"Eu, quando notei que havia 4.500 fantasmas fui procurar o comissário Ambrósio de Lemos e expliquei-lhe que na escola havia duas folhas de salário, sendo a verdadeira de 600 efectivos e a falsa composta por 4.500. O comandante Ambrósio de Lemos disse-me 'Massota volta para a tua unidade que eu vou resolver o problema'".

Segundo Massota, "a situação manteve-se", e, após a entrada do comissário Panda, foi exonerado, "porque poderia manchar a imagem da Polícia Nacional se revelasse estes segredos".

O oficial, que chegou a esta Escola de Polícia, em Luanda, em 2013, oriundo do comando provincial do Zaire, aconselhou ainda os magistrados a irem até ao Comando Geral da Polícia Nacional na direcção do departamento que processa os salários para melhor analisarem as folhas de salários de 2005 a 2017, data em que foi exonerado.

Disse ainda para contactarem o Ministério das Finanças porque as folhas encaminhadas eram alteradas a partir do comando geral.

"Na polícia há muitas coisas ilegais, aconselho os órgão competentes a inspecionarem bem o Comando Geral da PN pois aí existem muitos 'gatos'"

Ontem, na segunda sessão do julgamento, o comissário Massota negou ter recebido qualquer verba a troca de ajudar indivíduos a ingressar na corporação, admitindo, todavia, ter recebido envelopes, que não abriu, fazendo-os chegar a outro oficial, tendo, posteriormente sido verificado que estes continham cerca de 900 mil Akz cada.

Estes envelopes foram-lhe entregues pelas agentes Elisandra Tomás e Márcia Crispim, arroladas no processo, para agiliza a entrada de jovens na corporação, mas que os fez chegar ao comandante do Posto de Comando da Unidade de Protecção Diplomática, Manuel Kanumuene, entretanto falecido, em 2016.

Massota afirmou que não chegou a abrir os envelopes e que foi o malogrado que prometeu levar o processo aos Recursos Humanos da Polícia Nacional, onde dizia ter pessoas de confiança.

Explicou ainda, questionado pelo juiz, que o sub-comissário Manuel Kanumuene o informou que em cada envelope havia 900 mil kwanzas.

O réu disse em tribunal que como os casos não foram agilizados, após a morte do chefe do comandante da Unidade de Protecção Diplomática, entendeu tirar do seu dinheiro a quantia de 1,8 milhões de kwanzas para fazer a devolução às lesadas, através do seu guarda-costas.

A sessão do julgamento, que começou no passado dia 18, continua esta tarde.