Os analistas que ouviram as palavras do Presidente dos EUA, muitos deles incrédulos, outros nem por isso, porque em alguns meios esta ida de Joe Biden à capital ucraniana já estava no quadro das possibilidades, mesmo que nas mais remotas por causa do risco efectivo que correu, não estranharam a repetição das palavras de incentivo à continuação da guerra até que o Kremlin esteja de joelhos, mas já admitem que estas palavras, com uma retórica mais abrasiva, incluindo a ideia de que o Presidente Vladimir Putin não percebeu o erro que estava a cometer quando mandou as suas forças atravessar a fronteiras ucraniana, a 24 de Fevereiro de 2022, e que, com o apoio ilimitado do ocidente, a invasão russa está condenada ao fracasso, pode alterar o conteúdo do discurso que o chefe do Kremlin anunciou para esta terça-feira, 21, no qual se espera um balanço de um ano de guerra e as novas perspectivas de Moscovo para o evoluir do conflito.

Este encontro entre Biden e Zelensky teve lugar numa das mais importantes catedrais da cidade, a Catedral de Mikhailovsky, contando com uma forte presença militar para garantir a sua segurança.

Ao chegar a Kiev, Biden não perdeu tempo e anunciou novas remessas de armamento, sendo os radares sofisticados, a única semi-novidade, para a Ucrânia, embora não tenha feito o que seria de esperar nestas circunstâncias, onde repetiu o que já se sabia, faltando dizer que mais armas incluirão aviões de guerra e novos misseis com maior alcance.

Isto, porque o que os ucranianos estão à espera é de misseis de longo alcance (que estão em stand by), que os carros de combate pesados M1 Abrams cheguem sem demora e que, o mais importante, os aviões de guerra F-16, que muitos analistas dizem que podem levar esta guerra entre a Rússia e, como o Kremlin tem repetido, a aliança da Ucrânia com todos os membros da NATO, para um patamar mais relevante e, embora a hipótese seja ínfima, abrindo caminho a um conflito nuclear de escala aniquiladora da Humanidade como se conhece.

Alias, alguns analistas admitem mesmo que o discurso de Vladimir Putin de terça-feira poderá ter como ponto fulcral um aviso ao ocidente/NATO de que o envio de aviões de guerra para as forças ucranianas fará com que as bases de retaguarda a partir das quais vão operar, quase certo nos países limítrofes, como Polónia e Roménia, passam a ser alvos legítimos das forças russas, o que colocará, se tal vier a acontecer, este conflito no leste europeu na rota do Armagedão, porque a NATO teria de activar o Art. 5º, aquele que obriga todos os membros a apoiar o aliado alvo da agressão.

Isto, porque os analistas militares sem excepção entendem que não existem condições de segurança para que os caros e sofisticados aviões de guerra ocidentais posssam operar nos aerodromos ucranianos, todos eles debaixo de mira dos misseis e drones russos, sendo, por isso, incontornável o recurso às bases da NATO na Polónia e na Roménia, os mais próximos da frente de batalha.

O "presente" de Biden, mais armas e a repetição de que os EUA vão manter o fluxo de armamento contínuo e sem limites para Kiev, surge no início da semana em que se comemora o 1º aniversário da guerra, na próxima sexta-feira, 24, foi entregue ao som das sirenes de aviso de ataque iminente de misseis russos à capital ucraniana, embora seja claro que se trata de mais um elemento desta coreografia de guerra e propaganda para as centenas de media que estavam com Biden em Kiev porque Putin jamais iria atacar a cidade com o Presidente dos EUA na condição de visitante e aliado do seu inimigo, o que seria o despoletar de uma catástrofe planetária caso BIden fosse atingido..

Neste discurso, Biden falou da Ucrânia como uma democracia e voltou a repetir a ideia de que na linha da frente da guerra com a Rússia está também a linha da frente da luta pela e democracia entre a estridência das autocracias e o perfume da liberdade, como se fosse possível esquecer que a Ucrânia era, antes de 24 de Fevereiro do ano passado, apontada em todos os media ocidentais como um dos países mais corruptos do mundo e onde dezenas de partidos foram extintos e centenas de opositores foram presos pelo regime de Zelensky, antes e depois do confronto militar com o vizinho do leste.

Joe Biden disse que "Putin pensava, quando lançou esta invasão, que a Ucrânia era fraca e o ocidente estava dividido, mas estava totalmente errado", acrescentando que os EUA estão "total e sem dúvida comprometidos com a democracia ucraniana, a sua soberania e integridade territorial", o que volta a colocar Washington e os seus aliados da NATO na linha da irreversível ajuda sem limites a Kiev para recuperar todo o território ocupado pelos russos, incluindo a Península da Crimeia, integrada na Federação Russa em 2014, e as quatro província anexadas em 2022, Kherson, Zaporijoia, Donetsk e Lugansk.

Ou seja, se este cenário for tido em linha de conta na totalidade do seu significado, o que Joe Biden foi a Kiev dizer é que os EUA e a NATO estão disponíveis para uma guerra nuclear com a Rússia, porque as autoridades russas, incluindo o Presidente Putin, já disseram que a saída destes quatro territórios é impensável e inegociável, e que, se a guerra evoluir para uma linha vermelha existencial para o todo russo, as armas nucleares vão sair dos arsenais...

Nas breves declarações de Zelensky, ficou claro a sua satisfação com esta visita, agradecendo a reafirmação do apoio ilimitado, defendendo que, com esta visita, a vitória ucraniana ficou muito mais próxima.

Certo e seguro é que estas palavras de Biden em Kiev vieram dar um novo interesse ao discurso de Putin de terça-feira.

Joe Biden também vai discursar em Varsóvia, capital da Polónia, nesse mesmo dia, terça-feira, 21.

Moscovo calling

Na resposta de Moscovo a esta visita relâmpago de Biden a Kiev, o Kremlin fechou-se em copas, mas uma analista do Instituto Mundial para a Economia e Relações Internacionais da Academia Russa de Ciência, Viktoria Zhuravleva, veio dizer o Presidente norte-americano procura com esta cartada ganhar aprovação pública para a corrida eleitoral de 2024, onde, provavelmente, voltará a defrontar o antigo Presidente Donald Trump.

Citada pelo Sputnik News, esta analista russa entende que Joe Biden atravessa um momento de escassa aprovação engtre os eleitores norte-americanos e viu nesta ida a KIevuma oportunidade para reduzir esse mau momento.

"Esta tentativa de influenciar o seu `rating" eleitoral nos EUA com um aumento no apoio à agenda de Kiev, visando a apresentação de resultados para o gigantesco investimento na Ucrânia , porque a oposição republicana vai claramente apostar na crítica a essa sua opção", apontou Zhuravleva.

E acrescentou que nas eleições e campanha que se aproxima, Biden "precisa de justificar com resultados o imenso e ilimitado apoio que concedeu a Kiev, nomeadamente em armas e dinheiro" que têm agora de "garantir algum retorno", ao mesmo tempo que vai agora "garantir que parece que exige às autoridades ucranianas justificação para esse gastos gigantescos".

Recorde-se que desde o início da guerra entre equipamento enviado e as verbas atribuídas a Kiev, os EUA ultrapassaram os 50 mil milhões USD em 2022 e já este ano de 2023, cerca de um mês e meio, aproxima-se dos 4 mil milhões de dólares.

No todo ocidental, o volume de ajuda entre os membros da NATO - EUA e Europa ocidental - atingiu já os 115 mil milhões USD.