Com o mundo a assistir à consolidação do fim da mais severa crise económica em largas décadas, o petróleo, que foi a matéria-prima que mais sofreu com o surgimento da Covid-19 no início de 2020, está agora a recuperar a passos largos à medida que as grandes economias mostram sinais evidentes de recuperação, como é o caso dos EUA, da União Europeia, China, Índia... sendo, precisamente o alto preço dos combustíveis a ameaça mais directa a essa recuperação.

O barril de Brent, vendido em Londres, que norteia a evolução do valor das ramas exportadas por Angola, referente a contratos para Dezembro, estava hoje, perto das 09:30, hora de Luanda, a valer 86,20 USD, mais 0,70% que no fecho da anterior sessão, enquanto em Nova Iorque, no WTI, valia, à mesma hora, com contratos para Novembro, 84,45, mais 0,86%.

A valorização registada hoje, segundo avançavam a essa hora as agências, devia-se a um acelerado aumento da procura de combustíveis nos Estados Unidos, que, aliado à escassa oferta, tem estado a esvaziar os stocks norte-americanos, o que é um sinal para os mercados de que a matéria-prima é, cada vez mais, valiosa.

Os EUA são o maior consumidor global de petróleo e os valores actuais de combustíveis debitados pelas refinarias que alimentam o sector automóvel e o sector industrial não têm parado de subir, com um efeito esvaziador das reservas do país, apesar de a indústria extractiva ligada o fracking estar a tentar responder com uma crescente reabertura de unidades que foram encerradas em 2020 devido à crise pandémica.

Em fundo, os factores determinantes para a valorização continuam presentes, como seja a saída da crise pandémica com a crescente vacinação em todo o mundo, embora mais lenta nos países pobres, especialmente os africanos, e o apertado e, aparentemente, inamovível programa de retoma da produção na OPEP+, a organização que junta os 13 Países Exportadores (OPEP) e 10 aliados, com a Rússia à frente, que desde 2017 unem esforços para manter o mercado equilibrado.

Este programa de cortes e retoma da OPEP+ tem como marca determinante a manutenção de aumento de produção de 400 mil barris por dia mensalmente, até Dezembro, tendo começado em Julho, embora as grandes economias, como a União Europeia, esta a viver uma severa crise por causa do elevado preço do gás natural, e os EUA, mantenham uma pressão assinalável para que o "cartel" aumente de forma mais robusta a sua produção diária.

Note-se que os actuais preços são de modo a proporcionar uma interessante folga nas contas públicas nacionais porque o OGE 2021, em vigor, foi elaborado com o barril a um valor médio de referência de 39 USD, o que leva a que os actuais 86 permitam uma folga relevante.

Este momento é especialmente bom para um País como Angola que, apesar de estar a atravessar uma das suas mais graves crises, especialmente desde 2014, quando o barril passou para baixo dos 100 USD em quase uma década, tem ainda nas exportações de crude um pilar estrutural da sua economia, valendo mais de 95% das exportações, 60% do dinheiro gasto pelo Estado e mais de 30% do seu PIB.