O aquecimento global está por detrás deste ciclo de devastação planetária que incide com especial intensidade no continente africano e este é essencialmente provocado pela poluição resultante de gases com efeito de estufa, maioritariamente provenientes da queima de combustíveis fosseis - Petróleo, carvão e gás natural -, devastação de florestas tropicais, como a Amazónia, na América do Sul, ou a floresta húmida africana, e ainda da intensiva criação de gado bovino.

Os períodos de seca que todos os anos atingem as províncias do sul de Angola, segundo este estudo, serão mais prolongados ainda e a geografia abrangida tende a aumentar, com mais áreas afectadas, das províncias do Cunene, Kuando Kubango, Huíla e Namibe, avançando para as províncias vizinhas, como Benguela ou o Huambo, o Bié e o Moxico.

Por outro lado, as cheias, resultantes de chuva anormalmente intensa, vão surgir com mais regularidade, igualmente fruto das alterações climáticas geradas pela polição atmosférica, a que se junta, como é sabido, a poluição dos mares com milhões de toneladas de plástico, que, segundo outros estudos, até 2050 vão fazer com que a massa/peso de peixe nos mares do mundo seja menor que o peso de plásticos, levado progressivamente à extinção de espécies marinhas.

Esta poluição é em grande medida resultado do uso intenso de sacos plástico e de invólucros de plástico de utilização única que, por exemplo, nas cidades africanas, entopem os cursos de água urbanos e acabam, mais cedo ou mais tarde, por ir parar ao mar, levando a que muitos governos - não é o caso ainda de Angola - já tenham proibido a utilização de sacos plástico como aqueles fornecidos nos supermercados, por exemplo.

Uma das consequências mais dramáticas dadas a conhecer e antecipadas por este estudo britânico divulgado hoje pela imprensa do Reino Unido, é a forte diminuição das colheitas agrícolas, levando a que as populações africanas em forte crescimento - por exemplo, Angola deverá ter mais de 50 milhões de pessoas dentro de uma década e cerca de 70 milhões em 2050 - sintam cada vez mais dificuldades em aceder a uma alimentação suficiente.

As cheias, em resultado de intensas tempestades, ciclones e tornados... vão ser cada vez mais devastadoras - os ciclones que varreram Moçambique já este ano foram considerados os mais intensos de sempre -, provocando igual destruição na capacidade de produção alimentar com especial enfoque no continente africano.

Citada pelo The Guardian, Elizabeth Kendon, do Met Ofice, entidade autora deste estudo, afirmou que "essencialmente, foi reelado agora que em África as condições extremas do clima vão aumentar ainda mais de intensidade e capacidade de destruição", fazendo um sublinhado para o facto de estes fenómenos meteorológicos virem a ser mais frequentes fora de tempo, coincidindo com as épocas de crescimento das colheitas.

Como exemplo para este drama em curso para a humanidade, foi avançado que os níeis de dióxido de carbono na atmosfera, a principal fonte do aquecimento global, foi, em Maio deste ano, de 415 partes por milhão, que em ordem de grandeza exemplificativa pode ser melhor percebido se se souber que estes valores são os mais altos desde o aparecimento do Homo Sapiens, e estes números trágicos não vão parar de aumentar nos próximos anos, sendo, como nunca foi, uma emergência global travar já as fontes emissoras de poluição via gases com efeito de estufa.

No que toca às cheias, este estudo do Met Office, em colaboração com o Instituto de Ciências Atmosféricas e Climáticas do Reino Unido, publicado na Nature Communications, aponta como em maior risco as regiões africanas ocupadas pela Nigéria, RDC e República do Congo, Níger, devido à localização mas também devido ao facto de serem dos países com crescimento populacional mais acelerado.