontro com uma parte e figuras interessantes da nossa história!