Além das ameaças sulfurosas dos ministros dos Negócios Estrangeiros polaco, Radosław Sikorski, e do Reino Unido, Yvette Cooper, também o Presidente Checo Petr Pavel, defendeu o abate de aviões russos que entrem no espaço aéreo da NATO, tal como já tinham feito os Governos dos Países Bálticos, Estónia, Letónia e Lituânia.

A isto, mesmo antes do encontro em Nova Iorque entre Donald Trump e Volodymyr Zelensky, e depois de duas semanas marcadas pelos alegados testes russos à reacção da NATO com 19 drones desarmados a entrarem nos céus da Polónia e três MIG-31 no espaço aéreo da Estónia, sobre o Mar Báltico, com os sistemas de rádio e de identificação desligados, Presidente russo respondeu garantindo que "A Rússia está preparada para responder a todas as ameaças com a força".

Num encontro do Conselho de Segurança da Rússia, Vladimir Putin respondeu a estas duas semanas de aumento do volume do tom das ameaças dos países europeus da NATO, e depois de o seu porta-voz, Dmitry Peskov, e o Ministério da Defesa da Federação Russa terem garantido que nem os drones nem o episódio dos MIG-31 foram propositados ou sequer existiram, num tom de rara crispação com um aviso: "A força terá como resposta a força".

O chefe do Kremlin disse ainda neste encontro da cúpula da segurança russa que está a ocorrer uma aceleração na "deterioração da estabilidade estratégica" entre a Rússia e a NATO, que defende ter origem em factores negativos que "provocam o agravamento dos riscos estratégicos conhecidos ao mesmo tempo que criam novos e mais perigosos riscos de desestabilização" do contexto das potências nucleares.

O Presidente russo sublinhou, sempre citado pela agência TASS, que Moscovo "prefere e prioriza as soluções políticas e diplomáticas para manter a paz baseada no princípio dos direitos iguais, segurança indivisível e respeito mútuo pelos interesses de cada qual" mas afirmou que os países da NATO devem estar cientes de que a resposta russa às ameaças estratégicas "não com medidas militares e tecnológicas e não com palavras" mesmo não estando interessada em "qualquer escalada".

Por detrás deste contexto de rara efervescência entre russos e os aliados europeus de Kiev e membros da NATO estão os episódios (ver links em baixo) da alegada intrusão de drones e aviões russos nos céus da NATO que, apesar do Kremlin garantir que são invenções, ou operações, no caso dos drones, de "falsa bandeira" ucraniana, o analista militar major-general Agostinho Costa entende que são "testes dos russos às capacidades de reacção da NATO" onde a organização militar Atlântica "chumbou" claramente.

E foi por isso, recorda, que países como o Reino Unido, a Itália ou a Noruega enviarem aviões de guerra para as fronteiras leste da NATO de forma a proteger este geografia de novas incursões russas, com cada vez mais líderes europeus a defenderem uma escalada severa com o abate imediato dos aviões russos que voltarem a cruzar os céus soberanos ocidentais.

Alguns analistas, como o antigo elemento da intelligentsia suíça colocado na NATO, coronel Jacques Baud, autor de vários livros sobre o conflito no leste europeu, esta escalada é uma "fuga para a frente" na Europa Ocidental face ao recuo persistente dos americanos do conflito na Ucrânia e uma estratégia para "forçar Donald Trump a ficar ao lado dos seus aliados" contra a Rússia.

Isto, porque, tal como Agostinho Costa, Jacques Baud ou o norte-americano John Mearsheimer, professor da Universidade de Chicago, uma das mais respeitadas autoridades em política internacional, entendem, em síntese, que os países europeus, mergulhados em graves crises económicas, e sem músculo militar para substituir os EUA no apoio a Kiev, procuram desta forma criar uma espécie de areias movediças que prendem Washington ao esforço de guerra ucraniano.

Ou isso, ou na Casa Branca a percepção é mesmo que os russos estão a atacar os seus aliados europeus, que, pela segunda vez em duas semanas, uma situação rara, ou única na história da NATO, activaram o Art. 4º, que obriga os Estados-membros a analisar em reunião de urgência se determinada situação corresponde a uma agressão ou não, que pode levar à activação do Art. 5º, que impõe o ataque concertado da NATO ao agressor.

Para já, nas duas vezes, a NATO ficou pelo Art. 4º, mas se há uma meta que Zelensky pretende é convencer hoje Donald Trump a secundar os seus aliados europeus, como os polacos, checos ou os Bálticos, a avançar para uma maior fricção com Moscovo, naquilo que seria concluir o grande objectivo do ucraniano que é ver deflagrar uma guerra total entre russos e a NATO, com, por exemplo, a criação de uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia.

Neste encontro entre Trump e Zelensky, em Nova Iorque, à margem da reunião da Assembleia-Geral, para marcar o 80º aniversário das Nações Unidas, os dois líderes têm nas mãos a capacidade de acelerar a fricção entre russos e europeus ocidentais ou acalmar os ânimos.

Mais uma vez, Trump baralha e dá as cartas sem escolher um lado concreto, porque antes deste momento disse que Zelensky "vai ter de fazer um acordo com Putin" ao mesmo tempo que garantiu aos jornalistas, em Washington, que se os russos atacarem os países Bálticos ou a Polónia, os EUA vão "defender os aliados da NATO".

A única certeza deste momento histórico, onde uma fagulha pode incendiar o paiol, é que sem os Estados Unidos da América, os europeus não passarão das palavras ameaçadoras, e das tentativas de provocar os russos, enquanto estes, sabendo que sem Washington, os europeus nada farão de concreto para iniciar as hostilidades, vão testando as capacidades da Aliança Atlântica, porque, como disse Putin, em Moscovo prepara-se tudo para um cenário de... fogo real.

Enquanto isso, com todas as evidências disponíveis, no campo de batalha a Ucrânia atravessa o seu pior momento e os seus líderes militares já assumem sem sublimações que as dificuldades podem não ser superáveis, seja na arregimentação de novos soldados para suprir as baixas em combate, seja no acesso ao armamento mínimo para continuar a resistir ao avanço dos russos.

Isto, ao mesmo tempo que os ucranianos estão a obter cada vez maiores sucessos nos ataques com drones e através de unidades de operações especiais à infra-estrutura energética russa, causando graves disrupções não apenas nas exportações russas mas também no garante das necessidades internas em combustíveis.

De um e do outro lado sobram razões para acabar com a guerra. E o encontro em Nova Iorque pode ajudar a esse desfecho.